quinta-feira, abril 22, 2004

Memória I

A noite para mim sempre se fez dia. Desde há muito. O sol não desaparece. Está apenas a banhar a outra face. E eu na face de cá, sebenta de Química I aberta na mesa, RR a tocar baixinho, um ouvido no burro, um olho no cigano, que é como quem diz, ouve-se e estuda-se, às vezes só se lê, outras só se escuta. Uma voz pausada (não tenho a certeza do nome, seria o Carlos Albino?) diz: “Grândola, vila morena / terra da fraternidade / o povo é quem mais ordena / dentro de ti ó cidade”. Parei de olhar para a sebenta, no preciso momento em que o locutor do “Limite” diz a quadra. Um arrepio atravessou-me o corpo. O meu irmão chega nesse preciso momento da rua. Seria pouco mais de meia-noite (hoje sei que eram 00:20). “Entra e cala-te”. Zeca Afonso já estava a cantar. Terminou, desliguei o rádio, fechei a sebenta, lavei os dentes e fui dormir.

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