922. Habituados
Para escrever um post quase tudo poderia servir. Uma fotografia, um poema, uma história, um comentário político, uma dissertação sobre o desempenho do Governo ou sobre o penalti que foi e não devia ter sido ou vice-versa, uma anedota bem contada, um cartoon ou tudo isso misturado e quiçá exacerbado, apaixonado ou apimentado. E é de facto com uma ou mais destas coisas que normalmente lido para poder dar uma opinião ou, simplesmente, por puro entretenimento. Mas confesso que o que me dá mais gozo tratar é de uma observação. De algo do dia a dia, de algo que vejo com esmerada atenção e depois construo sobre o observado uma ficção, uma crítica, uma reflexão ou uma pura e despretensiosa descrição. E é a partir deste especial gosto que constato que poucas vezes o faço. E também penso porque é que não elaboro mais vezes textos sobre o quotidiano, sobre aquilo que nos rodeia. Hoje, quando acordei e abri a janela reparei que toda o vale à frente dos meus olhos estava coberto de nevoeiro e que ao longe a serra aparecia nítida. Não me dei ao trabalho de me interrogar nem sobre o porquê do fenómeno físico observável, nem de o ficar a absorver por mais uns minutos e contemplar a maravilhosa natureza que me entrava em casa. Saí dali para entrar na rotina. Acho que é por já estar costumado. Nós os adultos, na generalidade estamos “habituados”. Pouca coisa observamos do que nos rodeia, pura e simplesmente porque já as vimos, já nos encontramos com elas, já trocamos olhares tantas vezes que nos alheamos do mundo. Não todos, obviamente, mas tive o cuidado de dizer, a generalidade. E acabo por sentir saudades do meu tempo de criança. Na época em que eu olhava, perguntava o que era e queria saber porquê.
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