sábado, fevereiro 27, 2010

1522. Mas não era a mesma coisa


Caro Senhor,

Escrevo para lhe pedir um conselho. Sou cliente de um número substancial de prestadores e/ou fornecedores de serviços. Ele é comunicações fixas, comunicações móveis, gás, água e electricidade, empregada doméstica, correios e respectivo carteiro, bancos e cartões de crédito, internet , radiodifusão, televisão por cabo, serviços de recolha de recicláveis, eu sei lá, um sem número de pessoas e empresas para quem eu pago por não poder ou não saber ser auto-suficiente. Nos últimos tempos passei a andar muito satisfeito com um destes fornecedores, a saber, a ZON, a quem tirei do último lugar na qualidade da prestação de serviços, na minha homemade lista classificativa, desde que a internet passou a estar mais tempo operacional do que inactiva e também, valha a verdade, desde que os operadores do call center de apoio ao cliente passaram a saber responder a duas perguntas consecutivas sem me pedirem para que eu desligasse e ligasse o modem e o meu número de contribuinte. De tão satisfeito eu andava com a ZON que recebo os outros vendedores da concorrência, com crucifixo numa mão e uma cabeça de alhos na outra, para que não caísse em tentações, vade retro, enquanto que, com os vendedores da ZON apenas me benzo quando me batem à porta, dia-sim-dia-não (agora foi exagero, algumas semanas são só 2 vezes) e me perguntam quais os serviços da ZON que eu possuo. Mas não me benzo por eles não o saberem, benzo-me para pedir a todos os santinhos que munem a ZON de uma base de dados que permita aos seus colaboradores saberem quem é quem no que respeita à relação de um cliente com o seu fornecedor. Sabe, caro senhor, eu sou daqueles que ainda acreditam em milagres. Mas adiante que já me estou a alongar e pensará o senhor, com alguma razão, que não estou a ir directo ao assunto. Pois eu vou, rogo-lhe apenas que me conceda mais alguns segundos, muito menos do que aqueles vastíssimos minutos que eu espero nas vossas lojas de atendimento ou “pendurado” no telefone. Vejo com frequência a vossa publicidade na TV e não me leve a mal eu utilizar um dos vossos ex-libris publicitários, para vos dizer que também vejo a publicidade da concorrência, mas não é a mesma coisa. E até me mordo de inveja por em minha casa não poder ter um televisor em cada divisão como aquelas famílias felizes que vão tirando élecedês uns aos outros e colocam um na sala, outro no quarto, outro na cozinha, outro na casa de banho, outro na barraquinha do cão. Mordo-me de inveja mas para lá caminho, não julgue o meu caro senhor que sou algum pelintra. E para provar o que lhe digo, já tenho duas boxes digitais HD em minha casa, pelas quais pago à ZON, pois claro, nem de outro modo eu acho que deveria ser, não sou nenhum borlista. E tal é a minha inveja que decidi comprar um novo televisor, desta vez full HD, veja bem que luxo e, à semelhança das famílias felizes a que já me referi há pouco, assim tipo Nicolau Breyner, está a ver o que eu quero dizer?, fui à vossa loja do Almada Forum para solicitar uma nova box para poder tirar proveito do dito cujo televisor. Ora, qual foi o meu espanto constatar que, afinal, vocês não têm para vender/alugar o produto sobre o qual tanto investem em publicidade, diga-se de passagem de muito bom gosto, com famílias felizes e tudo como o João Pinto e a Marisa Cruz. A vossa colaboradora informou-me que há rotura de stocks e quanto muito haverá boxes para novos clientes, que o técnico levará consigo no momento da instalação e ponto final. Ora é aqui que o seu conselho me vai ser precioso e, posto que já deve ter ficado ciente da problemática pela clara, digo eu, introdução feita, o conselho que se me apraz pedir-lhe é o seguinte: devo eu devolver na loja o televisor, full HD (repito), que comprei na semana passada ou, pelo contrário, devo antes voltar a guardar na gaveta o crucifixo e na caixinha dos ditas, as cabeças de alho e procurar, na vossa concorrência, uma solução à minha medida? Eu tenho a certeza que me saberá responder pois, quem é ZON está ON e o senhor director com certeza também estará. É que já me perguntaram se eu poderia viver sem estas gracinhas da ZON. Poder eu até podia, mas não seria a mesma coisa, não acha?

