quarta-feira, abril 29, 2009

1423. Hoje há caracóis


· Eu bem quero emagrecer mas hoje comi um pacote de amêndoas “tipo Milão”.
· Não gosto de ir às compras com a minha Maria. Hoje comprou um par de calças depois de ter experimentado 14.
· Gosto de comer bacalhau com grelos de nabo. Grelo e nabo juntos ou “a língua portuguesa é muito traiçoeira”.
· Costumo tirar o som da TV quando vejo um jogo de futebol. Normalmente oiço música. Às vezes distraio-me e “deixo” os comentadores falarem. Farto-me de rir.
· Conheci pessoalmente a fadista Maria da Conceição e também o seu marido (para mim, o Sr. Bessa) que ainda foi guitarrista da Hermínia Silva. Maria da Conceição foi a “criadora” de mãe preta. Enquanto a chibata batia no seu amor embalava a mãe preta o filho branco do senhor. Obrigado Dulce Pontes por cantares a versão original. Hoje (re)ouvi-te em Anthologia do Fado.
· Estou a usar e abusar das aspas. Prefiro escrevê-las aqui do que levantar as duas mãos e abanar para cima e para baixo os indicadores e os dedos médios de cada mão. Aliás aqui no blog nem daria para ver o gesto.
· Gosto da fadista Cristina Branco.
· O Victor do Blog “Oficina das Ideias” (mais aspas) ofereceu-me o selo Este blog promove amizade e investe na informação. Agradeço-lhe publicamente, sendo que para mim é sempre uma honra receber uma distinção de alguém distinto. Só não ponho aqui o selo porque caracóis com selos não gruda. Prefiro com imperial. Obrigado Victor.
· Por falar em caracóis, amanhã não posso mas prometo que na quinta-feira vou cortar o cabelo.
· Beijinhos e abraços em conformidade. Santa paciência para aturar o Prezinho, não é?

PS. Esclarecimento: Estive a ver o debate na SIC Notícias com os cabeças de lista, dos maiores partidos portugueses, às eleições para o Parlamento Europeu. O Nuno Melo praticamente só falou de agricultura. Juro que não foi por isso que falei em grelos de nabo.

A foto estava neste blog

terça-feira, abril 28, 2009

1422. Às terças...


Sombras e rumores

Que importa que hajam nuvens no céu
E a que a lua não tenha o brilho de ontem?

E também que importa que as estrelas não cintilem
Ofuscadas pelo véu cinza de cúmulos e de cirros?

Que interessa que o mar se despenteie contras as rochas
E os barcos se silenciem no ranger das amarras?

Que importa se o vento uiva nas frinchas das portas
E nos invadem as palmas de um par de janelas batendo?

Que importa se há névoa no rio
E a buzina do cacilheiro muge à travessia?

Que importa se ladram cães ao longe
E ouves junto à porta passos apressados?

Que importa se a chaleira apita de vapor fervente
Ou se se escuta a água do banho no andar de cima?

Que importa a ausência de luz na rua
E os sons dos fantasmas que nos cercam,
Quando nos perdemos em copulares gemidos?

Nada, meu amor, nada importa
Quando possuímos a noite.


