terça-feira, setembro 30, 2008


1243. Às terças-feiras...


Por odor (puro odor)

Sabes que já não voo tão alto como o falcão,
Mas quando brota o cheiro do aloendro,
Bato asas e poiso em ti.
E de outros tempos
De falcão, me transformei.

Hoje sou um beija-flor.

Predatado©, 2008
foto daqui

domingo, setembro 28, 2008





1242. Lunch Time Blog


Levantou-se tarde como era seu costume aos Domingos
- Adivinha, disse enquanto tapava, por detrás, os olhos da mulher.
Ela virou-se lentamente ainda com o maço do almofariz na mão e encostou-lhe os lábios – Bom dia, meu amor.
Ele afagou-lhe o cabelo enquanto fungava lentamente o cheiro dos coentros amassados com alho e um pouco de sal.
- Adoro a tua sopa, destapando o tacho onde uma posta de bacalhau cozia para dar sabor à água. – Queres ajuda?
Ela tinha largado o almofariz e abraçou-o. – Não! Quero-te a ti. As fatias de pão alentejano já estavam cortadas, numa cestinha de verga, à espera da sua hora. Baixou o lume da água do bacalhau.
Ele levantou-a um pouco o suficiente apenas para que os pés dela deixassem de tocar o chão. Nos braços e encostada ao peito levou até à cama. Deixaram-se cair enquanto se beijavam ora terna ora sofregamente. Lá dentro os ovos esperavam para serem escalfados. “Fazer amor com cheiro a coentro”, dito quase em simultâneo. Riram no final.
Enquanto ele fritava os jaquinzinhos ela terminava a sopa. Juntou os ovos à água fervente (que teve de ser acrescentada pois já tinha evaporado pela metade) e deixou-os escalfar apenas uns minutinhos para que ficassem cremosos. No fundo da malga onde já repousavam o pisado de coentro, alho e sal e também o azeite puro de oliveira foram colocadas as fatias de pão e depois ensopadas naquela água com gosto a bacalhau cozido e ovos-creme.
Ela beijou-o de novo. Era o sinal para que ele pegasse na travessa onde, já escorridos, os carapaus loiros e estaladiços esperavam para serem levados para a mesa. Ela levaria a sopa.
Ela serviu-o num prato fundo enquanto ele, vaidoso das suas escolhas perguntava – Que tal este Foral de Évora, DOC, 2005 Branco?
Ela cheirou e retorquiu – adoro o teu vinho.

















fotos daqui e daqui

quinta-feira, setembro 25, 2008

1241. Levanta-te e... fica!

É na Rua Cidade de Ostrava em Almada que este candeeiro se encontra há alguns meses neste exercício de equilíbrio. No início pensei que estaria à espera dos Jogos Olímpicos para ver se ganharia alguma medalha em ginástica. Mas os jogos já terminaram e ele mantém-se na mesma posição. Provavelmente os delegados do Guiness estarão atentos e quem sabe, dentro em breve. Figurará no livro dos recordes. Mas falando sério, sério mesmo, o que eu acho é que nenhuma das chamadas “autoridades competentes” deu por isso. Sendo assim há que chamá-las a atenção antes que o poste faça alguns (eventualmente graves) estragos. E depois é como todos já sabem, foi um momento de azar, ninguém terá a culpa como nunca ninguém tem culpa nesta espécie de país.

foto Predatado

quarta-feira, setembro 24, 2008



1240. Nem tudo está perdido


Segundo as notícias de ontem e de hoje parece que aquele tipo vestido de diabo que entrou no campo e empurrou o fiscal de linha no último Benfica x Porto corre o risco de vir a ser preso. Para a outra vez aconselho este senhor a que se dedique a assaltar caixas de multibanco ou vá lá, melhor talvez, a estoirar com explosivos carrinhas de transporte de valores. Assim teria a certeza que não seria incomodado. Mas nem tudo está perdido, quem sabe ele ainda vai ter como companheira de cela esta invasora da foto?






