segunda-feira, julho 31, 2006

1010. O Apagão
(onde se fala de telejornais, vinho tinto e se fica a saber que o gato fedorento está a ser plagiado)


O Ricardo Araújo Pereira e os seus colegas do Gato Fedorento que se cuidem. As nossas televisões andam numa frenética concorrência aos Meireles, aos Barbosas e aos Lopes da Silva. Está um gajo a almoçar calmamente uma sardinhada assada com salada de pimentos, tomate, alface, pepino e muita cebola, acompanhado de um Herdade do Pinheiro, tinto (sim que eu gosto de beber bom) e de repente fica a saber que nessa noite faltou a luz em Santarém. Bolas, fiquei logo com uma espinha entalada na garganta, Bebe um golinho de vinho disseram-me, Não respondi eu, tanto quanto consegui responder com uma espinha na garganta, que o vinho para mim não é um desembuchador de comidas, mas sim um néctar em constante degustação. É que sempre que há um caso destes eu fico logo a imaginar grandes tragédias, do tipo o metro parou e ficaram quatrocentos passageiros retidos durante 6 horas debaixo de um calor de 30 graus, mas não podia ser, porque em Santarém não há metro, ou do tipo foi um apagão provocado por uma cegonha, fico logo a imaginar aquelas bebé-cegonhas desamparadas de mãe, no alto dos postes, capazes de caírem dali a baixo. Foi por isso que me engasguei e não despreguei mais os olhos da televisão para ouvir a notícia e principalmente ouvir os testemunhos.
E o senhor sofreu muitos prejuízos, perguntava a repórter, ao que o dono do café dizia, Sim nem imagina quando cheguei estavam as cervejas quentes, mas desenrasquei-me de outra maneira, E a senhora? Olhe nem dei por isso porque quando me deitei ainda havia e quando acordei já havia luz, E você deu conta do apagão, Se dei, levantei-me de noite para fazer xixi e fiquei admirada de não haver luz quando liguei o interruptor.
Pronto, foi esta a reportagem que a TV (nem me lembro em qual canal), passou no noticiário da hora de almoço. Os pimentos estavam espectaculares. Ah, é verdade, esqueci-me de falar do melão à sobremesa, mas fica para depois.

1009. Artes e Sabores
(coisas gostosas, coisas de artistas)

A Ana Valente é um poço de simpatia (não desfazendo, como soi dizer-se, da D. Isabel, sua mãe). Há pouco mais de um mês, abriu uma pequena loja, a Artes e Sabores, onde se mistura o artesanato aos bons produtos da região. Mas se a loja é pequena o gosto é grande. Comecemos pelo pão, mas comecemos mesmo. Porque se o deixarmos para o fim corremos o risco de lá chegar e já não haver. Quem não gosta de pão alentejano, cozido em forno de lenha, passe adiante e vá direito ao queijo. (Relembro aqui uma pequena história de outras épocas, em que quando com o meu pai fomos a uma tasquinha, por acaso também no Alentejo, a senhora chegou com o pão quando já nós tínhamos comido queijo. Ao ar incrédulo da senhora que nos servia o meu pai ripostou: - Pois é, minha senhora, andei tantos anos a comer pão sem queijo que hoje me dei a liberdade de comer o queijo sem pão). Os queijos são da região de Serpa e têm-nos frescos, secos, curados, em azeite, amanteigados e de entorna. Têm chouriços ainda meio verdes para assar e já curadinhos para o pão. E paios… de porco preto. O presunto é imbatível, as azeitonas obrigam-nos a pecar, fechem os olhos à dieta só por uns minutos e não desdenhem os bolos regionais, as compotas caseiras e provem o hidromel. O artesanato é de várias regiões alentejanas com destaque para os barros pintados e, acreditem, não é caro. Quando passarem na Mina de S. Domingos não hesitem e façam-lhe uma visitinha.

PS. PUB completamente grátis e merecida porque aos prazeres da mesa e dos olhares não há nada que os pague.


1008. CPLP
(onde o Pré fala de férias e de pobres e isso)

Estava o PreDatado com os pés nas férias mas com a cabeça ainda no mundo real, em herética postura face aos que o acompanhavam (as férias são férias, tal como os que dizem a guerra é a guerra). E foi assim que se lhe deu conta das conclusões da cimeira da CPLP do passado dia 16 – vejam como tempo passa, parece que foi no século passado e quase já ninguém se lembra. Que agente vá de férias tudo bem, mas para que a memória colectiva não entre em letárgico repouso deixem-me cá voltar ao tema.

