721. A isca e eu (ou, de nem todas as cavadelas sai uma minhoca)
Eu não gosto de iscas. Cheiro-as a uma distância de pelo menos 1 km e logo aí fico com náuseas. Nem de olhos vendados e com uma mola a prender-me o nariz, sou capaz de as tragar. E, podem crer, não é mania minha. A primeira vez que tentei comer fui a correr à casa de banho cuspi-las na sanita. A segunda, pensando eu que era apenas um trauma de garoto, tive uma reacção similar. Só faltou vomitar as tripas. E a terceira, num acto de heroísmo e abnegação, como se disso dependesse a salvação da humanidade, fraquejei das pernas, caí de imediato para o lado com uma quebra abrupta de tensão, chamaram-se os paramédicos e uma voz que me soou ténue em tempo de recuperação de sentidos, sentenciava: “mariquinhas!”
Há programas de televisão que não vejo, jornalistas e colunistas que salto por cima, blogs que não me atrevo a abrir a página. Mas quando de repente me deixa de cheirar a iscas, vou lá experimentar de novo para ver se afinal sempre é algum “trauma de criança”. Quase sempre corro rapidamente em direcção à casa de banho e é lá que a bílis se mistura com o ingerido. As tripas, essas, acabam por ficar. Para uma próxima tentativa. Às vezes ainda oiço a mesma voz: “masoquista”.
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