1033. Incursões
(onde o Pre tenta meter a mão numa seara que não é sua e que talvez nem seja bem uma incursão, mas sim uma excursão, um passeio pelo campo dos poetas)
Não, não és poeta se não tiveres a sensibilidade de uma pétala.
Não, não és poeta se não tomares banho com uma só lágrima.
Não, não és poeta se não sorrires em linhas de tristeza.
Não, não és poeta se não fingires que doi a dor que não tens.
Não, não és poeta se não rimares pobreza com pão.
Não, não és poeta se não vês na tulipa uma vulva.
Não, não és poeta se para ti a brisa não tem cor.
Não, não és poeta se não cantares Apolo.
Não, não és poeta se não voares como o condor.
Não, não és poeta se não te deitas sobre o quarto-minguante.
Não, não és poeta se só vires brevidade no relâmpago.
Não, não és poeta se não dramatizas o teu corpo, não cantas a vida ou a morte, não mentes à rima que perdeste.
Não, não és poeta se não souberes caminhar em sentido contrário ao dos ponteiros de um relógio.
Não, não és poeta se não reinventares o amor!
PS. A minha amiga Dinny de Cuiabá no Mato Grosso disse-me que andava com uma “crise de inspiração”. E mandou-me um poema com várias interrogações à sua veia poética. Pediu-me um comentário e eu concedi-lho. O que me saiu foi o texto que acima publiquei. Não sei se te respondi Dinny. Mas tentei, né?
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