terça-feira, julho 26, 2005

784. Eu também tenho uma palavra

Em relação às presidências. A direita não se preocupou, até agora, na afirmação do seu candidato. As hesitações em relação a Cavaco Silva e deste mesmo, em relação à sua candidatura ou não, têm deixado esta área visivelmente nervosa. Mas mais nervosa não podia ficar, primeiro quando Freitas do Amaral não pôs de parte a hipótese de se candidatar e depois quando Mário Soares quase que declarou estar com um pé na corrida. Sempre achei, na vida política, como um caso mal resolvido as partes se preocuparem mais com o seu antagonista do que com a afirmação da sua área de influência. Eu sou capaz de entender isto a outros níveis. Ainda sou do tempo em que as equipas adversárias se borravam (literalmente) todas quando no Benfica jogava o Eusébio, ou antes ainda, quando no Sporting jogava o Peyroteo. Mas na política?

No entanto, não é exactamente por isto que eu escrevi este texto. Escrevi na sequência de outras opiniões que tenho emitido em relação aos políticos da actualidade. A cultura da tecnocracia, da chamada “competência” na gestão, em que hoje em dia, qualquer que seja a figura de topo nas organizações políticas ou institucionais sabe falar de cátedra no deficit mas não encontra soluções políticas para coisa nenhuma, cria-me um mau estar interno e uma descrença total em relação ao futuro. Aparentemente existe uma classe política. Mas o que é isso? Um grupo de pessoas que à conta de um cartão filial ganham vantagens? Um grupo que faz um tirocínio no Governo ou no Parlamento como ponto de passagem para a direcção de uma Empresa, seja pública ou privada? Um grupo que acumula reformas chorudas de empresas e se dão ao luxo de poder ingressar na política, ou vice-versa? Esta inexistência efectiva de políticos “à maneira” - passe o popularucho da expressão - obriga ao ressuscitar velhos monstros do passado, chamem-se eles Cavacos ou Soares. Já agora porque não também na corrida às presidenciais Raul Rego, Álvaro Cunhal ou Emídio Guerreiro. O quê? Já morreram? E ninguém os substituiu?

segunda-feira, julho 25, 2005

783 (En)Fado

Segunda-feira, 17:55h, Almada Fórum. Um tipo chega lá com a intenção de comprar uma meia dúzia de latinhas de guloseimas para os gatos. Vá lá, talvez uma garrafa de vinho para o jantar. De repente, encontra a mulher e a filha às compras. Resolve fazer-lhes companhia. São 20:50 e ainda lá está. Ou comprou todas as latas de comida para gatos existentes no centro comercial, ou reforça a ideia de que ir às compras com uma mulher não faz um homem feliz. Imaginem com duas.

PS. Batam, vá, batam queridas leitoras.

sábado, julho 23, 2005

782. 2€

Este blog está uma seca. Nem uma comissária europeia lhe valerá.
Ao contrário dos blogs respeitáveis ainda não falou dos atentados de Londres.
Ao contrário dos doutos blogs tipo desportivos ou tipo nunos rogeiros ainda não falou nem da pre-época futebolística, nem da demissão do ministro das finanças, nem dos incêndios que grassam no país, nem do Freitas do Amaral, à presidência, já!, nem do número de vítimas provocadas pela invasão terrorista do Iraque, nem fez reportagem do live8 nem do seu padrinho G8, não descreveu as compras feitas no Salão Erótico.
Isto não é blog que se tenha. E a blogosféria (assim alguma, tipo o Felipe dos musicais) sabe-o e não perdoa, votando este espaço de séria reflexão quase ao abandono o que, diga-se de passagem, tem desesperado o seu autor a modos que a depressão acentua-se dia a dia e se não se for desta também não se irá nunca – estou a referir-me ao abandono das lides.
Mas imperdoável mesmo, é este blog ter desprezado o mais quente e quiçá interessante tema que a blogosfera, à semelhança da comunicação social, das conversas de café, das conversas à mesa de jantar e até nos secretos pensamentos de cada um de nós, de vós e dos que dizem que nunca pensaram nisso(até de rabo sentado na sanita se conjectura) é, escrevia eu, ter desprezado o tema Euromilhões. E depois queres que te leiam, queres. Hás-de ir longe, com esse teu feitio.

