segunda-feira, agosto 23, 2010

1544. Remexendo no baú



Ninguém é perfeito, tenho a certeza que será o comentário, quiçá paternalista de muitos vós amigos leitores, quiçá de afecto com que vós costumais me brindar, queridas e amigas leitoras. Pois mesmo assim, sabendo que ninguém é perfeito, custa-me aceitar que da minha pobre garganta não saia um dó que não pareça um mi, um fá que não se assemelhe a um ré. Pronto, resumindo e concluindo entre algumas outras coisas (poucas, passe a imodéstia) para as quais não fui talhado está a arte de imitar canários e rouxinóis. Não sei cantar, é pena mas é verdade. Eu bem tento, quando alguém num grupo de amigos puxa de uma guitarra, eu bem tento, dizia, acompanhá-los mas, ou a corda se parte ou o músico perde a palheta, ou tem de ir comprar cigarros, a verdade é que não sou boa companhia canora. No carro os meus filhos pedem-me encarecidamente para que lhes proporcione uma viagem tranquila, sem poluição de qualidade nenhuma, sei eu porque sou perspicaz que eles se referem a poluição sonora e não poucas as vezes em que quando tento os primeiros acordes vocais logo oiço por perto uma sonora gargalhada e um assobiar para o ar tipo não fui eu que me comecei a rir (isto na vida há sempre engraçadinhos em todo o lado). A pior que já me aconteceu, acreditem ou não, eu se fosse a vós acreditava, foi eu ter ensaiado cantar um fado em pleno duche e acto contínuo ter faltado a água.
Mas nem sempre foi assim. As luzes apagavam-se na plateia e acendiam-se no palco. Seis aves canoras de tenra idade disputavam entre si, sacos de rebuçados, livros de pintar, caixas de lápis de cor. As claques, já que ainda não tinha sido inventado o televoto de valor acrescentado, encarregavam-se de escolher o melhor. O cronometrista contava os segundos, às vezes minutos em que os aplausos troavam pela sala e eis senão quando, este que vos escreve aqui com as pontinhas dos dedos que o chão há-de comer, verdade verdadinha ganhou o primeiro prémio. Uma fotografia dezoito por vinte e quatro e um bolo-rei. Não era o que ele mais queria, mas enfim, não se pode ser primeiro e ainda ter o direito a escolher uma caixa de 6 lápis de cor da Viarco.
A foto, está aí no post, o bolo-rei foi comido há uns 45 anos atrás e a letra era assim. “o ratinho foi ao baile / de cartola e jaquetão / sapato de bico fino / e um par de luvas na mão”. Bom, quem souber o resto da letra que cante que eu não tenho jeitinho nenhum. Antes que o computador crash, o melhor é ficarmos por aqui.