Nos dias que a antecederam a referida cimeira, ouvi muitas perguntas, muitos comentários e muitas análises sobre para que servia a CPLP. Infelizmente, não ouvi muitas opiniões coincidentes pelo que me parece que andam todos à nora com a questão. Mas se para outra coisa não servisse, esta cimeira tomou uma deliberação que considero demasiado importante para não ser levada à letra. Comprometeram-se a acabar com a fome e a pobreza até 2015. Ou pelo menos erradicar metade (diga-se de passagem que um desvio de 50% não deveria deixar muito alegres os políticos). E Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates subscreveram. O que se subentende que não é apenas na África, em Timor ou no Brasil que essa acção deva ser levada a cabo. Também aqui em Portugal. E, atendendo às estimativas da União Europeia que diz que temos 2 milhões de pobres, isso significa que em cada ano, dos nove que faltam, 222 mil portugueses (ou pelo menos 111 mil) deixarão de ser pobres. Eu estou aqui para cobrar, porque eu sou uma das pessoas que não se esqueceu dos 150 mil novos empregos prometidos por Sócrates. E esses estão muito longe de estar conseguidos. Eu estarei atento porque as férias não são eternas.

sábado, julho 15, 2006

1007. E agora, férias!




Durante uns tempinhos o PreDatado vai a banhos. Férias são férias e por isso, não escreverei (aqui), não lerei (por aqui e por acolá com uma pantalha à frente), não comentarei. Mas depois voltarei em força. Esperem-me.

terça-feira, julho 11, 2006

1006. Confuso?

Anedotas
Há uns anos atrás contaram-me uma anedota de um taxista que passava todos os sinais vermelhos dos semáforos e parava nos verdes. Interrogado pelo cliente respondeu-lhe: “É evidente porque paro nos verdes. Imagine que vem aí outro maluco como eu”. Então não é que hoje vi um tipo, em pleno centro de Almada, a fazer o mesmo? Isto é mesmo um país de anedotas.

Confusão
Na repartição de finanças o sistema informático estava “em baixo”. Cada um, munido da sua senha, aguardava a sua vez e, por sua vez, que o sistema resolvesse dar sinal de si. Até que veio. A funcionária ao balcão perguntava “quem está primeiro?”. Nós, algumas dezenas, olhávamos para a senha e, com cara de parvos, um para os outros, sem que ninguém soubesse responder. Até que alguém lembrou à senhora que bastava ir carregando no botão que muda o número da vez, que cada um responderia na sua ordem. Confuso ou simplex?

Produtividade 1
Há dias em que me dão pancadas na cabeça. Hoje decidi sair de casa munido de cronómetro. Cheguei ao posto médico às 08h10m, tirei a senha e fui inscrito às 8h50m. 40 minutos de espera. A consulta tinha início previsto para as 09h00. Fui o número três, atendido às 9h45m. Mais 45 minutos de espera. A consulta, incluindo prescrição médica durou 6 minutos. Mais 47 minutos de espera para a colocação da vinheta e marcação de nova consulta. Vá lá, vá lá, na repartição de finanças apenas esperei 52 minutos pelo sistema informático. E apesar de que, entre o último chamado, antes da avaria, e a minha senha, houvessem 42 números de diferença, nem todos tiveram paciência para esperar e lá me safei. Ao todo perdi 185 minutos. Praticamente dois jogos de futebol já com os descontos. Mas sem prolongamento. Produtividade?

Produtividade 2
À saída do posto médico um casal chamou um táxi. O taxista tomou os passageiros e arrancou de imediato. Antes que tivessem tempo de colocar os cintos, mas pior, antes que a passageira que se sentou no banco de trás tivesse fechado a porta do carro. Este taxista sabe o que é produtividade. Não sabe é o que é segurança. Não me admiro que a seguir passasse o semáforo vermelho. Valha-nos ao menos que parará no próximo verde. País de anedotas? Não, nem por isso.

segunda-feira, julho 10, 2006

1005. Pagar duas vezes

Esta notícia não me surpreende. Desde há muito tempo que vem sendo assim. As empresas utilizam o dinheiro que descontam aos trabalhadores para se auto-financiarem. Não entregam as respectivas contribuições nem à Segurança Social nem ao fisco e mais tarde abrem falência. Ninguém é responsabilizado, os empresários continuam com os seus brutos automóveis de topo de gama, as suas mansões, as suas casas de férias nos melhores locais de Portugal e do estrangeiro, as mulheres e as filhas nas vernissages e nas capas de revista, os filhos nos melhores colégios. Vêm depois os governos, aqui del-rei que a segurança social está falida, que é preciso aumentar a idade da reforma, que é preciso que os trabalhadores financiem, uma vez mais, a mesma Segurança Social. Aquela que já financiaram à partida para encherem os bolsos a uma dúzia de gulosos. Tudo com a conivência dos vários governos que temos tido desde o 25 de Abril e que como é óbvio iremos continuar a ter. É por isso que a minha bandeira portuguesa só se desfralda por causa da selecção nacional de futebol. Não alinho com esta promiscuidade.

sábado, julho 08, 2006

1004. Ao Sábado alguem lê blogs?

Eu não devia ser assim, mas… Porque é que depois de termos perdido com a França num jogo de futebol eu perdi a pica pelo Tour de France?

