Lembro-me de, nos meus tempos de Liceu, ter morrido o filho
de uma contínua, por sinal muito querida dos alunos. No mesmo dia soube-se,
pelos jornais, de uma grande catástrofe
no Paquistão Oriental (hoje Bangladesh) que
ninguém, ou quase ninguém, na população estudantil do meu 4º ano de Liceu sabia
onde ficava, incidente recorrente em tempo de monção, que matou um número muito
elevado de autóctones, nas cheias pela intempérie causadas. Foi até proposto na aula de Português que fizéssemos
uma redação cujo tema seria "O acontecimento e a distância". Está visto
o sentido da proposta da professora. De facto não só nos tocou muito mais fundo
a morte prematura do jovem filho da empregada, com quem, por vezes brincávamos,
do que os milhares de mortos, feridos e desaparecidos numa região que, face aos
media da altura, ainda estava mais
longe do que a distância geograficamente medida.
Mal comparadas (como se diz na minha terra) as distâncias,
em termos autárquicos, o Porto, cidade muito nobre, leal e invicta, está para
mim tão longe como o Bangladesh. Eu vivo nos arredores de Lisboa, Lisboa
implica com a minha vida tanto como Almada e o Seixal e "brinca"
comigo como brincava, em termos de afetos, o filho da nossa contínua. Assim, as
eleições para a C M do Porto, não me aquecem, nem me arrefecem, estão longe, no
Paquistão Oriental e se não fosse a rádio, a televisão, a internet e as 30 mil
autoestradas paralelas que a ligam o Porto ao sul, se calhar eu só saberia onde
ficava pelo Século, pelo Diário de Notícias ou pelos comícios futo-incendiários
de um presidente de clube.
Perguntam vocês, com muita propriedade, porque é, que sendo
assim, eu aqui me refiro ao facto. E eu respondo, porque estou farto de cagões.
Isso mesmo. É que se em termos geográficos o Porto não se vê daqui (atenção
portuenses, amigos e não só, eu adoro a vossa cidade, mas uma coisa é uma coisa
e outra coisa é outra coisa), eu estou ainda mais longe do Rui Moreira do que
do Bangladesh. E se o senhor não quer o apoio do Partido Socialista é lá
consigo. É que quem sabe não seria o PS a boia de salvação para a monção que o
ameaça. E já não estamos tão longe do acontecimento como parece...
PS (post scriptum e não o outro): Ana Catarina Mendes,
porque no te callas?
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