Versos de PreDatado©, 2009
Foto de Ognid na
Catedral

domingo, abril 26, 2009

1421. Lunch Time Blog ou a arte de lamber


Teste a textura do feijão verde e coza-o em água temperada com um pouco de sal entre 3 e 5 minutos, conforme ele seja mais ou menos tenro. Depois retire o feijão e deixe-o escorrer. É assim que começo a confeccionar os meus peixinhos da horta depois de cortadas as vagens pelas pontas e retirados os fios. Hoje este trabalho será feito com meio quilo de feijão verde mas façam a quantidade que quiserem ou, melhor, de acordo com o número de pessoas que gostarem. Sempre gostei deste pitéu que leva a fritar as vagens em óleo bem quente embrulhadas num polme que passo a explicar. Numa malga deitem aí uns cento e vinte e cinco gramas de farinha de trigo e façam-lhe um buraco ao centro. Depois um pouco de sumo de limão, não abusem para que não fique azedo, talvez uma colher de chá. Eu costumo lamber a colher no fim pois gosto do gosto ácido do limão. Abram uma mini sagres ou super-bock e deitem para aí um decilitro na cavidade da farinha. Eu costumo beber o resto da mini e lamber os beiços por causa da espuma. Quem não aprecia cerveja pode substituir pela mesma quantidade de vinho branco. Normalmente eu não costumo beber o restante vinho da garrafa, para não me embebedar logo pela manhã. Já agora, para quem não gostar nem de cerveja, nem de vinho, pode fazer o polme com água. O sabor final não será o mesmo, mas come-se. Acrescentem um colher de sopa de azeite e temperem com sal e pimenta ao vosso gosto. Eu falo-vos aqui sempre do sal, mas na verdade, quando sou eu a fazer dispenso o sal por completo. Depois é só ter a calma suficiente para ouvir os outros protestarem. Eheheheh. Comecem a mexer pelo centro para a farinha não granular. Eu começo sempre a mexer com o indicador direito mas se a ASAE não estiver por perto podem fazê-lo com a colher de pau. Eu lambo o dedo antes de passar à colher de pau e aos ovos. Continuando sempre a mexer, agora com a colher de pau, junto dois ovos, um a um para ligarem bem e, quando a massa estiver leve, paro, deixo-a repousar cerca de meia hora e, vou eu também descansar o braço. Outras vezes aproveito o intervalo para preparar uma caipirinha ou um moscatel de Setúbal com uma casca de limão. Passem o feijão já frio e escorrido pelo polme, um a um ou dois a dois, fritem no óleo bem quente e bom apetite, isto é, lambam-se!

PS. Esta é uma espécie de peixe a que o meu gato Schubert não mia ao cheiro.

A foto foi encontrada aqui. Obrigadinho por deixar usar. Se não me esquecer depois tiro uma foto aos meus.

sexta-feira, abril 24, 2009

1419. Esperança



Esta noite vou me sentar na mesa da sala a estudar. Uma disciplina qualquer porque o exame de Química foi há 35 anos. Vou ligar a rádio e esperar ouvir cantar de novo E Depois do Adeus. Vou-me perguntar porque é que senti uma dorzinha no estômago. Eu sei que os Emissores Associados de Lisboa já desapareceram mas, mesmo assim, vou ficar sintonizado em uma rádio qualquer. Tenho esperança. Depois, vou mudar de posto. E antes de me deitar vou, de certeza, ouvir Zeca Afonso interpretar Grândola Vila Morena. Será na Rádio Renascença. E vou para a cama arrepiado, com a minha pele parecendo pele de galinha e os meus pelos todos de pé. Tenho esperança que vou ouvir e sentir tudo isso de novo. E, quem sabe, amanhã seja de novo 25 de Abril. Outro 25 de Abril que consiga completar aquilo que o de há 35 anos nos prometeu. E que os que não quiseram cumprir Abril se auto-desterrem a escrever memórias. Talvez isso eles o saibam fazer. Eu tenho esperança e quero também que tenham esperança os dois milhões de pobres e o meio milhão de desempregados que este país produziu. Viva o 25 de Abril!

quinta-feira, abril 23, 2009

1418. Porque a terça estava ocupada...



Amor em tempo de dor

Dói-me,
Dói-me de tanto te amar.
Porque, ao te amar, te amo a ti e aos teus ais
E o sofrimento da tua alma é meu.
Dói-me de te amar a ti e à tua dor.


Alegro-me,
Alegro-me de tanto te amar.
Porque, ao te amar, te amo a ti e aos teus sorrisos
E o brilho dos teus olhos é meu.
Alegro-me de te amar a ti e à tua alegria.

Foto: PreDatado, 2009

terça-feira, abril 21, 2009

1417. Para variar


Hoje vou fazer citações. De outros blogs. Não se acostumem, vai, mas uma de borla não é nada mau. Só uma mesmo que eu não sou o super homem.

“E de crianças, aprendem a guardar o resto de uma garrafa de água, por nós desperdiçada, como se de um tesouro se tratasse.” – Ana C. em Vadiagens. Este é um blog novo que não me enganarei se disser que será muito mais do que um fotoblog.

“No Domingo, dia 26, para comemorar a canonização de D. Nuno Alvares Pereira, será inaugurado o Largo D. Juan I de Castela frente ao Mosteiro de Aljubarrota. A festa vai contar com a presença de um grupo de flamengo e, segundo o programa oficial, vai haver "paelha".
A presença da Padeira lá do sítio ainda não está confirmada”. – Teresa em Cabra de Serviço .

