sábado, outubro 29, 2011

1589. Oito anos



De repente, um esquecimento. Passou um melro e comeu-o.
Depois uma lembrança. Passou um maracujá e espremeu-a.
A seguir um pedido. Passou um bife da vazia e esqueceu-o.
Mais tarde sentou-se no banco de um café um pequeno grão de milho.
Passou um pombo e ignorou-o.
Já a tarde tinha entrado havia horas. Entrou um relojoeiro e parou-as.
A pedra de gelo, sentiu-se com calor. Veio um unicórnio e lambeu-a.
Lambeu também uma cabeça de carapau, duas baratas sem pernas e um tiranossauro rex.
Um velho, sem chapéu a cobri-lo, trauteava uma velha canção dos Açores.
Passou por nós, sem sentido, um flato de uma garota, que descuidada pôs a mão na boca e corou.
E assim, ia passando o tempo que acabava de começar. E quando o pano caiu tinha-se acabado o primeiro ato.

Quando ele escreve, torna-se perigoso. Anda há oito anos a falar para as paredes e para o seu gato de estimação. Agora toca cavaquinho.

Quando o seu blog, triplicando a idade de hoje, fizer vinte e quatro anos, ele não sabe se estará cá para o escrever. Cantem-lhe um fado Mouraria estilizado se ele deixar saudades.

domingo, outubro 23, 2011

1588. Lunch Time Blog



Um dia destes perguntava uma amiga minha no Facebook se alguém conhecia um método verdadeiramente eficaz de descascar cebola sem chorar. Eu não sou propriamente um chef mas se há hobbies que me satisfazem, um deles é o de me enfrentar com a bancada da cozinha. Não saem pratos gourmet, não há cozinha molecular nem mariquices supérfluas de empratamento mas, dizem os que comem, que saem dali petiscos de truz. Pois minhas queridas leitoras e meus queridos leitores eu passo um tormento indiscritível com a cebola. Passo não, passava. E não pensem que foi com as respostas que colocaram no Face ao pedido da minha amiga. Não foi porque na verdade não resultam, já que já as experimentei todas. Não resultam para mim, claro. Mas eu próprio, numa de momentânea inspiração sugeri que ela usasse óculos de natação. Então não é que hoje, experimentei a minha dica e tenho aqui os olhos limpinhos como se as cebolas não tivessem ácido? Temos é que depois deixar assentar um pouquinho a poeira. E pelo sim pelo não, lavar os óculos e as mãos em abundante água corrente.

PS. O meu gato Schubert não aprecia muito estes petiscos. Ele é mais ração da Royal Canin e latinhas da Gourmet. No entanto ao ver-me assim, de óculos de natação a cozinhar pediu-me para lhe comprar uns para ele. Diz que também quer parecer um extra-terrestre.

terça-feira, outubro 11, 2011

1587. À atenção de Nuno Crato.

Oh Crato, organiza-te meu! Bem sei que nestes últimos anos tivemos como primeiros ministros Cavaco, Guterres, Durão, Santana e Sócrates e se queres que te diga, para mim isso não abona nada a nosso favor. E também não abonam nada a nosso favor, os ministros e secretários de estado da educação que tivemos. Agora com Passos meu, e principalmente contigo Nuno, estamos todos muito esperançados. Por isso, organiza-te. Ainda há pouco, quando vinha da papelaria onde fui meter o boletim do euromilhões (bem sabes que sem um bocadinho de sorte ninguém sabe onde vai parar) estavam dois cachorrinhos na brincadeira. Os canitos, como se diz lá na minha terra, teriam 3 a 4 meses de idade, pareciam gémeos e brincavam desalmadamente. Coitaditos, ao contrário da maioria dos portugueses, nem fazem ideia, com aquela idade, do que vai ser uma vida de cão. E cabriolavam, rebolavam-se, saltavam um por cima do outro. Na assistência, onde pontificavam os donos dos bicharocos, apenas crianças, cujas carinhas não me indiciavam ter mais de 13 anos, incluindo os proprietários dos bichinhos. Pois meu caro Nuno, do meio deles veio a frase que me chocou e que me mandou fazer este post. Uma menina disse em voz alta, olha ele está a querer ir ao cu ao outro. Pelo amor de Deus, Nuno. Não me defraudes. Põe mão nisto. Organiza-te, meu, deixa lá os museus em paz.

PS. Acho que os museus é mais coisa do Viegas, mas Crato, desde o Arnaldo Matos que não temos um grande educador. Faz-me lá o favorzinho de educar também o Francisco.