PS. Para que não restem dúvidas, também gastei dois euros e acho uma injustiça ter feito um investimento tal e não me ter saído nem o último prémio. E logo eu que já tinha prometido um gelado ao meu sobrinho. Deixa lá lindo, fica para a próxima.

sexta-feira, julho 22, 2005

781. Está quase

Pelas minhas contas faltam 21 cigarros para deixar de fumar.

quinta-feira, julho 21, 2005

780. Língua de Gato

O Schubert e a Yasmin esperavam-me à chegada. Desta vez não me miaram para lhes dar comida. Deitaram-se no chão à espera de uma festa. Peguei-lhes ao colo e encostaram a cara deles ao meu focinho. Afinal, saudade não é uma palavra exclusiva do Português. Ela também existe na língua de gato.
779. Jeitos

Que era uma perda de tempo fazermos a barba. Noutros tempos havia até quatro barbeiros na aldeia. Os homens não cortavam a barba em casa, iam ao barbeiro. Entre uma chalaça e outra história de vida se passavam duas horas para cortar a barba. Um desperdício. Já o cabelo não. Ele sempre teve jeito para a tisoira. Visse ele tão bem a cabeça atrás como vê à frente, que seria ele quem cortaria o seu. Intigamente, quando o pai tinha mulas era ele que lhes aparava as crinas e lhe ajeitava as caudas. Havia até quem dissesse, que ele se poderia ter tornado tosquiador. E rebanhos de ovelha eram o que não faltava. Ele tinha (e ainda tem) aquele jeito para a tisoira.

sábado, julho 16, 2005

778. Pai do Vento

Hoje ouvi o Sr. Ministro da Economia anunciar que vai ser aberto concurso público para o fornecimento de energia eólica. Nem sabem a alegria que este anúncio me deu, não por mim mas por causa de um amigo meu.

Quando este meu amigo casou teve um incidente, quase de mau gosto contar. A mulher dele teve uma falsa gravidez e passados vários meses após a detecção da dita “gravidez” verificou-se que o útero mais não continha do que ar. A malta, sempre no gozo sem se aperceber do drama, chamava-lhe o pai do vento. Ele nem se chateava muito excepto quando alguém lhe pedia o pénis emprestado para encher os pneus do carro. Com o anúncio feito pelo ministro não tenho dúvidas que vai ser ele a ganhar. De caras!

PS. Meu caro L. (inicial fictícia), vais-te vingar. Vais foder os que te xeringavam a cabeça. Nem que seja uma bombada eólica, a vitória já é tua.

quinta-feira, julho 14, 2005

777. A proverbial will

Eu hoje estava com vontade de me armar em intelectual e publicar um daqueles posts em inglês, como fazem alguns bloggers de alta cultura. Mas o que acontece é que eu não sei patavina de estrangeiro e socorri-me do Google. Mal comecei, I broke the coconut to laugh. Mas como who porfia bush hunts e como a minha avó me dizia que as many times go cantaro to the source that has one day broken the wing, não desisti. Na verdade não está a sair muito bem ou então é inveja minha dos tais posts. Pois é, the hen of my neighbor is better of the one than mine mas como valley more to break of that to twist e teimosinho sou eu, tendo em conta que the given horse does not look at the tooth, não desisti de usar o tradutor do Google. O pior é que já nem eu mesmo sei o que escrevi antes, mas como the night is good council member talvez deixe para mais tarde a revisão do texto, embora eu saiba que não deva to leave for tomorrow what I can make today, a verdade é que more valley late of that never. Posto isto poderei ficar sujeito a alguns comentários maliciosos mas aviso-vos já que the dirty clothes are washed in house. No entanto bons ou maus até porque the excellent one is enemy of the good one, façam o favor de não ficarem de mãos nos bolsos e escrevam qualquer coisinha. Nunca esqueçam que laziness is the mother of all the vices e para preguiçoso e viciado basto eu. Com isto estou com fome e como empty belly does not know joy, I go there, already I come.

PS. it does not have badly that the time does not cure.

segunda-feira, julho 11, 2005

776. É lixado

Não me venham com merdas. Ter um blog, é meu e só meu, como se fosse um gelado da Olá, não o criar privado e expô-lo publicamente. Quem quer privado privadíssimo escreve no Word (ou noutra coisa qualquer) protege com password ou fecha o caderninho numa gaveta, com cadeado e tudo. Quando se cria um blog público é para os outros lerem e pronto, ponto final (neste caso parágrafo porque vou continuar).
Então é assim (ai que bem que ficou aqui este então é assim), quem escreve um blog para os outros lerem e além disso tem uma caixinha do “diga de sua justiça” que é como quem diz um espaço para se comentar, gosta de ser lido e gosta de ser comentado. Eu gosto, não o nego e, de vez em quando dá-me para responder um a um tornando o este espaço num espaço aberto de diálogo (viram como evoluí? eu não digo o meu cantinho; isto não é nada meu, é de todos os que por cá passam). Agora, minhas amigas leitoras e meus amigos leitores – ai meusdeusesdocéu há quanto tempo que eu não me referia a vós desta maneira – esta mania de ter dois blogs, públicos, gostar de os divulgar pois então, e cada vez que deixo um comentário não saber como é que devo assinar, se referenciando aqui o Pré ou ali os Botões é lixado. Mas é que é mesmo lixado.
775. Dias simples

