quarta-feira, abril 28, 2004

Bom Dia!

De tarde

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde



Podemos acordar de manhã a pensar na tarde. A congeminar pic-nics, burgueses ou não. A lembrar que na Primavera as papoulas “sangram” os granzoais. A imaginar seios cobertos de rendas. Só não podemos é deixar uma manhã partir sem vos desejar um muito bom dia!

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