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Não me admira nada que a plataforma logística, ontem apresentada com pompa e circunstância pelo Governo, seja um investimento espanhol. Há mais de 10 anos que tenho um jogo de setas que quando acertamos no centro nos responde “bien apuntado!”.

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Por falar em pompa e circunstância, porque é que sempre que o Governo faz este show-off (recorde-se também a refinaria de Sines), da apresentação de um grande investimento, com a criação de uma data de postos de trabalho, poucas semanas depois fecha mais uma fábrica e vão mais de mil trabalhadores para o olho da rua?

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Simplex não é? Para pagar a contribuição para a segurança social da minha filha e da minha empregada não me foi autorizado a passar um cheque pela totalidade. Dirigido à mesma entidade e pago na mesma hora foram necessários dois cheques em separado. É muito simplex para a minha cabeça.

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O Sr. Ministro das Finanças anunciou ontem que Portugal vai poupar 955 milhões de euros em dois anos, na Administração Pública. Sem dizer bem como, sempre foi adiantando que será à custa do congelamento de salários e de carreiras bem como um rigoroso controlo de admissões. Reiterou o princípio de que para cada nova entrada serão necessárias duas saídas. Tendo em conta o meu post de ontem, ainda gostaria de saber quais foram os dois adjuntos do ministro Silva Pereira que tiveram de sair para a admissão da Drª Vera Sampaio. Mas isto talvez seja querer saber de mais.

quinta-feira, julho 06, 2006




















1003. Felicidades no seu novo emprego

Eu não tenho nada contra. Na realidade apenas me entretive a consultar o Diário da República. Mas faz-me muita espécie como certas pessoas não têm nenhuma dificuldade em arranjar emprego e outras passam anos para o conseguir. Muitas felicidades à Vera de todo o meu coração. Por algum lado se tem de começar não é?

segunda-feira, julho 03, 2006

1002 . Futebolândia

O príncipe Felipe de Bourbon assistiu, com sua esposa Letícia Ortiz, ao jogo França x Espanha. Também Giscard d’Estaing assistiu ao jogo França x Brasil. Angela Merk não perde um jogo da sua Alemanha e até José Sócrates esteve presente no Portugal x Angola. Não tenho a certeza, porque não vi todos os jogos, se Prodi já esteve nas bancadas e não posso garantir, mas quase aposto que sim, que Cavaco Silva estará presente se Portugal for à Final da Taça do Mundo (ou talvez até já na meia-final). Para José Pacheco Pereira devem tratar-se de alienados. Com tanto problema no mundo e estes gajos e gajas a verem futebol. Ora se fossem mas é resolver o problema da Bolívia.

Ainda Pacheco Pereira, na sua crítica à futebolândia e ao tratamento jornalístico, refere no Abrupto o que tem passado ao lado dos portugueses. Transcrevo “…deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...) na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc.”
Eu não sou de intrigas, mas acredito que no “etc.” que lá colocou ele também gostaria de ver discutida publicamente a questão das fragatas e dos F-16, comprados e nunca usados, entretanto postos à venda, na perspectiva das responsabilidades de quem comprou, dos interesses que estiveram por detrás (se é que houve interesses) e no julgamento dos responsáveis por este devaneio de lesa-cofres que é como quem diz, também a mim me vieram ao bolso. Ou então estou a exigir demais ao Pacheco Pereira e ele não queria nada disso.

Ainda no campo do futebol quero reiterar a minha convicção de que aos sapateiros deveria ser interdito tocar rabecão. Quer dizer eu não sou pela supressão da liberdade de expressão, sou apenas contra a impunidade do disparate. Ao cineasta António-Pedro de Vasconcelos, concedo-lhe a dúvida, que crítico não sou, de fazer bons filmes. Já afirmar que o modelo do Campeonato do Mundo de Futebol deveria ser revisto, pois vemos selecções serem afastadas quando praticam “futebol de sonho como o Gana e Argentina” (sic), em favor de equipas das quais nada se viu (como Portugal, lido nas entrelinhas ou escutado nos silêncios, como queiram), é de sapateiro mesmo. Ou António-Pedro de Vasconcelos acha que o Mundial é o Festival da Eurovisão ou o Festival de Cinema de Cannes? Vamos a votos e acabamos com os golos, é?

Queria já acabar com isto, porque um post grande ninguém lê, mas não me posso calar ante a fúria anti bandeiras nas janelas, que tenho ouvido e lido a todos aqueles que se querem aproximar das opiniões intelectualizadas da nossa praça. Se as vitórias alcançadas pela selecção nacional, não são motivo para aumentar a auto-estima dos portugueses nos últimos meses, que os (nos) façam erguer uma bandeira nacional, dêem-me um só, mas um só, exemplo de um outro feito no último semestre que me faça levantar uma bandeira, que a levantarei de bom grado. Posso até dar uma ajudinha, por exemplo, uma medida governamental, (não vale a banda larga e a sua equiparação à electricidade no século XVIII porque o Benjamim Franklin, o Edison, o Foucault, o Faraday, e mais uns quantos, desatam-se já a rir).