quarta-feira, agosto 26, 2009

1475. Se alguém souber quem queira, mande-me um e-mail

O meu sogro era uma pessoa humilde de cuja vida não faziam partes grandes manifestações sociais. Casamentos, baptizados, festas de aniversário, um ou outro convívio entre amigos e funerais, quase que poderia resumir assim a sua participação na vida colectiva. Ah, é verdade, o meu sogro votava e não dispensava de se apresentar de fato e gravata no cumprimento do seu dever cívico. Poderíamos assim pensar que, para tão resumidas necessidades, não lhe fosse necessário ter um guarda-roupa por aí além, mas na verdade a coisa não era bem assim. Só dos genros e filho “herdava” em cada estação uma substancial quantidade de camisas que, ora porque tinham passado de moda, ora porque um colarinho menos apropriado não lhes assentava bem a gravata, ou ainda porque genros e filho decidiam engodar mais do que os botões das ditas camisas suportariam. Mas calças e fatos tinham o mesmo destino pelas mesmas razões ou até outras. Se acrescentarmos as pouco originais prendas de aniversário e Natal com que a família o brindava, ele era pulôveres, ele era camisas, ele era peúgas, ele era ceroulas, quando o meu sogro faleceu deixou algumas dezenas destas peças em roupeiro. Pois minhas queridas leitoras e meus queridos leitores, vocês nem imaginam a dificuldade que nós cá em casa temos tido para doar este, modesto mas asseado, espólio. Nem lares, nem asilos, nem igrejas, nem mesmo particulares necessitam de nada disto. Tenho mais medo de que seja presunção do que pobreza envergonhada. Esta última, eu compreendo, a primeira entristece-me.

Esta foto publicou o LFM há mais de dois anos no blog dele. Fui lá e pifei-a mas não sei quem é o autor.

segunda-feira, agosto 24, 2009

1474. Fado - uma das minhas paixões

Na verdade não quero que pensem que estou aqui a dar graxa, a donner de la graxe, giving graxation, geben graxichen ou a rasgar seda (mania de complicar né mesmo, mermão?). Eu sei e já tenho afirmado que O PreDatado é o blog que tem os melhores leitores do mundo e, por certo ninguém me desmentirá, também os mais cultos. Obviamente que nem todos terão o mesmo grau de conhecimento em todas as matérias mas é esse ecletismo de cognição, atrever-me-ia mesmo a designar por esse boião de cultura e, se não considerarem exagero meu, até me referiria a esse mix de experiências civilizacionais que honra e prestigia este humilde blog que foi criado no intuito, único e exclusivo, de ser pasto para alguns dos vossos momentos de ócio, ou quando já não houver mais livros do tio Patinhas para ler na prateleira do móvel livreiro da casa de banho, ou ainda para quando acaba o programa da Marta Croft no TVI24.

Posta que foi a brevíssima introdução supra, eu sei que vós merecíeis muito mais, vamos lá ao que interessa mesmo e sobre o qual eu quero a vossa ajuda. Lucília do Carmo foi uma tremenda fadista que malogradamente faleceu há já 10 anos atrás. Dentro da sua vasta discografia consta o fado Loucura. Neste fado, de letra lindíssima, Lucília do Carmo cantava o seguinte refrão:

Chorai, Chorai

Guitarras da minha terra

O vosso pranto encerra

Minha vida amargurada.

E se é loucura amar-te desta maneira

Quer eu queira quer não queira

Não posso amar-te calada.

Ora ontem assisti a um espectáculo da linda Ana Moura (vide PS) onde esta cantou Loucura que eu conheço como Loucura (sou do Fado) cuja primeira vez que o ouvi foi na voz de Carlos do Carmo, filho de Lucília do Carmo e que, no entanto, Ana Moura atribuiu a Lucília do Carmo. Embora utilizando o mesmo arranjo musical, a letra é completamente diferente sendo que o refrão é:

Chorai, Chorai

Poetas do meu país

Troncos da mesma raiz

Da vida que nos juntou.

E se vocês não estivessem ao meu lado

Então não havia fado,

Nem fadistas como eu sou.

E agora pergunto eu: entre os meus leitores e as minhas leitoras há alguém que me consiga informar se o fado Loucura (Sou do Fado), este último, é mesmo da autoria de Lucília do Carmo, ou então, conhecem alguma gravação de Lucília do Carmo cantado esta versão de Loucura? Porque da primeira versão tenho eu e se ficar em branco nesta resposta até as minhas guitarras vão chorar.