1239. Desembaraçadamente

Tal como a minha amiga Maria Árvore eu também acho o José Mário Silva um rapaz muito simpático e bem-falante. Só o “conheço” do tempo dos blogs diria mesmo só o conheço desde o Blog de Esquerda que, creio mesmo, nem terá sido o primeiro em que participou. Depois, com aspirinas pelo meio fui perdendo o contacto com a sua prosa e pior (para mim, claro) faz muito que deixei de ler o Expresso, excepção feita quando ele me é oferecido aquando da compra de algum DVD do CSI. Apesar da consideração que fiz no primeiro parágrafo não significa, nem teria de significar, que teria de concordar com ele sempre que tece uma crítica a alguma obra literária. Sem assumir a defesa de Rosa Lobato de Faria, não só não fui indigitado para tal como tampouco o saberia fazer, discordo da análise de José Mário Silva aposta neste seu post de ontem de onde realço o extracto “O que separa as duas histórias é o abismo que vai do génio literário de James à prosa desembaraçada, mas tão fácil de ler quanto banal, da autora portuguesa”. Pessoalmente, sou um adepto da chamada prosa desembaraçada e tenho alguma dificuldade em considerar a de Rosa Lobato de Faria, banal.

Lembrei-me a propósito disso de um conto que escrevi que começava assim:


“A disceptação teve o seu epílogo. Estava decidido. Como bom dendrófobo dirigir-me-ía para o deserto. Ele caminharia para os antípodas. Sentia-me fatigado de ser sempre apoucado nas minhas decisões. Assumiria de uma vez por todas o meu eremitismo. O badano, já cambado, haveria de suportar as duas ou três horas que me faltavam para chegar ao destino. Quando as adelfas e as carvalhinhas começaram a rarear nas margens do caminho, o dia abaçanava. A alimária alentecia e nem os golpes de butuca a fariam mover. Paramos. Coligi os escassos haveres, cobri-me com um bedém, com o qual me tinha abispado antes da partida, sentei-me ao velho jeito índio, pernas cruzadas uma sobre a outra e adormeci. A minha mente extenuada achapuçava-se de sonhos. Abentesmas albípedes, cujas restantes partes corporais se não viam, bandarreavam no meu espírito deixando-me azabumbado. Como seria possível em lugar tão ermo me sentir cercado. Acordei abruptamente. Autócnes de aspecto boçal faziam a festa. Nunca na vida tinham deparado com tão alva tez. Com as mãos enrugadas esbarbavam-me o capote como que se inteirando da minha condição de real.”


Era tudo menos uma prosa desembaraçada. Se banal ou não, não sei. A única coisa que sei mesmo é que ninguém leu. Quanto ao cronos subscrevo o último parágrafo do post da Maria.

terça-feira, setembro 23, 2008



1238.Calendário













Calendário

Disse-te uma vez que
As terças-feiras eram dias lindos para amar.

Pois bem não me vou desdizer
Nem tampouco deixar mal vistas as terça-feiras.

Venho só segredar-te que qualquer dia é um dia lindo
Para te amar.

segunda-feira, setembro 22, 2008


1237. Votos voadores
Fosse eu emigrante nos Estados Unidos da América e hoje estaria certamente envolvido e preocupado com as eleições americanas. A “luta” McCain vs. Obama está ao rubro e não me permitiria desviar atenção para qualquer guerra de alecrim e manjerona entre Sócrates e Ferreira Leite. Pois bem eu tenho a certeza que não seria caso único. Seja nos Estados Unidos, Canadá ou Macau, seja na Suiça, Alemanha ou França, quiçá em Andorra há uma larga, diria larguíssima maioria que pensa como eu. E o que me faz afirmá-lo? A frieza dos números. Pois bem dizem por aí que há 5 milhões de portugueses emigrados. Eu daria de barato que este número é exagerado mas não o conheço. O que sei é que em Fevereiro de 2005, quando das eleições legislativas últimas, estavam recenseados 75803 portugueses na Europa e 72575 no resto do mundo. Se este número de recenseados (cerca de 3%), face ao número presumível de emigrantes, já mostra considerável indiferença, o nível de participação, 23427 na Europa e 13277 fora desta, mostra claramente que estes 36714 votantes (25% dos inscritos ou seja uma abstenção média de 75% e, a atender ao numero de emigrantes considerado, menos de 1%) são realmente quem se interessa pela política em Portugal. É claro que o método de Hondt e a distribuição por círculos criam deturpações tais que permitem que este número de votantes inferior ao total nacional do PND (40358) ou do MRPP (48186) atribuam quatro deputados emigrantes contra zero de qualquer daqueles partidos. Se o debate fosse em torno da lei eleitoral geral, da distribuição por círculos, dos métodos de proporcionalidade, da representatividade efectiva das várias correntes ideológicas talvez eu entrasse na conversa. Mas teorizar sobre a democracia apenas porque foi aprovada uma lei que acaba com o voto por correspondência de quem efectivamente já não vota é um peditório para o qual não dou.