Mais um fim-de-semana alentejano.
No calor do interior, no silêncio quebrado por pássaros, no descanso da rede (brasileira, pois claro) estendida poste a poste.
As pinturas já terminaram, mas as andorinhas não voltaram ao ninho. Pedia ao pintor que não o destruísse, elas eram uma companhia constante, até que o Sol se punha. Ele assim o fez, mas elas não voltaram.
Joguei para o lixo a mesa de ping-pong. Não foi por causa da ciática mas sim porque se tinha estragado. Qualquer dia compro outra… quando a ciática se for embora.
O programa de redução de nicotina está a resultar. Por enquanto. Até eu estou espantado.
O Benfica ganhou o jogo de preparação na Suiça. Mesmo a feijões gosto que os encarnados ganhem.
O amassador de latinhas já está de novo colocado na parede. E eu amassei algumas. O tempo convidava a umas bejecas.
Este fim-de-semana não fui à Tapada. Acordava da sesta tarde e más horas, já não dava. Troquei a água tépida e azul do lago, pelo queijo de ovelha e pelo salpicão de porco preto.
Hoje, repetindo o que faço há três anos, não vou trabalhar.

quinta-feira, julho 07, 2005

774. Cada terra com seu uso…

… ou como alguns fazem os chouriços.

Chouriço Grosso de Estremoz e Borba is the product of pieces and stripes of bacon, shoulder, topside and leg from Alentejano pigs, with the sausage containing no more than 30% fat. After selecting, washing and cutting the pieces, the remaining ingredients are added to produce the final product. Following preparation and seasoning, the product is left to mature, then moulded, tied and smoked with wood from the region (holm oak).

In Official Journal of European Communities – C102/5 – 27.04.2002
773. E portanto, importante

Blog importante não tem links para outros blogs.
Quando blog importante tem links, só tem links para blogs importantes.
Blog importante não tem comentários.
Quando blog importante tem comentários então é porque não é verdadeiramente importante.
Blog importante é citado na Capital e na SIC.
Quando blog que não é importante é citado na imprensa é porque serviu os objectivos do órgão que o referiu.
Blog importante é escrito a qualquer hora e de qualquer lugar. Mesmo nas horas do patrão e no local de trabalho. Quando o patrão sou eu com os impostos que pago não dou importância ao blog.
Quando blog importante não é importante para mim, então é porque é mesmo importante.
Blog importante também completa aniversário.
Quando blog importante completa aniversário, quase toda a blogosfera cita blog importante para dar os parabéns. Blog importante gosta que vassalos se ajoelhem.
Vassalos gostam de se ajoelhar, por isso veneram Valentins, Isaltinos, Ferreiras Torres, Fátimas Felgueiras, Jardins e outros mais.
Blogs de vassalos também são importantes quando vassalos prestam vassalagem efectiva aos seus donos, aos seus Lopes, aos seus Portas, aos seus Mendes, aos seus Sócrates, aos seus Pachecos.
Eu gosto de ver blogs importantes prestarem vassalagem… e serem citados.

quarta-feira, julho 06, 2005

772. Tempos novos, velhos tempos

Quando entrei para a última empresa onde trabalhei como Director de Informática, na cerimónia de despedida do antigo titular do cargo, este ofereceu-me uma pequena caixa de madeira em raiz de nogueira, muito bonita por sinal, dizendo-me discretamente ao ouvido: esta é a herança que lhe deixo.
Mais tarde, no sossego do meu novo gabinete, abri paulatinamente a caixa onde encontrei três envelopes fechados e numerados de 1 a 3. Por cima dos referidos envelopes, um pequeno bilhete, assinado pelo meu antecessor que apenas dizia: Em caso de dificuldade, abra os envelopes pela ordem numérica.
Da primeira vez que senti dificuldades efectivas na execução das minhas funções, sobre o que tive de dar explicações ao Conselho de Administração, abri o envelope número 1.
“Prepare um discurso baseado na actual conjuntura. Mostre que você está a ser vítima das circunstâncias e prometa que tudo vai melhorar”
Não posso deixar de comentar que a minha primeira prova de fogo foi um êxito. Saí com confiança redobrada e pude, assim, continuar a minha tarefa.
Quando me vi de novo em apuros abri o envelope número 2.
“Não se esqueça de referir que agora não é só a conjuntura, mas que o legado deixado pelo seu antecessor, devidamente armadilhado, pleno de incorrecções e má-fé não lhe permite desempenhar as tarefas como se tinha comprometido. Afirme que depois de saneada a máquina e corrigidos os defeitos, tudo irá correr às mil maravilhas”.
Escusado será dizer que o meu antecessor só não foi excomungado porque o Conselho de Administração não tinha os poderes do Vaticano.
Quando tive de abrir o envelope número 3…
“Escreva 3 mensagens como as que teve oportunidade de ler, feche-as em envelopes numerados e deixe como herança ao seu sucessor”.


