quinta-feira, maio 25, 2006

973. Frutas II



Coloquei-te na mesa, e tu te abriste
Em racha de onde a pevide já espreita,
Tarda o tempo em que te vou comer.









Num ritual de preliminares feito,
Apalpo-te o bojo e oiço sons
Que de dentro emites, como queixa;
- e olhas-me o instrumento já em riste.
Mas antes que te prepare o fino leito
Admiro-te a pele (de vários tons)
E como que à espera de uma deixa
Coloquei-te na mesa, e tu te abriste.

Não estás intacta, dá para ver
Teu interior vermelho, reluzente.
A água que me escorre já da boca
Que de pecaminosa gula se deleita
Quer que avance sem mais tempo perder.
E prestes chegarei com ar demente
E mordo e chupo e lambo, à louca,
Em racha onde a pevide já espreita.

É agora. Meu desejo mais não espera,
Que de esperas poderá desesperar.
E apareces-me assim feita talhada,
E no centro um castelo de prazer
Da arte de cortar a linda esfera.
Melancia, que a sede faz matar
Como se fora sede saciada.
Tarda o tempo em que te vou comer.

O PreDatado, in Frutas e outros comeres



foto deliciosamente gamada no Google Images

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