quinta-feira, dezembro 04, 2008


1305. Sem tema

Hoje acordei com tanta vontade de escrever que até as pontinhas dos dedos estavam excitados. Quedei-me , no entanto, uma vez mais num dos meus useiros e vezeiros dilemas que me deixam assim como que meio atrofiado. Não sabia se haveria de escrever sobre um tema quente da actualidade ou se haveria de me remeter aos habituais faits-divers que entretêm e deixam que por momentos nos esqueçamos da crise (crisis? what crisis? Supertramp, 1975). Bom, temas quentes da actualidade é quase um obsceno contra-senso. Com o briol que tem estado nestes dias (não repararam ainda, vós que ledes a blogosfera de fio a pavio que não há blogger ou bloggera que ainda não tenha falado do frio, como se o normal, nesta época do ano em Portugal, fosse fazer aquele calorão de rachar?), não há temas quentes. Ups! Acabei de me juntar ao grupo, também falei do frio. Quanto ao fait-diver, que contrapõe a temas importantes mas muito desinteressantes, temas interessantes mas que não têm a mínima importância (onde é que eu já li isto?), o busílis da questão foi ter por onde pegar. Quando fiz (desfiz, para os meus amigos do Norte, carago!) a barba ainda esperei que o meu espelho me dissesse algo, mas ele limitou-se a assobiar o que, diga-se de passagem, não foi muito propositado já que me salpicou todo de espuma de barbear, podia também falar-vos dos meus gatos mas não seria tão interessante como falar daquele gato do dono de um restaurante – passava há pouco um documentário no NGC – na Tailândia onde o calor era tanto que o gato ia dormir para o frigorífico, fui ao café e que, incluindo os três estrangeiros que lá estavam, digo isto porque quando eu disse “bom-dia” em alto e bom som nenhum respondeu, só podiam ser estrangeiros que não perceberam patavina, nada de interessante se passava por lá. Ninguém a falar mal da ministra da educação, nenhum pai, por acaso não filiado na Associação Nacional de Pais (já agora gostava de saber quantos são) chamava nomes aos professores e nem aquele boçal que lá costuma estar a dizer que isto só lá vai é com outro salazar, pairava por aquelas bandas. Li o jornal desportivo e não encontrei ninguém a falar mal do Scolari ou a elogiar o Queiroz, hoje era só Cristiano para aqui, Ronaldo para acolá, os frangos do guarda-redes Quim parece que já estão esquecidos, acabei por, um dia mais cedo do que o habitual, o que me vai deixar sem tema para amanhã, por, dizia eu, ir de novo meter os papeis para a reforma e regressar ao escritório. E de repente EUREKA, já sei , vou escrever um poema sobre o mar. E já me saiam as primeiras estrofes oh mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal, quando me lembrei que isto já tinha sido escrito por alguém antes de mim. Fiquei tão deprimido que resolvi não escrever a ponta de um corno e limitei-me a postar uma fotografia de Olga Volodina.

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