sábado, setembro 04, 2004

563. Três dias

O monstro de ferro flutuante já se afastava da costa. Quase não tive tempo para te dar um beijo. Foi tudo tão de repente. Cheguei a alimentar uma ténue esperança de que a pequena avaria que tínhamos a bordo, obrigasse o comandante a dar meia volta e rumar ao local da partida. Poderia te abraçar de novo, beijar-te de novo, ficares no meu colo de novo, acariciar-te, mimar-te. Mas não. Segui viagem; só muitos, muitos dias depois voltei a saber de ti, só muitos dias depois voltaste a saber de mim. A hora da distribuição do correio era a hora da festa. Era a tua chegada. Recebia sempre um monte de folhas escritas, com tinta de paixão, tinta de palavras permanentes (tu não tens um blog, mas escreves muito mais do que eu). E como as palavras me beijavam! Letras, desenhadas com lábios que murmuravam saudade, letras que, no silêncio do meu quarto, me despertavam desejo, letras que, desenhadas, me traziam tu mesma. Quando a última frase encerrava o reencontro, eu voltava à primeira linha e tinha-te ali de novo. Porque te queria eternamente junto a mim.

Como são engraçados os caminhos da vida. Agora que te tenho todos os dias ao meu lado, escrevo-te. Sei que me lês. Quantas vezes cada palavra te beija, não sei. Faltam três dias.

Sem comentários: