597. Conto (IV)
Horas e horas sem me alimentar, atentava-me uma mesa assim. Não sabia a composição dos alimentos, mas isso não era importante. No entanto, permaneci imoto. Seria imperdoável tomar a iniciativa. Mais que imperdoável, inadequado e imbecil. O chefe tinha um aspecto rude, a atingir laivos de imane. Qualquer tentativa, mesmo que imaculada poderia ser considerada uma imisção nos costumes. Esperei. A cena que se seguiu é imperdível, mesmo para um observador externo. Dois jovens, um rapaz imberbe e uma moça implume, aproximaram-se, nus. Alguns dos indígenas desviaram-se abrindo caminho para o jovem par. O que se passou de seguida é, para um leigo nos costumes, inarrável. Como que impetrando, os olhos da rapariga dirigiram-se a mim. Não teria mais de 16 anos o que me começava a incomodar. Embora celibatário, qualquer relação que pudesse haver entre nós me pareceria ímpia. Mas, as circunstâncias, não me permitiriam impeticar com os anfitriões. Deu-me a mão e obrigou-me a levantar. Uma a uma, num ritual de sensualidade, retirou-me as vestes. Senti-me impotente para parar aquela espiral de emoções. Nunca fui casado, nunca tive filhos, mas qualquer acto que eu cometesse me acometia de incestuoso. Se alguém, da minha cultura, me visse, face a tão inusitados preparos, me acharia inábil. No entanto, o jogo iria continuar.
(continua)
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