Nota: Este é o texto completo de um e-mail que enviei ao Director de Clientes da ZON ao qual, entretanto, aguardo resposta.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

1521. Al bejes bejo, al bejes num bejo

Vi o Anti-Cristo de Lars von Trier e ainda não sei se gostei. O filme tem algo de perturbante e também algo de superficial. Não gostei do Anti-Nagisa, isto é, há uma inspiração perversa no Império dos Sentidos. Acho que um dia destes vou voltar a ver em vídeo para me questionar de novo se gostei ou não.

Do que vi e gostei mesmo, juro que é verdade, foi dos quatro a um que o meu Benfica aplicou aos lagartos no seu próprio recinto. Mas, obviamente, o Sporting perdeu por causa do árbitro. Aliás, nem me lembro de nos meus últimos 54 anos de vida ter visto o Sporting perder um jogo que não fosse por culpa do árbitro.

Vi hoje o debate do orçamento na AR, pela TV e, às tantas, adormeci. Já não sei se estava mesmo com sono, se cansado ou se este país não é para velhos.

Vi também a entrevista da Judite de Sousa ao presidente do Supremo e, espanto meu, gostei dos dois. Acho que me enganei na época e ainda não percebi que estamos do Carnaval. Em vez de criticar tudo e todos, estou bonzinho. Acho que é das barbas e ainda me situo no Natal.

Faço hidroginástica e natação e ainda não vi o perímetro abdominal diminuir. Mas também não será neste fim-de-semana de quatro dias. Eu e o meu mano, ou talvez mesmo, os meus manos, não deixaremos os créditos das nossas barriguinhas em paios, queijos e vinhos tintos alheios. Como eu dou graças a Deus ter casado com uma alentejana.

Gosto de amoras silvestres (1).

PS. Vi Nelson Mandela ser libertado, há 20 anos atrás e, como disse num comentário, foi para mim um dia de grande felicidade!

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

1520. Allô, allô!

A publicação no youtube das escutas telefónicas a Pinto da Costa e à sua entourage e a publicação no semanário Sol das escutas telefónicas no processo de aquisição da TVI pela PT e não só, parecem constituir uma violação ao Direito e à liberdade individual porque, se no primeiro caso o segredo de justiça não estava em causa, mas sim outros valores da liberdade, no segundo é a justiça que fica em cheque, não só pela violação do segredo, mas também pela desconfiança que isso causa sobre os próprios promotores e aplicadores dessa mesma justiça. É portanto uma imoralidade que merece ser denunciada e que merece ser investigada, quiçá, mesmo, condenada.

Comparar as escutas telefónicas que se fazem em Regime Democrático como meio de aquisição de elementos e eventualmente de provas nos processo policiais/judicias no combate ao crime, seja ele o de colarinho branco seja o de viciação de resultados desportivos, com as escutas feitas pelas polícias políticas dos regimes totalitários, nomeadamente da PIDE ao serviço dos regimes fascistas de Salazar e Caetano no combate aos seus opositores políticos confere-me, a meu ver, a liberdade de achar quem o faz de ter sido acometido de uma estranha cegueira que provavelmente terá tratamento mais fácil em certos hospitais psiquiátricos do que em oftalmologistas de renome internacional. E há por aí, alguns jornalistas e opinistas que o fazem com o maior despudor.

O que me parece também é que, provavelmente, muito maior do que a imoralidade (ou ilegalidade) que se comete ao divulgar tais escutas são as próprias conversas em si mesmo. Ficarmos a saber de viva voz, ou por transcrição das mesmas que tudo aquilo se passou e que os protagonistas disseram mesmo aquilo que depois disseram que não disseram e que, com isso, tenho “abatotado” os resultados finais, sejam eles desportivos ou políticos, não é ilegal. Ilegal não é efectivamente sabermo-lo, mas sim o que foi feito. E se a justiça não o considera ilegal, no mínimo todos consideramos imoral. Não é por não valer, juridicamente a gravação da conversas de Pinto da Costa a encomendar aos árbitros que ele os deixou de encomendar. Está gravado e está escrito. Essa é que é essa!

