904. Filosofia em pacotes de três cêntimos
Ladeando, cada um na sua parte da mesa, a gravata do entrevistador, os velhos filósofos, velhos mas reputados e respeitados, um na defesa optimista das suas teorias e outro, como não podia deixar de ser, pessimista ao ponto de ver sempre uma garrafa meia vazia quando outro defendia que ainda estava meia cheia, ou então se assim não fosse não seriam precisos debates destes, em frente das câmaras e em pleno prime time do canal de serviço público (e é para isto que servem os canais de serviço público, sejamos claros) ouviram a sacramental pergunta, E agora?, esta sim capaz de arrebatar as mais recônditas paixões.
Ainda bem que me faz essa pergunta, diria o filósofo optimista que aumentar os impostos não podia ser visto como um demónio da governação, até porque sem impostos não há governo que resista e quanto mais todos pagarem para todos mais solidária é a sociedade e se o governo quiser não tem mais que alarmar ninguém com a falência da segurança social, Até lhe digo mais, a carga de impostos não é ainda suficiente, o problema é que não está bem distribuída e nem todos pagam, eu sei que se os ricos pagassem mais que não poderiam gastar tanto dinheiro em automóveis de luxo e de vez em quando teriam até que deixar o porsche na garagem, mas se a vida custa a uns tem de custar a todos, não é só fazer férias em resorts de luxo e spas no brasil ou nas seychelles, e os bancos também deveriam pagar mais, por isso é uma falsa questão esta discussão sobre o novo preço dos combustíveis que até nem se discute quando são as gasolineiras a aumentar argumentando que o barril está mais caro em chicago.
Em silêncio teria escutado toda a argumentação o filósofo pessimista, quiçá devido à já supra referida provecta idade, terá mesmo aproveitado para uma pequena soneca enquanto o colega de profissão, que não de ideias, deambulava entre impostos e ilhas paradisíacas, teria escutado, assim no condicional se o sono mais ou menos profundo o tivesse deixado escutar, Eu não acho nada bem este ultimo aumento, mas como é que depois de ter enchido o depósito do meu carro por mais um euro e oitenta cêntimos do que antes eu consigo ter disponibilidade financeira para entregar o boletim do Euromilhões. A interrogação ficou no ar, mas como o tempo para o debate estava a terminar ficou desde logo ali prometido pelo entrevistador de gravata às riscas, se não me engano da casa hermès, que em breve seriam de novo convidados para outras questões da actualidade.
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