PS. Meu caro e prezado José Pimentel Teixeira, este foi o meu modesto contributo para a sua batalha sobre a matéria. Não estamos do mesmo lado, neste caso concreto, mas isso nunca me impedirá de continuar a lê-lo com atenção.
imagem daqui

sábado, setembro 20, 2008



1236. A lista

O nome dela estava na lista. Antes, alguns outros nomes e depois também. A lista era longa onde não parecia haver qualquer relação entre as graças. Nem parental, nem profissional. Talvez a ligação de maior nexo fosse a proximidade geográfica. Vários pertenciam ao mesmo distrito e até mais particularmente à mesma península. No entanto, uma análise mais cuidada atentaria que de quando em quando um dos nomes não seria daquelas paragens.

Sempre achei pouco imaginativa a introdução de nomes cortados numa lista. Mas como era inevitável a lista também os tinha. Voilà! O terceiro e o quarto nome cortados e, mais adiante, talvez uns dois nomes depois do dela, um risco a vermelho. A cor da tinta e a distinção do traço indicavam claramente que os riscos feitos sobre o terceiro e o quarto nome teriam sido feitos por outra pessoa que não a do traço vermelho.


Um Bentley grená parou à porta. Uma figura de meia-idade cujas patilhas curtas acinzentadas se deixavam ver por debaixo do boné, de postura ligeiramente curvada provavelmente de vénia acostumada, saiu do banco de chauffeur e diligente abriu-lhe a porta. Uma silhueta magra, toda vestida de negro com uma écharpe cinza e preta, ligeiramente debruada a cadilhos, realçava-lhe o cabelo loiro atacado sobre as costas, saltos altos que na elegância felina do andar a conduziriam ao chefe. Murmurou-lhe um nome. A lista fora consultada e eis que era chegada a sua vez.

Sentou-se discretamente numa mesa de fundo, reservada. Provou e aprovou o vinho. Do jarro, claro está. A travessa de sardinhas loiras e crepitantes não tardou a chegar. Riscaram-lhe o nome da lista.

imagem daqui

sexta-feira, setembro 19, 2008


1235. Lunch Time Blog reloaded

Bem sei que nesta altura do campeonato eu deveria estar aqui a falar do último assalto a uma farmácia ou à área de serviço de uma qualquer auto-estrada mas isso a TVI, o 24 Horas e o Correio da Manhã fazem-no muito melhor do que eu. Se eu vos disser que com uma saqueta de quilo de filetes de peixe-gato que comprei numa promoção de 60% (hei-de voltar a falar disto), fiz um petisco do caraças graças ao Chefe Silva e a uma tele-culinária que comprei há mais de 20 anos, vocês têm mesmo é que acreditar. Inacreditável é eu ter voltado ao LTB no dia imediatamente a seguir ao Benfica ter levado três na pá em Nápoles. Se a equipa, em vez de seguir as receitas do Quique, seguisse as do chefe Silva as coisas sairiam bem melhor. Era só juntar 30 gramas de margarina, sal e pimenta q.b. (pimenta do reino para quem me lê do outro lado do Atlântico), 1 raminho de salsa, 0,5 dl de vinho branco, 2,5 dl de água, 0,5 dl de azeite, 2 dentes de alho, 1 cebola, 2 tomates, metade de um limão, 1 ovo cozido e depois seguir a elaboração que se segue e, pronto, não haveria massa à Bolonhesa que resistisse. Eu disse massa à Bolonhesa? Ah pois disse, mas era pizza Napolitana que eu queria ter dito. Escrever isto de barriguinha cheia até dá gosto. Até me faz esquecer que o presidente da Câmara Municipal do Seixal, CDU e militante do PCP, substituiu os cantoneiros de limpeza aqui na freguesia de Corroios por uma empresa PRIVADA de limpezas. Mas isso fica para outro dia. Então, os filetes deverão ser cortados em pedaços de cerca de 10 cm de comprimento e depois temperados com sal, pimenta e sumo do limão. Se quiserem peguem no vosso laptop e levem-no para a bancada da cozinha para não terem de decorar tudo. Os tomates deverão ser pelados - tirar o pé, escaldar e pelar - retiradas as sementes e cortados aos pedacinhos pequenos. Cuidado com os tomates (quer dizer, devem ser madurinhos ou o que é que estavam pensando?) que são parte fundamental desta comezaina. Untem um tacho ou uma caçarola com margarina – está na moda outra vez a margarina, já viram o anúncio do judoca Nuno Delgado? - e coloquem os filetes no fundo. Se tiverem de colocar uns por cima dos outros, podem fazê-lo que eles não se zangam. Há outros que passam a vida em cima da gente, deixamo-nos enrab…., cala-te boca, a torto e a direito e em 2009 vamos de novo deixar tudo na mesma. Por cima deitem o sumo do limão (Mirian se estiveres a ler, lê suco de limão, tá?) que estava no tempero, reguem com o vinho branco e também com a quantidade de água referida. Juntem o raminho de salsa e uma rodela de cebola, tapem e deixe cozer em lume brando (cerca de 10 a 12 minutos). Durante o tempo de cozedura nem dá para olhar para a Teresa Guilherme a lixar mais um gajo que quis ser lixado porque… enquanto o peixe coze deitem num tachinho o azeite e o alho e cebola picadinhos e levem a refogar. Logo que comece a aloirar juntem os tomates já cortados aos pedacinhos, mexam bem e deixem apurar mais ou menos 1 minuto e juntem um pouco do caldo de cozer os filetes para ficar assim uma espécie de tomatada. Não sei se estão a fazer segundo a receita ou não, mas a verdade verdadinha é que, apesar da escrita ser longa, a receita até que é meio rápida e deixar-vos-á tempo suficiente para verem as 2435 novelas do Moita Flores e do Tozé Martinho que passam por dia na TV (antes isso que a gritaria da Júlia, chiça!). Provem agora para rectificar os temperos, depois coloquem cuidadosamente os filetes numa travessa, bem escorridos, deitem-lhe por cima a tomatada e polvilhem com o ovo cozido e picado aos pedaços e a salsa picada. Acompanhem com batata cozida ou com arroz branco. A foto de cima tirada aqui pelo Je pode ser que vos abra o apetite.

