1114. Eles tratam-nos da saúde, da carteira e da paciência
O Governo prepara-se para actuar de novo no sector da saúde. Uma das medidas do pacote é a de os utentes passarem a pagar uma taxa moderadora exorbitante no caso de serem consultados mais de 3 vezes por trimestre. Ora bem, acredito que haja quem faça da ida ao posto médico um hobby. Se o senhor Ministro o acha, quem sou eu para não achar? É por isso que ele é ministro e eu não, porque ele acha muito melhor do que eu. E os que melhor acham devem ser compensados com cargos de ministros. Mas adiante. O que eu quero perguntar ao senhor Ministro é a quem é que ele vai pedir o pagamento das taxas pela ineficiência, burocracia e incompetência da organização que ele tutela. Quer dizer, que ele acha que tutela. Vamos a um exemplo prático e pessoal que é para ele, o senhor Ministro não achar que é ficção. Eu tenho um pequeno quisto sebáceo que tem de ser removido. Pelo menos a minha médica de família assim o crê. Mas como não pode decidir por ela, mandou-me a uma consulta da especialidade no posto médico, acompanhado de um relatório. O senhor cirurgião, ao fim de dois minutos de consulta, tempo em que esteve a preencher a minha ficha pessoal (a administração pública gasta milhões em novas tecnologias, mas estas coisas não estão ligadas, percebem?), perguntou-me se eu tinha análises recentes. Como de facto eu tinha análises feitas há pouco mais de um mês, marcou-me nova consulta para a semana seguinte para que eu mostrasse as análises. Nova consulta (neste momento já somamos 3), e agora sim podia fazer um relatório para o seu colega de cirurgia do Hospital. E o que constava no relatório? Adivinhem, vá lá! Pois isso mesmo, quisto sebáceo e a respectiva localização. Exactamente igual ao da minha médica de família. Já tive a quarta consulta, desta vez no Hospital. E o que fez o cirurgião, o que foi? Olhou, apalpou e preencheu um documento para que eu assinasse a autorização de extracção do quisto. E o que se passou a seguir, adivinhem de novo. Tirou o quisto? Não! Isso fica para uma quinta consulta. Ah! Mas só leu o relatório do seu colega a meu pedido (na realidade não servia para nada).
Pronto esta é a história de como eu poderei ser penalizado no futuro a pagar balúrdios de taxas moderadores, quando, por minha iniciativa eu fui a uma única consulta que até ver, se transformará em cinco.
Mas como sou picuinhas ainda tenho mais uma coisita sem importância para vos contar. Cronometrei ao minuto (não ao segundo por que não quis) todo o tempo dispendido em deslocações, inscrições, salas de espera e consultas. Não se pasmem porque todos já estão acostumados a isto. Consultas: 8 minutos (inclui os 6 minutos e meio que demoraram os vários intervenientes a preencher fichas). Tempo para inscrição: 64 minutos. Salas de espera 255 minutos.
Sem paciência, a saúde igual e a carteira (daqui a pouco) cada vez mais vazia. Como “eles”, nos tratam bem!
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