“…mas eu estou envergonhada por nunca me ter deitado com o Luís Pedro Nunes. Assim eu teria a certeza que ele não escreveria que mulher que bem escreve fode mal.” – Janette em Guerra de Travesseiro.

“Não sei …se é a alma que detém o corpo ou se é o corpo de detém a alma.” – Madalena em Aliciante.

“Gosto duma certa ideia de unidade que nunca construo senão do dois. Talvez a possível, a tentada no sopro do primeiro beijo. Há, naqueles instantes tacteados, uma procura – e um achamento - de parte de nós que nem sabíamos perdida.” – Hipatia em Voz em Fuga.

“Faço um lombo de porco, assado no forno, que merece sempre grandes elogios de quem o prova” – João Espinho em Praça da República. Quero a receita.


… E um poema

Crava no meu peito a ilusão
rainha do meu poema
razão de uma vida
beija e trinca e agradece
eu ser só eu
musa e fantasia
loucura e esperança
e ganha-me todas as flores
que me apetecem.
Devora-me.
Porque eu, lúcida, te amo.

Poema de Paula Raposo em As minhas romãs.


Pronto vá lá, outro dia darei mais uma… borla.


Foto: PreDatado – Costa da Caparica, Paraíso


PS. Não pedi autorização aos citados para os citar ou “copiar”. Espero que não levem a mal.

segunda-feira, abril 20, 2009

1416. Mataram-no



Não sei se existe a figura jurídica do assassínio por incompetência. E se existe, não sei se existe moldura penal para assassínio por incompetência. E se não existe, devia existir. Porque enquanto continuarmos a ter gestões e administrações e direcções hospitalares atribuídas aos boys dos partidos e das sociedades secretas vão continuar a existir os assassinatos por incompetência.

O meu sogro não entrou doente no hospital. O meu sogro caiu e fracturou o colo do fémur. Foi um acidente, não uma doença. Considerar que, uma pessoa de 81 anos, com o colo do fémur fracturado, não é um caso de urgência e fazê-lo esperar por uma vaga com um atraso previsível de 10 dias como se fosse a fila para o talho onde se tira a senha de vez, parece-me de critério discutível. O que não me parece, nem é, discutível é ter um utente com processo hospital presente, com uma úlcera gástrica, tratada no mesmo hospital e estabilizada há 14 anos e enfiarem-lhe no estômago com anti-inflamatórios e analgésicos que lhe provocaram uma hemorragia gástrica. Depois as consequências, nomeadamente a insuficiência respiratória. Mataram o meu sogro por incompetência e incúria para além de outros maus tratos que lhe infligiram que nem vale a pena relatar. O meu sogro entrou na maca dos bombeiros no Hospital Garcia de Orta em Almada com uma perna partida e saiu na urna de uma agência funerária, oito dias depois, sem sequer lhe terem feito a intervenção que deviam.

Não me conforto com prémios de consolação e se vou ficar por aqui não é por cobardia mas sim por bom senso. Tendo em conta o corporativismo da classe (igual ao de outras, diga-se de passagem) e conhecendo como funciona a justiça portuguesa, seria um processo que prescreveria ou que terminaria com mais uma culpa a morrer solteira. Por isso, não me contentando com prémios de consolação tenho um que ninguém mo poderá tirar. É o de saber que todos esses filhos da puta um dia também morrem.

PS. A foto que ilustra é do meu sogro cerca de 1 hora após a queda que lhe fracturou a perna, tocando castanholas improvisadas por ele próprio.

