terça-feira, dezembro 06, 2005

877. O 25 de Novembro contado aos senhores telespectadores

Ontem assistiu-se na RTP1 a mais um Prós e Contras, este sobre o 25 de Novembro de 1975. Em primeiro lugar gostaria de referir o estúpido (propositado?) erro de casting de um programa que costuma contrapor duas correntes no tratamento de um tema, ou seja, como a próprio nome indica, uma pró outra contra.

E o que vimos? Um Otelo Saraiva de Carvalho, patético, que não estava lá a fazer nada pois segundo ele, e não desmentido pelos outros, não preparou nem participou em nada que tivesse a ver com o 25 de Novembro. Aliás Otelo, ontem, ou já está gagá e portanto tudo o que disse vale o que vale, ou então mostrou que aparte o 25 de Abril não teve qualquer outra influência nem política, nem militar. Apresentou-se como o militar ingénuo, sempre enganado ou desleixado como uma “Maria vai com as outras”. Esteve na Revolução para assinar papeis redigidos por outros, para dizer que “sim” e que “está bem”.

Por outro lado, o painel era constituído por 4 individualidades, a saber, Tomé Pinto, Castro Caldas, Sousa e Castro e Ramalho Eanes, todos eles do lado dos que “venceram” o 25 de Novembro. Do lado dos chamados “derrotados” não estava ninguém. E deveria ter estado?

De facto, a população civil armada, eram militantes do PS a quem os militares cederam armas. O PPD, pela voz de Castro Caldas recusou essa oferta pois tinha outros meios para se armar. Havia uma esquadra muito bem preparada de meios aéreos em Cortegaça. Os comandos da Amadora preparados para atacar os “revoltosos”. O ELP e O MDLP preparados para o que desse e viesse. E do outro lado? Uns pára-quedistas que se renderam nos primeiros momentos e 3, vejam bem 3, majores que controlavam a PM e que não quiseram obedecer ao Presidente da República. Ah, há mais. Havia a extrema-esquerda que, com a votação nas eleições de 25 de Abril de 1975, tinha mostrado a todo o País que não tinha qualquer apoio popular.

Então para que serviu toda aquela encenação? Pura e simplesmente para afastar o PCP e o Vasco Gonçalves dos órgãos de poder e tentar ilegalizar quer o PCP, quer toda a extrema esquerda, não fosse o atalho percorrido por Melo Antunes, não sei se corajoso, se com medo de algo que pudesse vir da ex-URSS.

E pronto, foi assim que, se fosse preciso, com um programa televisivo pessimamente elaborado, como o de ontem, mais uma vez se veio informar os senhores telespectadores que a Direita e a Extrema-direita, conluiadas com o PS de Mário Soares deram um Golpe de Estado para evitar uma guerra civil. Contra 3 majores!

E felizmente! Assim temos uma democracia que não nasceu do 25 de Abril, mas sim do 25 de Novembro e que em trinta anos de governação de Direita, muito bem secundada pelo PS já conseguiu fazer coisas maravilhosas. O nosso País na Europa dos 25 já (ainda) não é o último, isso era na Europa a 15, só temos 26% da população na pobreza, ou seja uns míseros 2 milhões e 600 mil, só temos alguns desempregados, coisa pouca, apenas meio milhão, temos uma filita de espera para cirurgias na ordem dos 200 mil, mas o que é que isso interessa, temos alguns corruptos, é verdade, mas são poucochinhos, e temos a ponte Vasco da Gama, 10 estádios de futebol novinhos e o Centro Cultural de Belém.

Viva o 25 de Novembro!

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