Costumo
achar, como se diz agora noutras linguagens que não vêm a propósito, que tenho um
critério muito largo no que respeita ao humor. Chego mesmo, por vezes, a
sentir-me isolado ou deslocado quando esboço um sorriso enquanto os outros que
me estão perto parecem estar num velório. Não admira pois que ainda hoje,
apesar de ter visto dezenas de vezes as mesmas cenas, "parta o coco"
a rir com Vasco Santana, com António Silva, com Ribeirinho e que, a imagem do
eterno compère Eugénio Salvador me seja,
também, tão presente. Raul Solnado é
para mim (a expressão ainda se não usava nessa altura) o melhor ator em
stand-up comedy que alguma vez vi e ouvi e o grande José Viana o homem a quem
melhor escutei a contar uma anedota. Não por ser intelectualmente correto
dizê-lo, mas porque não me revejo em anedotas contadas como sketchs televisivos, não faz parte das
minhas preferências o humor tipo «Malucos do Riso», pese embora o meu anunciado
critério largo, confessando, no entanto, que em um ou outro momento tenha soltado
uma gostosa gargalhada. Nunca conheci um comediante "tão sério" como
Mário Viegas e ainda hoje não ouvi ninguém ler um poema de Mário-Henrique
Leiria como ele em que não sabemos se havemos apenas rir ou, em alternativa,
chorar a rir. Herman José fez-me, durante muitos anos, sentir apaixonado
pelos seus programas de humor e até com os
Gato Fedorento ri a bom rir (já sei que vou levar porrada de alguém). E vi
também aparecer em programas mais recentes (?) como o «Levanta-te e Ri» alguns
personagens que me alegraram os serões televisivos, como o Bruno ou o Serafim.
Vem este
relambório a propósito de uma coisa que ontem passou na SIC Radical, chamada «Roast».
Já sei que a resposta ao que vou dizer é que só vê quem quer, quem não quer
muda de canal. Mas isso é treta. Então nunca poderia haver crítica. Toda a
gente mudaria de canal quando a coisa não prestasse (ou não gostasse) e,
pronto, mandava-se às urtigas a análise crítica e o direito à opinião contrária.
Felizmente tenho bom estômago e não vomitei durante o programa. Consistia
aquela coisa (chamo-lhe coisa porque não consigo arranjar um adjetivo
qualificativo para aquilo) em apresentadores e criadores de programas da SIC
Radical aproximarem-se do microfone para falarem mal dos colegas presentes,
embora também o tenham feito de ausentes, pretendendo ter piada nas suas
apreciações. O que se assistiu foi a um rol de ordinarices em que quase todos
referiam que cada um dos outros e das outras só tinha conseguido um programa na
SIC Radical porque passavam o tempo a fazer bobós ao seu diretor ou a dar-lhe o
rabo. E isto ainda era, talvez, o menos ofensivo. E os outros que depois viriam
insistir na mesma tecla quando chegava a sua vez riam feitos papalvos destas
insinuações, fazendo até crer o espectador que poderia ser verdade. Houve então
um que saiu na rifa aos restantes colegas e passou a noite toda a ser apelidado
de paneleiro e sempre com um sorriso na cara. Culminava a apresentação com cada
um a falar mal da própria SIC Radical, provavelmente na única verdade que diziam,
pois o resto era pressuposto ser apenas piada (?????), referindo que a SIC
Radical havia batido no fundo. Recuso-me referir os nomes dos protagonistas
para não propagandear tão baixa qualidade mas abro duas exceções. A primeira é
para a blogger Pipoca Mais Doce . A senhora
até escreve umas coisas giras, conseguiu uma legião de fãs, tem, provavelmente,
o blog mais lido na blogosfera, é profissional contratada por várias marcas,
ganha uma pipa de massa assim, aceito, obviamente, que merecidamente e esteve
menos mal na apreciação dos companheiros, não caindo na ordinarice pura e dura, malgré não ter resistido a chamar puta a
uma outra que lá estava. Acho que a Ana Garcia Martins não precisava de ter
aceitado aquele convite, mas da carteira de cada um, cada um é que sabe e é lá
com ela. A outra para o diretor da SIC Radical, um tal Boucherie que é mais
conhecido por ser júri no programa «Ídolos» e ter gozado com a deficiência de
um concorrente efetivamente deficiente do que por ser diretor daquele canal do
cabo. E refiro-me a ele porque fiquei com a impressão de que ele não estava nada envergonhado
com aquilo a que assistiu. Se fosse eu o diretor, apesar do meu estômago ser
bastante resistente era capaz de ter levado um baldinho comigo. É que ao vivo e
a cores não sei se conseguiria resistir ao vómito.