sexta-feira, abril 17, 2009

1415. 17 de Abril de 1969


Tive uma discussão enorme com ele. No final como de costume virei-lhe a costas. Não podia fazer outra coisa para não chegarmos a vias de facto. Na verdade nunca chegaríamos porque eu não sou violento. Uns gritos, uns apupos, umas pateadas, se for preciso ergo ao alto uns cartazes com uns dizeres mais acutilantes mas não entro em pancadaria. Foi sempre assim, não é cobardia é feitio. Ele diz-me que nem sempre fui assim e recorda-me, como quem me quer picar, os meus tempos de juventude, quando ainda estudante. E a discussão, que não começou aí, agudizou-se. Ele diz que tem melhor memória que eu e afirma que a idade é um posto. Coitado, apenas uns anitos mais velho e já pensa que é general. Enfim. Eram conversas sobre o Abril de 1969, sobre a crise académica, sobre o papel dos estudantes na sociedade, como Portugal nunca mais foi o mesmo e até de um golo de Eusébio se falou. Só que não valia a pena toda esta discussão. No final da contenda cada um ficou com a sua. Eu digo que o Alberto Martins está muito diferente daqueles gloriosos tempos das lutas académicas, da greve da academia, das justas reivindicações e principalmente do saber dizer NÃO sem medo e o meu espelho não tem a mesma opinião. Alguém entende os espelhos?
___
E se forem descontrair um pouco no GT, hein?

Foto encontrada pela net, desconheço o autor.

quinta-feira, abril 16, 2009

1414. Eu não vou à bola com esta bola


Ontem jogaram duas sociedades anónimas a passagem às meias final da liga dos campeões em futebol. Aparentemente a SA sediada no Porto não terá sido inferior em jogo jogado à SA sediada em Manchester faltando-lhe, talvez, um funcionário chamado Ronaldo. Hoje muito se tem falado de honra e prestígio dizendo-se à boca cheia que o futebol português saiu dignificado pela prestação da SA sediada no Porto. Ora eu não discordo que o futebol português tenha saído prestigiado mas não exactamente devido ao feito da SA sediada no Porto. Na realidade esta SA apresentou em campo apenas 3 portugueses, sendo que a SA sediada em Manchester apresentou 2, no total dos 28 jogadores em campo, correspondendo a 18% de portugueses o que nem é tão pouco como isso dado também terem havido apenas 6 ingleses em campo (21%). Mas se compararmos com os 39% de jogadores sul-americanos no relvado resta-me ficar aqui a pensar o que é isso de futebol português e o que é isso de futebol inglês?
*
Eu, benfiquista, adepto e accionista da SA sediada em Lisboa na Av. Norton de Matos, multinacional de sotaque castelhano, fiquei feliz por ter visto aquele estádio da freguesia da Antas cheio, não só pelo que gerou de receita para a empresa mas também pelo apoio que estiveram o tempo todo a dar para que as minhas acções da SA sediada no Porto subissem (sim também sou accionista dessa empresa). Infelizmente isso não aconteceu, mas não deixo de agradecer.

quarta-feira, abril 15, 2009

1413. Pavões


Tenho assistido ultimamente em Portugal a uma aristocratizante denominação de filhos e filhas (dasse que frase mais aristocrata). Ele é Beatrizes e Teresas, Marias e Antónios além de Rodrigos, Duartes, Diogos, Franciscos e Catarinas. Nada me move contra isso nem contra os pais, nem contra as crianças e também nada contra a aristocracia.

Nos Estados Unidos da América, para dar um exemplo que conheço bem, poucos serão os James que não Jimmy, os Richard que não Dick (pois!), os William que não Bill ou os Eduard que não Ted. E lá, pouco importa se o rapazinho vai ser o homem mais rico do mundo ou o presidente da república. Mesmo na nossa bem conhecida e aristocrata velha albion não é por se ser Sir que é como quem diz, ter levado umas espadeiradas no ombro dadas por HM the Queen que um Alexander não possa ser Alex.

Mas não, aqui não, nós os aristocratas de Telheiras ou da Cruz de Pau, do Pátio Bagatela ou de Azeitão, da Foz e da Maia ou de Massarelos, já não temos Toys nem Tonys, nem o tão nortenho Tono ou o carinhoso Toninho e então de Tó nem falar. Não senhor que o menino é António. E adeus Chico e Manel se quiserem alguém da vossa laia procurem por uma Bia ou uma Mimi que Manuel só procura Maria.

Pois eu, oriundo da burguesia Almadense e actualmente frequentando os mais nobres, aristocratas e senhoriais locais do Miratejo fico feliz por me chamarem de Pre e mais ainda de Prezinho. Que isso de PreDatado é coisa de certidão de nascimento. Juro pelas espadeiradas que já levei nos dois ombros. Bom, se quiserem tratem-me por Sir Pre que eu não fico chateado.