PS. Por acaso o meu gato Schubert, que já não é aquele gatinho travesso dos tempos iniciais de LTB pois já tem quase 5 anos de idade, anda com falta de apetite. Deve ter enjoado a ração e tem andado à minha roda para provar os meus petiscos. Tenho de perguntar ao Chefe Silva se não tem para lá umas receitinhas para gato siamês.

quarta-feira, setembro 10, 2008

1234. Portugal x Dinamarca

Carlos Queirós surpreendeu (e foi largamente elogiado) por ter convocado Carlos Martins, Pedro Mendes, Antunes, Dany mas deixou-os na bancada ou no banco. Pôs em campo a equipa de Scolari, onde até Quim se armou em Ricardo e perdeu. Perdeu porque Queirós não é Scolari por muito que doa aos Migueis de Sousa Tavares e aos Ruis Santos da nossa futebolândia.
1233. Portugal x Dinamarca

13m - Comentador TVI "Ricardo Carvalho está quase a tornar-se centenário. Atinge hoje a quadragésima nona internacionalização". Pode repetir que não percebi bem?

segunda-feira, setembro 08, 2008


1232. Duas com uma cajadada?

Eu por mim acho que o 24Horas não queria matar as duas senhoras com uma só notícia. Tenho a certeza que foi engano. Mas também por 1,25€ jornal, revista e prato de porcelana é de exigir mais?

In 24Horas de 07/09/2008
(clique na imagem para ler a notícia)

sexta-feira, setembro 05, 2008



1231. Ele há coisas do caraças


Tenho um amigo que construiu uma casa na Charneca da Caparica – Almada, com piscina e tudo, toma! É claro que a vazão da piscina tem de estar ligada ao colector de esgotos que por lá passa. O meu amigo em vez de falar com os padres fala directamente com o papa. E vai daí, solicitou a obra aos SMAS (Serviços Municipalizados de Água e Saneamento) da própria Câmara de Almada para fazerem os respectivos trabalhos. A obra, essa, consistia na ligação da saída da piscina ao colector de esgotos e reconstrução da calçada (entretanto destruída para a referida ligação). Solicitou a obra a qual foi executada e paga em devido tempo. Fácil? Fácil! Ah grande CMA, assim é que é. Mas agora surgiu um pequeno quiproquó. O meu amigo ainda não tem licença de habitabilidade e sabem porquê? Porque entretanto foram lá os fiscais da CMA e reprovaram a obra. A calçada está mal executada e o meu amigo tem de mandar fazê-la de novo. A Câmara a reprovar a própria Câmara e quem se lixa, quem é?

imagem encontrada aqui