Lembro-me de muitas coisas. Mesmo muitas. Umas mais interessantes que outras, outras menos. Lembro-me de uma vez ele ter faltado à aula que tinha de dar numa certa quarta-feira. Ficamos com pena, pois gostávamos muito das aulas dele. Na semana seguinte pediu-nos desculpa e disse-nos que tinha estado constipado. Nas bocas de alguns de nós havia um pequeno sorriso amarelo. Tínhamos sabido, durante a semana que tinha decorrido, que ele tinha passado algumas noites nos calabouços da PIDE. Lembro-me de uma ocasião ele, na sua missão de sacerdote, ter casado um primo meu. Na fila por detrás da minha, quase junto à porta da igreja, estava uma senhora, que não me recordo se foi convidada ou se seria uma daquelas senhoras que costumam passar o seu tempo na igreja, a que o vulgo designa por beata. A frase da senhora que retive foi coitadinho, tão bom rapazinho, que pena ser casado pelo padre comunista. Não acredito que o fossem. Nem o meu primo coitadinho, nem o padre comunista. E mesmo que o segundo o fosse, isso não teve influência nenhuma no casamento. O meu primo está casado há mais de quarenta anos. Finalmente, quando um grupo do meu liceu decidiu começar um processo de alfabetização num bairro de barracas que existia em Almada, fui um dos designados para ser recebido pelo então Presidente da Câmara Municipal. Estavamos em 1971 e o regime em vigor no país era a ditadura do Estado Novo, continuando Marcelo Caetano a obra de Salazar mas que, por algumas tentativas de reforma liberal, alguns ainda ousaram chamar de primavera marcelista e que nesse ano já se esfumava. O Dr. Serafim Silveira Júnior, Presidente da Câmara, pessoa de boa educação e trato cordial, não sem o seu quê de demagogia, mas parece que não há cão nem gato que não a faça, colocava várias reticências em nos fornecer o equipamento necessário para a concretização de uma sala de aulas no meio das barracas. Quando eu lhe disse que se o Sr. Presidente o não fizesse tínhamos alternativa, pois o Sr. Padre António Augusto Sobral já se teria disponibilizado para o fazer, a conversa mudou de rumo e, poucos dias depois, a nossa barraca/sala de alfabetização estava equipada e a funcionar. Isto é ilustrativo do respeito que o padre Sobral merecia.
Sem qualquer motivo aparente, nem eu sei explicar porquê, hoje lembrei-me do padre Sobral. Que seria feito do meu professor de Religião e Moral dos meus tempos de Liceu? Procurei na Internet e constatei que o padre António Augusto Sobral falecera em Julho de 2008. Senti uma certa comoção e arrepiaram-se-me os pelos do corpo. Que esteja em paz, aquele que foi um grande humanista e um dos meus primeiros mentores pela causa da liberdade.
quinta-feira, setembro 29, 2011
segunda-feira, setembro 26, 2011
1586. A frente ribeirinha de Almada
Calcorreio, vezes sem conta, o passadiço do Ginjal, de Cacilhas ao jardim do miradouro, do miradouro a Cacilhas. Desço do Cristo-Rei à Arealva, da Arealva ao Olho-de-Boi e faço o percurso inverso, todas as vezes com uma esperança. Uma esperança vã de um dia encontrar uma zona ribeirinha de Almada digna desse nome. Bonita, atraente, amiga dos almadenses e de quem nos visita. É chocante a degradação em que, dia após dia, encontramos aquele que poderia ser o ex-líbris da cidade: o seu confronto com o rio, a irmã do sul da capital. Não o posso garantir, mas quase que juraria, que a recuperação da frente ribeirinha desde o Caramujo ao Forno do Tijolo já deve ter sido prometida pelo menos umas trinta vezes em campanhas eleitorais. Quase que juro.