PS. Com este feitiozinho hás-de ter muitos amigos…

Foto PreDatado (aliás Sir Pre), Jardim Botânico da Madeira, 2004

terça-feira, abril 14, 2009

1412. Às terças...

Olá meu amor,

Sei que pareço demodé ao escrever-te uma carta de amor. Hoje há tantas maneiras de te dizer o mesmo que dispensariam que me dirigisse aos correios de envelope na mão, cheirando a colónia, para selar esta escrita. Poderia ter usado o e-mail, mandar-te um SMS pelo telemóvel ou simplesmente discar o teu número e falar contigo ao telefone. Talvez mais simplesmente, pensarás tu, dizer-te o mesmo ao ouvido, aqui já ao teu lado, enquanto te acaricio os cabelos na cabeça deitada no meu colo e te roubo furtivamente, perdoa-me o pleonasmo, um beijo. Mas confessa-me amor para ver se eu estou enganado. Há quanto tempo não abres a caixa do correio e encontras uma carta de amor? Há muito, respondes-me tu e é o que eu de facto já presumia. Há muito. A nova tecnologia, ou não nos deixa ser românticos, ou nos transforma em românticos banais e compulsivos. Mas escrever uma carta é diferente. Podes até sentir o perfume das minhas mãos no papel (hoje escolhi um papel mate muito bonito, não achas?) e depois de dobrada a folha em quatro partes, guardá-la junto ao teu coração? Sabes amor, hoje senti frio. Se não tivesse estado tanto frio teria ido fotografar os amores-perfeitos que carinhosamente plantaste nos canteiros da nossa varanda e ter-te-ia mandado uma fotografia. Tu sabes que eu gosto de mandar uma foto nas cartas que te escrevo não sabes? E sabes porque faço isso? Porque te amo. Afinal, és tu, hoje, o meu amor-perfeito. Está-se-me a acabar a tinta desta vil caneta de aparo que se desacostumou de ser usada. Recarregá-la-ei com a mais fina tinta azul para que te volte a escrever. E fica prometida a fotografia de uma flor para outra flor. Um milhão de beijos deste que te ama.

domingo, abril 12, 2009

1411. E podia ser pior?


Estavam as coisas a correr bem porque o vinho era bom e a companhia ainda melhor. Não provei a canja de galinha porque os odores oriundos do caldete me chamavam. O caldete é como chamam naquela região alentejana à sopa de peixe do rio feita com todos os temperos a que tem direito. Conseguiam-se distinguir, entre os outros, a hortelã da ribeira, o coentro e o poejo.
Não faltou, claro está, o borrego assado no forno, mas para diversificar, o bacalhau com natas e o peixe do rio no forno. Até porque sendo sexta-feira santa e havendo católicos presentes não seria a carne o seu maior petisco. Petisco depois foram os tordos, as perdizes e a lebre, cada um dos pratos a deixar invejosos os anteriores.
O mau petisco estava reservado para depois, O meu sogro, já na rua, colocou mal um pé num lancil do passeio, deu uma queda de todo o tamanho e acabou, soubemo-lo algumas horas depois, por fracturar o colo do fémur. Foi atendido no Hospital de Beja e vai ter de ser operado.
Nestas andanças se encontram os amigos. Quero deixar aqui expresso publicamente o nosso agradecimento por todo o apoio que me foi prestado pelo meu amigo João Espinho, que é também o autor de Praça da República. Bem hajas João!

O Hospital de Beja foi bastante diligente na assistência ao meu sogro. Em cerca de duas horas, da entrada ao internamento, passando, obviamente, pelo diagnóstico. No entanto decidiu transferir o meu sogro para o Garcia de Orta em Almada. Por um lado entende-se já que uma das moradas, a residência oficial é a nossa em Corroios, seria melhor para lhe podermos dar assistência de proximidade. No entanto, uma vez que temos morada também no distrito de Beja, embora secundária, mas onde estávamos à data da entrada no Hospital, a tomada de decisão unilateral pelo hospital parece-me encerrar alguma preocupação economicista. Mas enfim, não tenho nenhuma queixa, desta vez, a apontar ao Hospital. Entretanto o meu sogro chegou, com a devida informação clínica, às 13h15 de Sábado no Banco do Garcia de Orta e só depois das 18h foi atendido. A informação é de que a cirurgia se fará dentro de 10 dias, (quando no Hospital de Beja a previsão seria dentro de um dia ou dois). A verdade é que a nossa eficiência hospitalar só existe quando se os hospitais são visitados pela Srª Ministra e mais uma tropa de jornalistas atrás ao bom estilo da Propaganda de qualquer regime totalitário. Bom, do mal, o menos, já está a ser cuidado e agora é esperar que tudo corra bem.

