terça-feira, janeiro 24, 2006

907. Cuidado com as palavras

Apesar de ter falado pouco, do que aliás sempre foi acusado por outros candidatos, o presidente eleito no passado domingo sempre foi dizendo algumas coisas. E dos seus silêncios ou das suas considerações conseguiu obter uma maioria de votos que lhe permitiu atingir o topo da hierarquia cá do burgo. Não sabemos se a partir de Março, quando o presidente eleito passar a presidente de facto, vai ou não gorar as expectativas dos que nele votaram.

Transpondo aqui para o espaço onde escrevo, não será pelas minhas omissões, mas sim por aquilo que digito, que de vez em quando estou a gorar as expectativas de quem me visita. No entanto, se ainda não escrevi o suficiente (ou melhor dizendo, não escrevi nada de suficientemente interessante), para que, se pelo menos nunca ter atingido o top, nem tão pouco ter obtido nenhum daqueles óscares natalícios que os outros blogs distribuem todos os anos, poder estar numa posição competitiva, a verdade é que com o pouco que digo (escrevo) de vez em quando alguém, mesmo em surdina, está a jura-me pela pele. Qualquer dia proporão a minha demissão da blogosfera por incumprimento de promessas.

E a que propósito vem toda esta introdução?, podereis vós, amigas leitoras e amigos leitores, questionar-vos depois de pacientemente terdes lido os dois parágrafos supra elaborados. É aqui que a porca torce o rabo, provérbio este, que me fazia muita confusão em criança, já que normalmente era dito sem nenhuma porca presente. Ou então o busílis da questão. Não fazia a mínima ideia do que seria o busílis a mais que a palavra mais parecida que eu conhecia, à época era búzio e nem tão pouco bílis já que com os meus seis anos de idade ainda não me tinha embrenhado pelas ciências da natureza.

Postas que foram algumas inofensivas palavras, deverei agora, retroceder, se eu fosse mais moderno diria, talvez, fazer um rewind, para me posicionar no enquadramento da verdadeira questão. E a questão não é nem mais nem menos do que a devida utilização de palavras por mais inofensivas que sejam ou pareçam. Vejamos alguns exemplos, suponhamos que eu escrevo a palavra fotos. Que mal é que isso tem? Suponhamos também que eu escrevo a palavra msn, hoje a sigla de um dos programas de conversação tu-cá-tu-lá mais conhecidos da Internet. Ou se por acaso me dá na cabeça e escrevo a palavra gajas. Claro que gajas é calão e um blog como este, escrito por uma pessoa séria deveria escrever mulheres, moças, meninas, raparigas, miúdas, garotas, fêmeas, enfim, deveria escusar-se a escreve gajas, mas se escreveu, escreveu e pronto. E se por um abuso de linguagem escrevo putas em vez de prostitutas ou de meretrizes, em vez de dizer, aquelas que por desventuras da vida aderiram à mais velha profissão do mundo ou usando o eufemismo que ouvia em garoto (sempre as minhas recordações de infância), me referisse às ditas como se se portassem mal, também não me parece que daí nenhum mal viria ao mundo. Claro que nuas, se escreve para algo que, na sua conjugação no plural feminino se refere a quem ou ao que se apresenta despido. As ruas podem apresentar-se despidas de gente ou de carros, as flores despidas de suas pétalas, mas nuas são nuas e despidas são nuas. As figuras de estilo não são mais nobres que os sinónimos e devem ser usadas no devido contexto. Já pretas poderá ser evitado quando me refiro à cor da pele de algumas africanas, ou afro-americanas ou suas descendentes, substituindo por um termo mais, digamos, politicamente correcto como por exemplo negras, mas não poderei evitar se estiver a falar do último par de meias que comprei. E aqui chego ao fim destas considerações sobre palavras. Quem não terminou ainda por aqui, foi o Google. Não é que este travesti de pila (pica como dizem os brasileiros) mole – vai-me sair cara a expressão – baralha tudo e volta a dar? E é por isso, que putas pretas, msn de putas, fotos de gajas nuas, já para não falar de peidos com som, de sapos a beijarem-se, posições do camassutra, de sexo anal, de receita de bifinhos com natas e até de como escrever uma carta ao Nuno Gomes, conduz alguns navegantes á leitura do meu blog, de onde saem obviamente com as expectativas frustradas.

É por estas e por outras que cada vez mais primo pelo silêncio. Um dia hei-de ser o presidente de todos os bloggers.

Sem comentários: