O lado para o qual me deito melhor é o de
considerarem esta minha opinião de esquerda ou de direita. Posto isto, afirmo
que a minha convicção é de que uma companhia aérea comercial não me parece
estratégica para a economia e desenvolvimento de um país. Nem que esse país se
chame Portugal e tenha relações (hoje em dia relevadas pelo PR na constituição
do governo) privilegiadas com a CPLP e nas suas rotas inclua Moçambique,
Angola, Guiné e por aí fora... e, se calhar também a Guiné Equatorial que o
(ainda) governo atual colocou no mapa
dos países lusófonos. Uma empresa que tem mais de 100 milhões de prejuízos
anuais, quanto mais depressa um governo se ver livre dela, melhor. E a mais um governo (e outros anteriores) que
deveriam corar de vergonha por pagarem salários principescos (quantos salários
mínimos isso dá, quantos?) a gestores de uma companhia que acumula, ano após
anos, prejuízos. Até abriria um parêntesis para dizer que se alguém a compra
não será para perder dinheiro, antes pelo contrário e que, como consequência,
porá no olho da rua todos estes gestores incompetentes. Se o não fizer e a TAP
passar a dar lucros então o que o próximo governo tem de fazer é colocar os
atuais gestores em tribunal por eventual boicote à economia nacional. Mas posto
isto, o que me leva hoje a escrever este post não é facto de eu achar que a TAP
deve ao não deve ser privatizada. Já dei isso de barato. O que eu quero chamar
a atenção é para o oportunismo e falta de caráter de um governo demitido
avançar com este processo à revelia de uma nova maioria parlamentar que o
relegou para fora das portas de S. Bento. É que nesta política de vale tudo não
sobra vergonha na cara a estes descarados. As metas do deficit justificam isto? E a dignidade
de quem quer ser, aos olhos dos outros efetivamente digno, hein? Não vale nada?
quinta-feira, novembro 12, 2015
sexta-feira, maio 01, 2015
1624. O direito à greve
O direito à greve foi, em quase todo o mundo e em
Portugal apenas após o 25 de abril de 1974, uma conquista dos trabalhadores. É
bem provável que mais de metade dos trabalhadores portugueses de hoje nunca
tenham trabalhado antes do 25 de abril de 1974 ou que já tenham nascido com
este direito adquirido, alguns dos quais sem lhes passar pela cabeça que este
direito já custou muito sangue, muito suor e muitas lágrimas. Sou totalmente
contra aqueles que afirmam que este direito deve ser usado
parcimoniosamente. A greve deve ser
usada como uma arma de quem trabalha contra as agressões de que são vítimas
enquanto trabalhadores, agressões ao seu direito ao trabalho, ao seu direito a
uma remuneração justa e até ao seu direito ao descanso.
Vem este meu texto hoje, a propósito das duas
greves anunciadas para, ou a começar, no dia 1º de maio, dia do Trabalhador num
grande número de países do mundo. A greve dos pilotos da TAP e a greve dos
trabalhadores do comércio. Se à greve dos trabalhadores do comércio está para
mim fora de questão não lhe dar o meu total apoio, dada a justeza das reivindicações,
já em relação à greve dos pilotos da Tap tenho a maior das reservas. No
entanto, é esperado que uma e outra tenham níveis de adesão e até mesmo motivos
para a não adesão completamente diversos.
Os trabalhadores do comércio convocados foram os
das grandes superfícies de distribuição. Está condenada à partida, quer ao
nível da adesão, quer ao impacto mediático. O impacto mediático está
praticamente reduzido a zero dada a simultaneidade com a greve dos pilotos da Tap
e do que esta representa parece representar para a privatização anunciada. Mesmo
os critérios jornalísticos, que é uma direção para a qual não vou agora
intensamente disparar não estão para aí virados. O que é isso de relevante de licenciados
em relações internacionais ou em patologia forense, ou apenas com o
"miserável" 12º ano, estarem a
ganhar 2,00 € por hora em lojas dos centros comerciais? Se é para falar em miséria que se façam
reportagens na China, na Coreia do Norte ou em Cuba...
"Mas os trabalhadores do comércio também não
aderiram à greve", poderá, quem lê, argumentar. Pois, não! Reitero eu.
Caminha-se a passos largos para a destruição dos direitos conquistados pelos
senhores do capital com a conivência dos governos democraticamente eleitos.
Quem é que, mesmo ganhando miseravelmente, com contatos precários de 3 e 6
meses (falaram-me já de casos de contratos mensais), com quase 1 milhão de
desempregados à espera e bocas em casa para sustentar, estudos para pagar,
medicamentos, muitos destes trabalhadores andam a trabalhar doentes, vidé o
comunicado do sindicato, transportes, vestuário e renda de casa, se pode dar ao
luxo de ceder o seu lugar a outro? Nem que morram no posto de trabalho, não
"poderão" fazer greve.
Quanto à greve dos pilotos são outros quinhentos.
Mas essa é amplamente debatida nos media.
Miguel Torga escrevia no seu Diário, em 1946. O
Portugueses são imbecis ou por vocação, ou por coação ou por devoção.
A atender às sondagens, por devoção não tenho
dúvida. Como por vocação é tão evidente que nem vale a pena argumentar,
resta-me dizer que sob coação, se calhar, até eu sou português.
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