Hoje regressamos do Alentejo. Não havia alento para continuar fora. Fomos visitar o velhote ao hospital e está animado. Aguardemos.

Foto PreDatado, Monsaraz 2009 – O Alentejo é lindo ou não é?

quinta-feira, abril 09, 2009

1410. Páscoa


Durante uns dias vou ser alentejano, daqueles do Alentejo profundo, nem por isso deixando de estar atento ao que se vai passando pelo país e pelo mundo, mas assim a modos que devagarinho. Por mor da Santa Páscoa deslocaremos as bagagens que não as armas, aqui é tudo gente pacífica, para terras Myrtilis onde repousaremos, no sentido quase estrito da palavra, uns quantos dias. Só não retirei o “quase” porque algumas actividades vamos ter de executar não por obrigação mas por puro prazer. Tratar das flores, alimentar quanto gato ou cão nos aparecer no quintal e comermos nós mesmos (não confundir com comermo-nos a nós mesmos porque não somos canibais nem perversos, não há mesmo necessidade disso com um blog que faz isso tão bem, aqui tão perto), será o conjunto das árduas tarefas que nos proporemos nestes dias. Neste nosso magnificente dolce fare niente ficará também incluído o computador que será desligado logo à noite para só se voltar a se acender pela vindoura terça ou quarta-feira, conforme as necessidades de confusão nos chamem ou não à inevitável realidade dos nossos dias. Até lá, amigas leitoras e amigos leitores deste espaço público (hei, não vale mijar na parede), o vosso escriba deseja-vos uma Feliz e Santa Páscoa para quem é de Páscoas ou simplesmente um óptimo fim-de-semana – grandinho – para quem tiver o privilégio de usufruir destes dias de folga. Cuidado com o excesso de amêndoas açucaradas e os ovos de chocolate para que não fiquem de diarreia. Beijinhos.

PS. Como devem ter-se apercebido pelo post anterior não faz parte da minha nova filosofia de vida ficar preocupado se vós, amigas e amigos, ficam ou não de diarreia por causa do chocolate. Aliás não há nada que agora me preocupe nem tão pouco o facto de se vocês desatarem por aí a correr a casas de banho, privadas ou públicas ou atrás das moitas em qualquer espaço ao ar livre para deixarem o normal resultado desse abuso, que paire no ar um cheiro mais nauseabundo do que aquele que costuma vir dos corredores do poder.
Imagem daqui

quarta-feira, abril 08, 2009

1409. Filosofia de vida



Hoje eu queria começar este post por vos abrir o apetite. Queria dizer-vos que desde há alguns tempos (para ser rigoroso, alguns dias) adoptei uma nova filosofia de vida. Por isso, para que todos vós, amigas e amigos leitores, se possam lambuzar, esta noite foi brindada com amêijoas à Bolhão Pato e camarão de Madagáscar bem acompanhados de um excelente Alvarinho. Porque de marisco hoje não exagerámos, já que as últimas análises do colesterol nos aconselhavam a que não ultrapassássemos os limites, comemos depois umas mangas importadas do Brasil, as chamadas “por via aérea”, que estavam deliciosas. Como se não bastasse (até à hora em que abri a porta do congelador ninguém tinha disfarçado um sequer singelo arroto), ainda comemos um sorvete de noz. Ah, que coisa estranha, não era deste apetite que eu vos queria falar, era mesmo da minha nova filosofia de vida. Não sei se já vos disse que dentro de meses farei 54 anos.

Na minha família, tanto quanto foi possível apurar dentro das gerações consanguíneas, a pessoa com maior longevidade foi a minha bisavó paterna-paterna, quer dizer a mãe do meu avô paterno, que morreu com 105 anos. Se eu conseguir viver outros tantos quantos os que já tenho agora, digamos 53 e meio, morrerei aos 107. Record absoluto na família, pois não houve até agora nenhum homem, tanto quanto o saibamos, que tenha sequer chegado aos 100 anos. No entanto, nem as estatísticas nem os cálculos actuariais estão do meu lado, pois a esperança de vida dos portugueses estará nos 80 anos. E vou eu me preocupar com isso? Não!

