A Directora do Posto Médico do Pragal em Almada é a Dr.ª Deolinda. Hoje fui lá para tratar de um assunto da minha mãe e o atendimento não tinha ninguém. Iam iniciar uma reunião. Confrontei a Dr.ª Deolinda com o facto de um atendimento que pressupostamente deveria estar aberto, dado o horário de funcionamento, estar fechado para reunião. Disse-me a Drª Deolinda que se houvesse algum caso urgente estaria lá uma recepcionista para chamar alguém. A Dr.ª Deolinda transformou hoje (se calhar já o terá feito antes) um serviço que deveria estar aberto ininterruptamente ao público num serviço intermitente de urgência. Provavelmente ter sido boa aluna na escola levou-a a ser boa médica. Não faço ideia pois não é médica de ninguém da minha família, não tenho opinião. Mas ser boa médica não significa ser boa gestora. Nem todos os sapateiros sabem tocar rabecão.
A Dr.ª Deolinda é uma estátua. Conhecemo-nos desde adolescentes e até hoje nunca tivemos o menor quiproquó. Fomos não apenas colegas de Liceu mas sim colegas de turma. Iniciamos e fomos dois dos cabecilhas de um projecto de alfabetização para ciganos e crianças desfavorecidas nos bairros de barracas de Almada, antes do 25 de Abril de 1974. Demos entrevistas e fomos capa de revista em 1972, quando a nossa acção conjunta, além de ser vista em alguns sectores como subversiva, representava de facto uma lança em África. Militamos no mesmo partido político e chegamos até a ser vizinhos. A Dr.ª Deolinda fez tábua rasa de tudo isso e hoje tratou-me por senhor. De facto eu acho que ela tem razão. Eu sou um Senhor. Ela é uma estátua. De vez em quando as estátuas são arreadas dos seus pedestais.
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