domingo, abril 18, 2004

Perspectivas

Publiquei anteriormente uma postagem com uma fotografia de umas colunas, em que se olhando sobre determinada perspectiva parecia que as colunas eram cilíndricas, mas o desenho fora concebido para também poderem ser vistas como tivessem a forma de paralelepípedo.
Lembrei-me da perspectiva de quem olha para uma garrafa meia de whisky, que se for o dono da mesma pensa que já está meia vazia, se for o convidado, que ainda estará meia cheia. O meu pai na brincadeira sempre que completa um ano de aniversário costuma dizer, eu ainda só tenho 74 anos. Aqui o Joaquim é que já tem 74.
Poderia dar imensos exemplos, mas não foi para dar exemplos que decidi escrever este texto. Ontem à noite encontrei no café o Zacarias (nome fictício, como hoje é costume escrever nos jornais, como se tivessem escrito o nome próprio a gente viesse a saber quem é… coisas da moda), dizia eu o Zacarias. Depois do abraço, e do oh pá há tanto tempo que não te via etc. e tal, perguntei-lhe pela família e como ia o casamento. Ao que ele me contou a deliciosa história que reproduzo:

A semana passada surpreendi a minha mulher em casa na cama com outro... Devagar fui à sala buscar uma pistola que costumo ter escondida numa gaveta, com a intenção de matar os dois… parei para pensar e fui percebendo como a minha vida de casado tinha melhorado nos últimos tempos. A minha mulher já me não pedia dinheiro para comprar carne, aliás, nem para comprar vestidos, jóias e sapatos, apesar de todos os dias aparecer com um vestido novo, uma jóia nova ou uma sandalinha da moda. Os meus filhos mudaram da escola oficial para o externato mais fino lá da zona. Só para veres, ela trocou de carro, apesar de eu estar há quatro anos sem aumento e ter decidido dar um corte radical na mesada que lhe costumava dar. Quanto a despensa recheada nem se fala. Lá em casa nunca tivemos tanta fartura quanto ultimamente. E as contas da luz, água, gás, telefone, internet, telemóvel e cartão de crédito, faz tempo que ela não me pede um tostão e está sempre tudo pago. A verdade é a que a minha mulher está mesmo um avião, a gaja nunca esteve tão boa nem tão apresentável em toda a vida dela.

Resolvi guardar de novo a arma. Saí, pé ante pé para não incomodar nenhum deles e, escada a baixo, vim a pensar sozinho: O tipo paga o empréstimo da casa ao banco, o supermercado, a escola das crianças, as contas da casa, o carro, o shopping, todas as despesas e eu ainda vou para cama com ela todos os dias... Concluí, meu caro Pre, que o corno afinal é ele pá.


Demos aquela bacalhauzada, despedimo-nos, então até à próxima Zac e agora quem saiu, devagarinho, a pensar fui eu, ‘perspectivas, pá’.

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