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

1519. Horas douradas

Hoje vou pintar-vos um conto. A lata de tinta já está pronta e a velhinha sentada num corte de tronco de azinho ajeita o lenço. Vê-se que está impaciente pois atou e desatou o nó por mais de uma vez, tirou o chapéu e voltou a pô-lo, colocou o lenço sobre o chapéu e apertou o lenço de novo. Esta forma graciosa de usar um lenço sobre o chapéu preto é muito típica aqui da região. Víamo-las assim quando em “bandos” ceifavam o trigo ou quando, à tardinha, sentadas no mocho acariciavam o bezerrito que Bonita, a ovelha, acabara de parir. Uma ave, esclareceu-me numa voz meiga, com a ternura do costume, que era um rabilongo, posou na figueira em frente à porta. Comia os restos de um figo maduro que desta vez não teria tempo de passar. Depois aparentando um ar sério e fingindo-se zangada, disse-me, são uns bandidos, comem tudo. Rimos os dois e ficamos ali um pouco à conversa explicando-lhe que a luz do sol ainda não era aquela que eu queria para iniciar a pintura. Teria ainda tempo para atender o telefone e trazer-me uma chávena de chá bem quente que por este tempo, no inverno, faz frio por estas bandas. Um cheiro a lúcia-lima invadiu o espaço. Voltou a sentar-se, esperou que eu terminasse a bebida, enxotou o gato e disse-me, estou pronta. Eu também, avó, esta é a hora de ouro para um pintor. Peguei no pincel mas acabei por terminar o trabalho já sob a luz de uma fraca lâmpada de tungsténio. Vai ali para o lado do meu Joaquim. Nunca mais vais dormir só. Retirou um velho calendário já manchado pela humidade dos anos e no seu lugar pendurou o quadro.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

1518. Erecções

Vamos lá a ver se isto se levanta. Longe vão os tempos em que mais de 150 amigas e amigos passavam aqui pelo PreDatado e, se não liam tudinho (hipótese que até me custa a colocar, mas enfim, modéstia oblige), pelo menos vinham deixar uma palavrinha de apoio, de incentivo, de amizade ou, simplesmente, um olá bem fresquinho. Mas pergunto eu para quê essa assistência hoje em dia se não há por aqui nada, ou quase nada, que os faça aproximar? Pois então, há que pôr de novo a coisa em pé. Vamos lá a ver se é desta. Na verdade, vontade não me falta, tempo também não, a inspiração é coisa de momento e o tempo é feito de momentos, pelo que quando há tempo há momentos e por aí fora. E se os viagras que são as vivências do dia a dia, os desvarios dos nossos governantes, o e-mail mesmo que povoado de anjinhos, as delícias da batota do nosso futebol, a eficácia da nossa justiça, as extravagâncias do patrão da Virgin, a leitura dos blogues dos outros, os meus gatos próprios e os afilhados, um restaurante de raros sabores, uma garrafa de vinho tinto de uma excelente colheita, o crescimento e decrescimento da minha barriguinha apesar da ginástica e das caminhadas entres outros, se nenhum destes viagras resultar, então usa-se o guincho. Ele há-de voltar a ser aquilo que foi. Ele há-de voltar a pôr-se de pé. Longa vida ao PreDatado.

Foto PreDatado©, 2010 – San Lucar del Guadiana

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

1517. Att: Junta de Andalucia

Hoje vou falar mal dos espanhóis. Sei que vou chocar alguns e a outros nem tanto, porque me conhecem bem, ao escrever aqui que não sou fã de Portugal. Bem sei que “fizemos” os descobrimentos, mas desde aí até hoje não fizemos nada mais de que eu me orgulhe. Pode ser uma questão de exigência pessoal e pode encerrar alguma injustiça, mas nada mais me toca. Nada não, mentira. Estou a mentir com os poucos dentes que me restam na boca. Também me orgulho do 3º lugar no mundial de futebol de 1966 e dos golos do Eusébio. Costumo dizer às pessoas que fazem parte do meu círculo de amigos que de Portugal gosto da língua e do clima. Concedo ainda o benefício da dúvida ao cozido à portuguesa, à caldeirada à fragateiro e às amêijoas à Bulhão Pato. Mas eu disse que ía falar mal dos espanhóis e ainda só falei de Portugal. É que eu gosto mesmo de olhar primeiro para dentro de casa antes de olhar para o tapete da porta do vizinho. E dentro de casa… bom, isso fica para depois. O que eu queria dizer era que, se tivéssemos visto isto junto ao castelo do Alandroal, nas piscinas naturais de Porto Moniz ou nas imediações da Citânia de Briteiros, haveria logo quem dissesse que isto só podia ser coisa de portugueses. Que nos outros países, e tal e coiso, nada disto se passaria. Talvez quisessem dizer que o processo Casa Pia não demoraria mais de sete anos a se resolver se fosse nos Estados Unidos da América mas, aqui mesmo ao lado, ninguém acreditaria que numa pacata povoação, um pequenito pueblo de España de apenas 98 km2 e 616 habitantes - El Granado - todos os holofotes, que dão vida ao seu ex-libris, tenham sido barbaramente vandalizados como a foto documenta. (Deixo também uma foto do molino, ele mesmo, para não ter de colocar as fotos de todos os outros holofotes, que o deveriam iluminar, completamente destruídos).


Fotos PreDatado, 2010/02