segunda-feira, julho 19, 2004

509. Redacção – O ciclismo
 
Eu gosto muito de ciclismo. Quando eu era miúdo quis comprar uma bicicleta para ser como o Alves Barbosa. O pior é que o Alves Barbosa não era do Benfica, mas sim do Sangalhos. Mas isso não interessava, porque o Alves Barbosa era o maior! Infelizmente os meus pais não tinham dinheiro para comprar uma bicicleta e eu acabei por optar por uns patins. Mas nunca cheguei a ter esses patins, porque os meus pais tinham medo que eu caísse e partisse uma perna. Ou a cabeça. E sem cabeça, talvez eu não conseguisse fazer as redacções que a professora me pedia. Como não tinha bicicleta, montava-me numa cana de valado e corria, corria, corria. Mas aquilo era andar a cavalo, não era bicicleta. Então, eu acabei por optar, por uma lata de conservas vazia, forrava-a com um papel de seda, que vibrasse ao som da voz, e amarrava-a a um pequeno pau ou a uma caninha e estava feito um microfone. Imediatamente, de ciclista, passei a relator da Emissora Nacional. “Lá vai Fernando Mendes a atacar, mas a marcação cerrada de Joaquim Agostinho não lhe permite avançar nem 20 metros. A meta já está à vista, estamos a menos de 5 kms da chegada. O Agostinho não tem sprint, será desta que o Fernando Mendes vai conseguir ganhar uma etapa?” E depois havia o Roque, o Firmino o Andrade, o Venceslau. Todos tinham uma palavra a dizer. Mas cheio de força, Agostinho, sem levantar o rabo do selim, pedalava, pedalava, pedalava e no pelotão ninguém tinha pernas para o HOMEM. E havia a volta a França, a minha volta de sempre. Tão importante para mim como a Volta a Portugal. Já não me lembro do Ancquetil, mas ainda vejo o Merckx, o Hinault, o Indurain, o Armstrong. Ah e não me esqueço, do Poulidour, Pou-Pou o eterno segundo e nunca, mas nunca do Agostinho e dos seus honrosos terceiros lugares. Hoje não tenho a mesma doidice pelo ciclismo, mas tenho dois ídolos: Armstrong e Azevedo. Paulatinamente, ajudando o líder, sem darem por ele, temos o Azevedo, nos dez primeiros. Vou ali subir o Puis-de-Dome e já volto. E se eu não voltar é porque estou no alto da Senhora da Graça. Eu gosto mesmo de ciclismo.

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