PS. Ontem assisti ao concerto de Ana Moura nas festas de Corroios. Eu chamei-lhe linda porque de facto o é. É-o como mulher mas isso não vem ou caso ou se calhar até vem. Deixemos assim. Linda como fadista, pela qualidade da sua voz, pela qualidade do seu repertório, pela qualidade dos músicos que a acompanham, pelo rigor do traje, pela atitude em palco. Linda como pessoa, pela sua humildade. E é este ponto que hoje trago à colação, mesmo correndo o risco deste post scriptum poder ficar mais ou menos chato. O Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Corroios e a Comissão das Festas de Corroios (não sei se é assim que se chama) que tão boa conta costumam dar (e têm dado), do recado com uma “feira” bem organizada, variada na oferta e divertida, diga-se em abono da verdade, com espectáculos de qualidade todos os anos, a qual os do presente ano confirmam e culminam, não poderia criar uma prerrogativa entre os feirante para que, quando um espectáculo do nível e do âmbito do da Ana Moura, todas as outras barracas e locais de diversão desligassem a música? Não custava nada, pois seria pouco mais de 1h30m e escusava de se ter misturado Búzios com Quim Barreiros, Loucura com Emanuel, Aconteceu com Rute Marlene e o meu amigo João com Nelson Ned. Não fosse a humildade que enobrece os grandes e estou convencido que Ana Moura se teria recusado a cantar. Para rever. Se alguém lhe puder chegar este recadinho (ao presidente da Junta, claro), agradecia.

Foto de Lucília do Carmo retirada da net, onde consta em vários blogs e artigos a seu respeito.

sábado, agosto 22, 2009

1473. Andamos por lá perto

Vou-vos contar uma coisa mas não digam a ninguém. Aqui o Pre é um gajo de números, não fosse o tipo ligado às engenharias e às matemáticas, mas há números para os quais não está, definitivamente, talhado. Dou-vos dois exemplos simples com os quais podereis constactar essa sua não afinidade para certas conjugações algaritométicas (nem a palavra existe). Esta semana estava ele, o Pre, aqui confiante que lhe iriam sair os 74 milhões do Euroditos, os quais diga-se de passagem já pouco lhe pertenciam dada a distribuição que, previamente, fez dos mesmos e, tufas, nada de nada que é como quem diz niente. Estais já todas e todos vós leitoras e leitores, respectivamente, a pensar, os números não querem nada, mesmo nada, com o Prezinho, sem mesmo saberem que nem os números nem as estrelas pois o zerão também se aplica a esses dois algaritmozitos suplementares. O segundo exemplo tem a ver com o número de visitas de “O PreDatado”, obviamente coisa muito mais séria do que o Euromilhões, de tal forma que é preciso cuidado para dizer isto. Os outros blogs, os famosos, os dos pilantras como aqueles que andam por aí a trocar bandeiras, os dos gajos amigos dos amigos daqueles que vocês sabem e, finalmente, até os bons blogs, é num ápice. De um momento para outro pimba, tufas (outra vez) e plim, e lá estão eles, nas 10, nas 50, nas 100 mil visitas e, horrores dos horrores, a ultrapassar um milhão de visitantes em pouco mais de um ano. Cá o nosso Pre está nos seus 99.932 (número que não variou desde o início da escrita deste post até à sua publicação), que é como quem diz quase nos 100 mil em cerca uns míseros quase 6 anitos nestas andanças. E isto quer dizer muito. Quer dizer que não é qualquer merdas que vem aqui ler este blog. Os poucos que cá vêm são os melhores leitores de blogs do mundo. São poucos? Ah pois são, mas são os melhores. E mainada!

Pic from Copyright 2009 Kellene Bishop at http://womenofcaliber.wordpress.com/2009/07/20/my-wish-100000-women-strong/

sexta-feira, agosto 21, 2009

1472. Benfica TV

Inenarrável este rapazinho. Não é a primeira vez que vejo um jogo do meu Glorioso S. L. Benfica na Benfica TV e de cada vez que o faço farto-me de rir. A Benfica TV não é uma televisão privada embora seja uma televisão privada. Parece um contra-senso mas não é. Eu explico. Embora seja uma televisão privada de estatuto não é um canal de TV para ser visto à porta fechada, entre confrades que se riem muito das próprias piadas. Está inserida num pacote de oferta de um operador, com licença atribuída por Entidade Pública. Como tal deve ter, independentemente da linha editorial com a qual digo de passagem que embora não a conheça subscrevo-a porque será com certeza em defesa do meu clube, dizia eu deve ter sobriedade mas, essencialmente qualidade. Ter um relator/comentador dos jogos de futebol que não só identifica o nosso treinador como Jota Jota (eu vou assumir para mim a dor e pedir desculpa ao grande Jacinto João, ex-jogador do Vitória de Setúbal, esse sim universalmente conhecido nos meios futebolísticos como Jota Jota), como para ele faz parte da nossa equipa o Angelito (anrrelito), o Pablito, o Fabinho, o El Conejito (el conerrito), o Tacuara e para já fico-me por aqui porque daqui a pouco está a chamar Luisinho ao Luisão. Não se pode melhorar Sr. Luís Filipe Vieira? Pode-se ser Benfiquista sem ser ridículo ou não?

