Não sou um utilizador da
velha guarda das portagens de via verde. Não que não ache a tecnologia
interessante, o processo muito cómodo e até hoje nunca fui fintado com faturas com
valores que não correspondessem à minha utilização. Quando precisei de ir
pessoalmente aos serviços fui sempre atendido com profissionalismo e simpatia. Mesmo
quando me enganei e, por distração entrei numa cancela com via verde, foi fácil
resolver o assunto e a penalização foi nula. No entanto, não fui, nem sou um
aderente incondicional. Fui um resistente porque acho que a abertura de vias verdes
e a sua utilização trás cá para fora uma parte importante do egoísmo que o ser
o humano encerra em si. Porque em troca do comodismo, não importa que por cada
corredor de via verde que abre são pelo menos três postos de trabalho perdidos.
E isso é sempre problema dos outros. Eu fui resistindo, ficando estoicamente nas
filas para as caixas de pagamento de portagens. E vivia muito bem com isso. Até
que um dia me senti frustrado. Na portagem que eu mais utilizava no Alentejo,
terminaram com os portageiros e substituíram-nos por pagamento eletrónico. Ou
via verde ou cartões de plástico. Deixei de ter alternativa, mas o meu esforço
não o senti inglório. Valeu o que valeu. É pela mesma razão que eu não coloco o
tabuleiro nos carrinhos de recolha, quando almoço ou janto nos grandes centros
comerciais. Há lá empregados e devem-lhe ser mantidos os empregos. Eu é que não
sou empregado nem dos restaurantes, nem do consórcio que explora os espaços. E
não preciso que me façam nenhum desconto especial para levantar o meu tabuleiro
(esse desconto nem há) que nem assim eu arrumo o tabuleiro (*). Até ao dia em
que despeçam todos os empregados e me multem se o não fizer. Mas já que não
posso ir a pé nas autoestradas posso deixar de comer nos centros comerciais. A
opção é minha.
(*) Por vezes abro uma
exceção. Quando cedo o lugar a crianças ou pais com crianças. Nem sempre o
empregado está por perto e é penoso ver os putos a fazerem o trabalho que lhes
não compete.
Texto e foto ©Vítor
Fernandes 2019