quarta-feira, julho 06, 2005

772. Tempos novos, velhos tempos

Quando entrei para a última empresa onde trabalhei como Director de Informática, na cerimónia de despedida do antigo titular do cargo, este ofereceu-me uma pequena caixa de madeira em raiz de nogueira, muito bonita por sinal, dizendo-me discretamente ao ouvido: esta é a herança que lhe deixo.
Mais tarde, no sossego do meu novo gabinete, abri paulatinamente a caixa onde encontrei três envelopes fechados e numerados de 1 a 3. Por cima dos referidos envelopes, um pequeno bilhete, assinado pelo meu antecessor que apenas dizia: Em caso de dificuldade, abra os envelopes pela ordem numérica.
Da primeira vez que senti dificuldades efectivas na execução das minhas funções, sobre o que tive de dar explicações ao Conselho de Administração, abri o envelope número 1.
“Prepare um discurso baseado na actual conjuntura. Mostre que você está a ser vítima das circunstâncias e prometa que tudo vai melhorar”
Não posso deixar de comentar que a minha primeira prova de fogo foi um êxito. Saí com confiança redobrada e pude, assim, continuar a minha tarefa.
Quando me vi de novo em apuros abri o envelope número 2.
“Não se esqueça de referir que agora não é só a conjuntura, mas que o legado deixado pelo seu antecessor, devidamente armadilhado, pleno de incorrecções e má-fé não lhe permite desempenhar as tarefas como se tinha comprometido. Afirme que depois de saneada a máquina e corrigidos os defeitos, tudo irá correr às mil maravilhas”.
Escusado será dizer que o meu antecessor só não foi excomungado porque o Conselho de Administração não tinha os poderes do Vaticano.
Quando tive de abrir o envelope número 3…
“Escreva 3 mensagens como as que teve oportunidade de ler, feche-as em envelopes numerados e deixe como herança ao seu sucessor”.


PS. O texto acima é total ficção. Qualquer semelhança entre esta velha história os nossos Guterres e Durão e, quiçá o nosso Sócrates, é mera coincidência.

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