E na última frase ficou lançada a minha nova filosfia de vida. E vou eu me preocupar com isso? Não! Absoluta e determinantemente não! Nem com isso nem com coisa nenhuma. Não se admirem amigas e queridas leitoras, não se interroguem amigos e queridos leitores se este vosso escriba não mais se preocupar com nada. A esperança é a última coisa a morrer e eu até já chamei as Testemunhas de Guiness para me acompanharem nos meus próximos 53 anos e meio de vida. Mas se morrer antes acham que eu me vou me preocupar com isso? Olhem amigas e amigos, eu estou completamente fora, a partir de agora, aliás de antes de agora já não me preocupo com nada.

PS. O nosso primeiro-ministro disse hoje no Parlamento que não aceita lições de moral de ninguém. E eu bem ralado com isso. Estão a ver a minha cara de preocupado?

terça-feira, abril 07, 2009

1408. Manifesto dos 77


Mãe,
Nós, os filhos e as noras, decidido por mim aqui generalizar sem ter pedido consentimento mas consciente que faz parte do seu sentir e também netos e netas e ainda uma bisneta e mais uma, uns por aqui outros por ali, outros em Angola ou Suíça e na Velha Inglaterra e ainda os teus sobrinhos e sobrinhas outras tantas, ainda dois compadres e também uma comadre, as cunhadas e cunhados (para aí dez foram contados) e o teu gato Major e os meus gatos ora não? e os doutros filhos que estimados bichos são, juntamo-nos ao teu marido nosso pai e nosso avô para todos em conjunto os parabéns te cantar e verem-te setenta e sete velas apagar neste dia de Abril sete. E com tantos juntos setes, come uma fatia de bolo, e que se lixe a diabetes.

domingo, abril 05, 2009

1405. Ondas


E em branca espuma me desfaço.
Bendita rocha que me tolhes a viagem,
Cansada de vaguear de vaga em vaga.


Foto PreDatado, C. Caparica 2009

sexta-feira, abril 03, 2009

1406. Um post completamente em branco

As hipóteses que temos, num dia vulgar, para escrever um post. Ordinary day, assim à americana. Várias. A mais óbvia seria cair em vulgaridades (atenção leitoras e leitores brasileiros a palavra vulgar em português de Portugal tem um significado diferente do dado pelo português do Brasil) e falar, por exemplo, do tempo que esteve quente durante o dia mas que dá cá um arrepio na espinha agora pela noite, não só quando saímos à varanda, mas também quando apenas pensamos em sair. A segunda hipótese seria trazer aqui efemérides que para o dia de hoje não são muitas, mas que não deixam de ter relevante importância como comemorar o 65º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes o célebre diplomata português que conseguiu livrar alguns milhares de Judeus da sanha nazi. A terceira que também é muito normal ser usada entre nós, bloggers de plantão, é a de fazer referência a um post interessante que tenhamos lido aqui ou ali, fazermos um link e deixar uma nota de rodapé como se fosse um comentário. Há mais, acho que já vou na quarta hipótese como, ainda por exemplo, embeber aqui o código gerado pelo Youtube deixar uma música bonita ou um sketch cómico isto para não falar de uma cena de apanhados que tem sempre saída. E entre mais uma mão cheia de hipóteses para escrever um post há uma que custa um pouco mais, mas que não deixa de ser interessante, que é a de ser criativo. Mas isso custa mais, muito mais. E eu, que tenho um jeitinho meio estúpido de inventar coisas, hoje não seria capaz de escrever nem uma linha. Por isso este não-post está aqui, não por obrigação diária que ninguém me paga para isso, mas sim para vos dizer que o Pre também tem dias que não consegue escrever uma única linha.

