sexta-feira, julho 23, 2004

513. Redacção - As Flores

Eu gosto muito de flores. Quando eu era miúdo lembro-me da minha mãe ter sempre as jarras cheias de flores. A casa tinha sempre um cheiro a jardim. Ainda hoje ela tem esse costume. Mas é no campo que eu gosto mais de as ver. Quanto mais selvagens, mais atraentes. Gosto da flor do rosmaninho, roxa, misturada com o alecrim, gosto da flor branca das estevas à beira da estrada. Gosto dos campos amarelo e brancos de margaridas e malmequeres, aqui e ali, salpicadas de papoilas, dando um tom ensanguentado às terras castanhas. Gosto de ver as orquídeas selvagens crescerem no meio dos fetos. Gosto das hortênsias bordejando as levadas na Madeira, das flores das amendoeiras, no Algarve, no Alentejo e em Trás-os-Montes. Gosto da branca flor das laranjeiras, da cor quase salmão da flor da romãzeira. Mas gosto também das silvas nos valados, florirem para cachearem depois em amoras silvestres. E gosto de uma flor à minha mesa. Quando como, o perfume de uma rosa misturando-se nos aromas de um prato bem confeccionado, a beleza de uma tulipa como que me olhando, testemunha de cada garfada, dois cravos vermelhos invadindo-me as memórias. E gosto de ver o desabrochar de um botão, lembrando-me a infância, a ingenuidade, o pré-crescimento até ao abrir dos olhos. È por isso também que eu gosto das mulheres, porque a cada uma lhe atribuo um nome de uma flor, pelos olhos, pelo rosto, pelo cheiro, pelo tacto. Gosto de flores e de mulheres feitas estrelícias.

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