domingo, maio 02, 2004

Bom dia!

Mãe

Eu levantava-me todos os dias rabugento. Ainda acontece. Não falava com ninguém que encontrasse acordado. Preferia mesmo que ninguém estivesse a pé. Nessa época eu não fumava, por isso ao contrário de hoje, a primeira coisa que fazia não era fumar um cigarro. Dirigia-me à casa de banho. As torneiras abertas e o estado permanente de alerta, faziam com que ela se levantasse. Sei que não era por espírito de contradição. Sei que era por me amar. Tinha sempre de me ir dar os bons dias. Eu nem respondia. Depois ia para a cozinha preparar-me o pequeno-almoço. Eu ignorava. Ou melhor não ignorava. Barafustava em pensamento umas vezes, outras entre dentes. Resmungando. Ela queria saber o que eu estava a dizer. Eu não respondia. Ou respondia torto. Depois olhava para o relógio. Como sempre rés-vés Campo de Ourique. Era vestir-me à pressa. Ela atrás de mim, com o café com leite. Filho, ao menos só o cafezinho, filho. Não quero nada disso. Vestia-me, pegava nos livros, abria a porta. E ela atrás de mim. Leva a torrada vai comendo pelo caminho. Não quero nada disso. Dava-lhe um beijo na cara. Até logo. Bebe o café filho. E vinha até à escada com a caneca na mão. E eu a descer a escada, com uma cara de mau. E uma lágrima a correr-lhe pelos olhos. Era assim, invariavelmente. Só tu mãe. Só tu. Sabes que ás vezes sinto saudades destas pequenas discussões matinais? Hoje vou aí a casa dar-te aquele beijo. Não é por ser dia da mãe. É porque eu também te amo.

Para todas as mães que a esta hora me estão a ler, um beijinho e o desejo de um óptimo dia!

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