PS. Eu não sei se algum Ministro da Educação actual ou que o tenha sido nos tempos mais recentes esteve a assistir ao concurso O Duelo da RTP1. Eu creio que não porque tão eruditas criaturas terão muito mais que fazer. Mas se eu tivesse sido um deles teria sentido uma grande vergonha que um concorrente num concurso de cultura geral não faça a mínima ideia de quem foi o Presidente da República que sucedeu a António de Spínola. Estamos a falar da nossa história dos últimos 40 anos. Não estamos a falar nem na história do Burkina Faso nem da do Sri Lanka.

quinta-feira, abril 02, 2009

1405. Dia mundial do livro infantil


- Pai, porque é que a gente não deve dizer mentiras?
- Porque é feio.
- Muito feio?
- Sim, muito feio.
- Quanto pai?
- Conheces o hipopótamo?
- Conheço, pai.
- É assim muito feio como o hipopótamo.
- Ah!
...

- Pai.
- Sim, filho.
- Ontem tiveste um furo no carro?
- Não, filho.
- Pai, onde é que está o saxofone?
- O pai não tem nenhum saxofone, filho.
- Pai.
- Sim, filho.
- O que é um livro erótico.
- Filho é muito difícil explicar-te. Podemos deixar isso para depois?
- Depois quando pai?
- Quando o pai souber explicar.
...

- Pai.
- Sim, filho.
- Tu escreves histórias?
- Sim, às vezes escrevo.
- E são histórias de verdade ou histórias de mentira.
- Às vezes têm de se inventadas.
- O que é inventadas, pai?
- Digamos que são histórias de mentira.
- Pai, tu és feio.
- Muito feio, filho?
- Pai, és um hipopótamo.


(texto escrito por quem nunca submeteu nenhum livro a nenhuma editora nem tão pouco um livro erótico)

quarta-feira, abril 01, 2009

1404. Com a vossa licença


O blog não é para mim uma obcecação. Gosto de escrever quando me apetece e quando acho que aquilo que escrevi pode e deve ser divulgado, então entro no editor do blog e copio para lá a folha de word. Mas se há dia para mim que considero dia de S. Blog e que penso efectivamente nele é o dia das mentiras. Não, não é hoje que penso, é do dia de hoje. Quero dizer, ando um ano inteiro a pensar que o dia das mentiras vai ser o meu dia de glória no PreDatado. Hei-de escrever tantas mentiras que os meus leitores e a s minhas leitoras vão ficar completamente baralhados com aquilo que o Pre escreveu. E depois o que é que acontece? Tem-se um daqueles dias em que não há praticamente tempo para escrever nada. E isto porquê? Porque logo de manhã recebo um telefonema (que aliás esperava há muito) para ir fazer o tal casting. O saxofone com o qual costumo chatear a vizinhança até se riu. Eu num casting? Para saxofonista dos … (não posso ainda divulgar, aceitei a regra da confidencialidade). Vamos a ver no que dá, depois conto-vos. Para já o casting correu muito bem mas só na sexta-feira é que me dizem qualquer coisa. O problema é que quase ia borrando a pintura. Mal começo a andar com o carro, pufff, um furo. Já estava a dizer mal à minha vida, mas por sorte a minha vizinha do 7ºEsq. que é recepcionista no Carlos dos Pneus, deu-me uma mãozinha. Ou melhor eu que lhe dei a ela a ajuda porque ela fez o trabalho quase todo. Pior um furo do que partir uma perna. Acabei por ainda ter tempo de lhe dar boleia até à oficina e convidá-la para um cafezinho. O café teve de ficar adiado por falta de tempo mútuo. Cheira bem a tipa (isto é um aparte mas a minha MJ não se zanga). Infelizmente nem tudo são rosas e o meu livro erótico não vai ser publicado. Passei da parte da tarde na editora mas esta recusou com o argumento de que não está dentro do critério editorial. Ainda estive para entregar uma cópia sob o pseudónimo de Carolina para ver se tinha sorte porque Fernandes é um nome demasiado comum para ter impacto. Fica para próxima. E no final das contas estava eu aqui a querer vir aldrabar no blog e mais um ano que vou ter de adiar a coisa. Se calhar vou pedir a uns tipos que todos nós conhecemos para durante este ano irem cobrindo esta minha lacuna de inspiração. Bom, amigas e amigos leitores até ao próximo 1º de Abril. Desta vez prometo que vou apontando no moleskin todas as mentiras que me vierem à cabeça para no próximo primeiro de Abril escarrapacha-las todas aqui. Beijinhos e abraços em conformidade.