Ontem uma vez mais desci à Arealva, assim é o nome da quinta onde até há pouco menos de cinco anos eram as instalações da Sociedade Vinícola do Sul de Portugal, propriedade de J. Serra e Irmãos (a propósito, tenho ainda alguns Dãos e Douros de coleção, além de uma aguardente vinícola de estalo desta firma). Quando esta sociedade decidiu encerrar a atividade, centenária naquela zona, consta-se que vendeu a quinta não se sabe bem a quem. Pronto, poderia por aqui um ponto final. É propriedade privada, fique-se por aqui. Mas não, não acho que deva terminar. Não sei a quem pertence a jurisdição daquele território, se à Câmara Municipal de Almada ou se à APL. Seja a uma ou a outra, a única coisa que vos digo é que tenham vergonha na cara. Não sabem como se faz, mesmo sendo propriedade privada? Não sabem? Gastam tanto dinheiro em tanta porcaria, metam-se no carro e dêem uma voltinha por essa Europa fora. Comecem já aqui pelo país ao lado, por Espanha, vão à França, à Suíça, à Áustria e até à Croácia. Não sabem? Aprendam! Não sejam cúmplices do atentado que se faz ao nosso património urbano ou natural, tanto faz. Vejam as fotos e tenham vergonha na cara. Olhe, para si especialmente Srª Presidente da Câmara, parafraseando não me lembro quem. A História não se faz só com glórias. Faz-se também com misérias.
sábado, setembro 24, 2011
1585. Acertei
Aos urinóis dos centros comerciais que eu mais gosto de ir é àqueles que têm uma bolinha de naftalina. Enquanto faço o meu xixizinho entretenho-me a fazer apontaria à bola.
segunda-feira, setembro 12, 2011
1583. Lunch Time Blog - o polvo
Muito justamente tenho sido acusado de preguiçoso pelos poucos e poucas, estas mais do que eles, mas muito bons e muito boas, passe a brejeirice do termo, queridos e queridas amigas leitores e barra ou leitoras do PreDatado. E se é bem verdade que estas minhas ausências do PreDatado, o blog, que o PreDatado, a pessoa, ainda não tem ausências (bati três vezes na madeira para que o sr. Alzheimer não leia este post) se devem fundamentalmente a esse desviante pecado mortal, não muito grave por ser o sexto da hierarquia, a verdade é que também não encontro muito para dizer. Por exemplo, e vocês sabem que não gosto nada destes trocadilhos, tipo a semana passada fui passear a Castelo de Vide e, depois, chegar aqui e dizer-vos que foi por cauda de uma promessa que fiz à minha mulher. Claro que não poderia olvidar-me de rematar com um inesperado e muito original, o que é prometido é de Vide. Pronto! Estava a parvoíce instalada. Pior, pior, era eu vos dizer que visitei um castelo em Estremoz, outro em Veiros, ainda em Castelo de Vide e, para mim, o mais bonito, em Marvão. E concluir que apesar de ter lá encontrado o meu amigo Apolinário não o vi com a sua estimada esposa, a Clara. Definitivamente, ainda não estava a clara em castelo. Outra parvoíce. Ou, por exemplo, virar-me para o campo político e dizer que fui ao Alentejo profundo para ver se via o Álvaro, já que se não deixa ver pelo Terreiro do Paço. Mas perguntar por onde anda o Ministro da Economia não teria nada de original pois até o António José Seguro, que eu ouvi atentamente este fim de semana no congresso cor de rosa, e que não nos trouxe nada de novo, já fez essa pergunta. Então a minha interrogação seria muito menos ajustada do que a dele e não traria nada de novo ao blog. Agora uma coisa é certa. Ainda vou aprender a fazer aquela alhada de cação que comi na Varanda do Alentejo em Marvão, que estava pura e simplesmente divinal ou as burras no forno que nos foram servidas na Adega do Isaías em Estremoz. E neste LTB não podia deixar de dar uma palavra de simpatia ao David que o país fez o favor de transformar de um licenciado em gestão de empresas em empregado de mesa. Força David! E uma outra para a Patrícia que com uma tremenda simpatia nos serviu no restaurante do Sever em Portagem e que com os seus 19 anos ainda tem esperança que o curso de comunicação social que frequenta a possa levar a outras paragens e com outras portagens. Muitas felicidades para ambos.
PS. O Schubert ficou estes três dias, em que estive de lua de mel, em casa. Quando cheguei, foi o primeiro a quem contei as peripécias da viagem. Quando lhe falei do projeto de post que estava a pensar escrever, no seu pensar de gato ficou na dúvida se eu deveria referir que no restaurante Adega, no Crato estive 1h e 08 m à espera que me servissem um polvo à lagareiro. No miar dele quis-me dizer, coitados, e tu sabes quanto tempo demora a pescar um polvo?
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