969. Um espectáculo espectacular ou a sem vergonhice quarto-mundista. Avé Caesar!
Inaugura-se a nova Praça de Touros do Campo Pequeno. Apesar do Coliseu, apesar do Pavilhão Atlântico e apesar do Parque da Bela Vista e talvez também apesar do Centro Comercial Colombo ou do Centro Comercial Vasco da Gama, acredito que Lisboa precisasse de um espaço assim. Um espaço de espectáculos ao ar livre e um espaço comercial mesmo no coração da cidade. Mas (há sempre um mas) este recinto vai também e pior, principalmente, ser palco de um dos mais brutais espectáculos dos nossos tempos: a Tourada.
E se tourada é considerada um espectáculo é porque ela é espectacular. E eu não nego que o seja. Já vi mais de um milhar de fotos de tourada, da espectacularidade das fintas de um bem tratado e ornamentado cavalo, da não menos espectacular chicuelina ou da meia verónica. Dos espectaculares picadores e da espectacular estocada final. Um espectáculo. Mas não deixa de ser espectacular (literalmente) uma foto das torres gémeas de Nova York a arder, das imagens espectaculares de um incêndio na serra da Estrela, do espectacular cogumelo de Hiroshima. Alguém duvida? E quem defende?
Amar os touros! Este é um argumento usado pelos defensores da tourada. Amar os touros torturando-os e, agravadamente, em público! Amar os touros! Tal como foi amar a paz atacar as torres de NY! Os argumentos não são muito diferentes. São de pessoas que amam.
Claro está que no campo, são bem tratados, são acarinhados, são alimentados; é preciso apresentá-los em bom porte na arena. Ninguém ligaria a uma tourada em que um touro esquelético, quase moribundo, entrasse na lide. Não teria público, não seria lidado. Como os antigos gladiadores. Sofrer e morrer na arena. Mas eram sempre os mais fortes e os mais bem alimentados. Um espectáculo.
Publicado anteriormente no ante-et-post
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