893. Receita de Ano Novo
A todas as minhas amigas leitoras e a todos os meus amigos leitores, que me concederam a honra de visitarem o meu blog, desejo um próspero ano de 2006. E deixo-vos a receita escrita por um dos poetas da lusofonia que mais admiro: Carlos Drummond de Andrade.
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo
Ano Novo cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido),
Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas
do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama,
se compreende, se trabalha,
Você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções para
arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro
e gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo
de novo, eu sei que não é fácil, mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e
espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
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