PS. Os ucranianos não têm nome conhecido mas ainda sou do tempo em que o Benfica foi eliminado por um tal Ajax e que toda a imprensa achincalhava o Glorioso por ter sido posto fora da Europa por uma marca de detergente. Pois bem, o Benfica deu quatro aos ucranianos do Poltrava, outros quatro poderiam ter sido marcados e o jogo foi muito bem jogado.

terça-feira, agosto 18, 2009

1471. Bem-ditismos

Quando estou de férias a última coisa que gosto é de ser perturbado com sons que vão para além do dos passarinhos, do balido das ovelhas, do rolar das ondas na areia ou dos verdadeiros sons do silêncio, propícios à reflexão, que as calmas noites alentejanas me proporcionam, enquanto refastelado em faustas cadeiras espaldares ou espreguiçadamente deitado na rede a olhar o céu e a chuva de meteoritos. No entanto, condescendo, de vez em quando, alguns minutos do meu quieto direito à paz, ao barulho e ruído que os jornais e telejornais a transtornam. Quando ouvi na televisão que Isaltino de Morais foi condenado a sete anos de prisão por uma série de crimes (roubos?) que terá perpetrado, a notícia não me aqueceu nem me arrefeceu. Retirei-me e voltei aos meus longos períodos de reflexão. Eu não sei se o tal indivíduo é culpado ou não é. Não sou juiz e além disso o Dr. Isaltino recorreu pelo que, até que transite em julgado, não sou eu quem fará coro com os justiceiros da praça pública. Mas se ele pertence à canalha então que seja condenado. Porque a canalha existe e isto não é resultado de qualquer julgamento popular. Todos sabemos (são os mais importantes e relevantes Magistrados e Procuradores que o dizem) que existe uma canalha, um bando de vampiros que nos suga o sangue a cada minuto que passa. E choque a quem chocar terão um dia de o pagar. Seja em Oeiras, em Felgueiras, em Gondomar, em Alcochete, em Lisboa ou no Porto. Um dia, quem sabe, alguém possa ter umas mãos tão castas e tão limpas que nunca se sujarão a limpar o nosso país da canalhice. Benditas sejam.

PS. Um tal brasileiro Adhemar de Barros, em tempos que já lá vão, candidatava-se com o slogan “Adhemar rouba mas faz”. Infelizmente em Portugal também existe muita gente que apoia este tipo de políticos. Que façam algo e tudo lhes será perdoado. Mesmo que o façam à conta do nosso suor, quiçá do nosso sangue e quantas vezes das nossas lágrimas. Malditos sejam.

segunda-feira, agosto 17, 2009

1470. Menininho


Eu sou exactamente como as crianças. Hoje a família ofereceu-me um leitor MP4 assim com umas funções meio complicadas para mim, mas eu tenho uns amores de filhos para quem não há botão ou tecla que não conheçam e que não saibam para que é que servem. Pois como ia dizendo, ainda não tirei os auscultadores dos ouvidos. O brinquedo é meu e pronto! O pior é se não oiço a rolha da garrafa do champanhe a saltar e o esparramo todo pela mesa. Que se lixe, haja alegria.

domingo, agosto 16, 2009

1469. Regresso auspicioso

De repente a minha mãe escorrega na banheira, dá uma queda, as dores são horríveis, o hospital é logo ali ao lado. A assistência não é rápida nem é lenta, está dentro dos tempos previstos pelo chamado Critério de Triagem de Manchester, as coisas parecem estar a correr bem. Atendida no banco de urgências foi radiografada e como tal teve de esperar o tempo razoável para que a “chapa” estivesse pronta. Não tendo sido detectada nenhuma fractura foi no entanto considerado prudente, pelos clínicos de serviço, que a mesma radiografia fosse observada pelo neurocirurgião. 13 horas e 30 minutos depois, leram bem, treze horas e trinta minutos depois foi dada alta à minha mãe com receituário de ben-u-ron (o que nem sequer se questiona). É esta a qualidade de serviço que temos, é este o SNS que nos legam os partidos do poder. E nós, lá vamos cantando e rindo…

PS. Parece que no Hospital Garcia de Orta em Almada também ainda são conhecedores do Dec. Lei 33/2009 publicado no DR no passado dia 14 de Julho. Nomeada e principalmente os serviços de segurança. Acho que a região de Almada / Seixal / Sesimbra merecia uma melhor gestão hospitalar.