PS. O texto acima é total ficção. Qualquer semelhança entre esta velha história os nossos Guterres e Durão e, quiçá o nosso Sócrates, é mera coincidência.

segunda-feira, julho 04, 2005

771. Infelizmente

Carla Quevedo assina na revista “Única” do semanário Expresso, uma página semanal com o mesmo título do seu blog: Bomba Inteligente. Este fim-de-semana, numa nota sobre o pintor colombiano Fernando Botero, dispara a seguinte frase que me deixou perplexo: “Botero deixa, infelizmente, mais uma vez os temas pastorais, as naturezas mortas, as famílias, as mulheres e os homens com cães, para mostrar a sua revolta contra a crueldade e a injustiça” (fim de citação). Eu sei pouco de Língua Portuguesa e muito menos de Fernando Botero, mas o que leio é um lamento – “infelizmente” – pelo facto de Fernando Botero pintar a “sua revolta contra a crueldade e a injustiça”. Em vez disso Carla Quevedo preferiria os homens com cães. Em vez das atrocidades dos homens de Bush, talvez Bush passeando o cachorrinho Barney. Seria muito menos “infelizmente”. Ou será que li mal?
770. Profundo

Enquanto alguns dos meus mais depravados amigos e obviamente amigas também visitavam a Feira Erótica, passeava eu pelo Alentejo mais profundo, terra que adoptei de alma e coração, ou não fosse eu um apaixonado pela minha Maria, essa sim Alentejana de todos os costados. E quando os alentejanos cantam ao despique, e os copos vazam os jarros, e os jarros esventram os pipos, obtemos pérolas destas.


Ê já vi nascer o Soli
Entre as forcas dum chaparro
Engani-me que era a Lua
O Sol na nasce tão tardi.

Ê subi o êcalitro
Com o tê retrato na mão
Desêcalitrei-me dali a baixo
Bati c’ os cornos no chão.

Hoje tá lindo o luar
Que bonita vai a Lua
Na te ponhas praí olhar
Qu’ê te quero ver-te nua.
769. BlogoLivro, livra?

Quando há algumas semanas atrás surgiu na blogosfera uma pequena discussão sobre a questão livros de blogues, sim ou não, eu coloquei-me sempre do lado do sim (só não quis imitar o Pacheco Pereira a criar o Sítio do Sim aos Livros, porque não). Mas, infelizmente constato que alguns blogs depois de terem publicado o tal livro saído do dito cujo, ou desapareceram, ou passaram a ser um painel publicitário do mesmo, ou tornaram-se uma grande M*E*R*D*A. Assim com as cinco letrinhas, sem mais nem ontem. Com pena minha pois claro, porque gostava dos blogs. Pareceu-me que este post indicia uma nova autora, uma nova blog-autora quer-se dizer. Só espero continuar a ter o “meu” 100nada.
768. A minha prima Carla

O texto hoje publicado no Alto Mar fez-me lembrar uma velha história. A minha prima “Carla” (nome fictício – esta aprendi com o Correio da Manhã e com a TVI), sempre teve o seu quê de irreverente. Desde muito nova trabalhou como balconista numa loja de pronto-a-vestir. Um bem-posto cavalheiro, depois de provar e de se decidir por um fato de alpaca azul-escuro, a condizer com uma camisa de risca fina, também azul (a risca) que, à falta de Rosa & Teixeira, era apenas Pierre Cardin e de uma gravata em seda da Dior, obviamente amarela com aplicações azuis, notem que o amarelo era mais amarelo-torrado, mandou passar a factura em seu nome. E que nome devo inscrever na factura?, perguntou-lhe a “Carla” (nome fictício), não antes de se certificar de que o referido senhor era portador do seu número de contribuinte ou se pelo menos o sabia de cor. Que sim senhor, pode passar em nome de Eng.º Fulano de Tal. Apanhei-te pensou a “Carla” (nome fictício), tem graça que tenho um primo com o mesmo nome que o senhor. A sério, também se chama Fulano de Tal?, perguntou admirado o cliente do fato azul em alpaca finíssima de uma marca italiana cujo nome olvidei. Esta admiração advinha do facto de Fulano de Tal ter um nome pouco comum, mas menos complicado do que Hipaninondas ou Eufrázio. Que não, respondeu a “Carla” (nome fictício), o meu primo também se chama engenheiro.