É a Justiça, estúpido!
Uma mania, provavelmente parva, que tenho quando
almoço em casa é assistir a noticiários na televisão. Misturar uma posta de
cherne grelhada com uma salada mista ainda vá que não vá. Agora misturar um
branquinho da região de Palmela com pensões de alimentos, ou não me sabe bem o
vinho ou tenho uma náusea inesperada. Mas como eu gosto de cada coisa no seu
lugar, vamos lá por partes.
Senhor António Costa, senhor Jerónimo de Sousa, senhora
Catarina Martins, vamos lá ver se nos entendemos. Quando eu voto num partido político
para que só, ou em coligação, mesmo que parlamentar e geringonciamente tática,
venham a formar governo, não transporto para a urna de voto nenhuma paranoia
"deficitária". Isto é, o orçamento e o déficit não são as minha metas, se bem que não deixe de lhes dar o
relevo que devem merecer. Como diria Jorge Sampaio, nosso PR já ex, «há mais vida para lá do déficit». E é por isso, meus caros
condutores de uma geringonça, que eu estimo e apelo para que se não desmantele,
que vos digo que o vinho do almoço, não me caiu nada bem. Nem a bela manga, de
avião, dizem eles, esta agora dos aviões darem mangas é que me deixa perplexo,
que comi de sobremesa, me impediu que tivesse tido ido à náusea. Felizmente que
as minhas gatas estavam de barriga cheia, quando não teriam vindo a miar em meu
socorro.
E então, para que o "vamos lá por partes"
se complete, eu sou todo olhos, ouvidos, nariz e tatos, pontas dos dedos
incluídos, para as políticas de saúde, de educação, de planeamento territorial,
de economia, de finanças, de justiça e isso, está bom de ver, para além de
outras. E se a porca torce o rabo em algumas destas matérias, na Justiça,
coitadinha da porca, torce-se toda como se estivesse tomada pelo demo. Se
calhar até é por isso que nem judeus, nem muçulmanos partilham do gosto pelo
belo toucinho, como eu partilho, se calhar é mesmo porque a porca da justiça,
ai perdão, porque a porca torce muito mais do que o rabo no que diz respeito à Justiça. Ia o meu garfo no ar com uma bela lasca do cherne, aloirado pelo calor
da chapa, e que nem proveitinho me fez, porque se estava de boca aberta para a
receber, assim fiquei, largos segundos, como que possuído. Então não é que
passava na televisão a notícia de que uma mãe estava há 20 anos (eu vou repetir,
por extenso, para que não fiquem dúvidas), há vinte (!!!) anos à espera da pensão de
alimentos para um filho? Bom isto já seria motivo para que o cherne não mais
entrasse na boca. Mas como os nossos gestos são reflexivos, o Pavlov explicará
isso melhor do que eu, a garfada invadiu-me o palato, depois a faringe e em vez
de se dirigir ao esófago, caiu-me no goto. Tossi, tossi, tossi e estava eu
neste meu tossir engasgado, quando ouvi o jornalista dizer que o Tribunal de
Menores de Torres Vedras informou o canal de televisão de que o processo estava
a decorrer nos prazos normais. Normais (!), leram bem? Noutras circunstâncias
teria desatado a rir, mas nesta apenas vos posso dizer que passei da tosse convulsiva
à náusea.
Vá lá senhora Ministra da Justiça, faça coisas
bonitas, vá lá. Se não, é tudo a dizer mal da geringonça e ainda vamos ouvir
esta gente a dizer que os donos dos patrimónios imobiliários de luxo, apesar
das cristas levantadas, pagam agora menos com este novo IMI da Mortágua do que
com o imposto de selo do Sócrates/Coelho. E se calhar é verdade, não é?
Desvie-lhes a atenção e ajude a que a nossa Justiça passe a funcionar. Era cá
uma finta, que qual Messi, qual Ronaldo...
PS. Obviamente que a Florinha e a Charline, as minhas
gatas de estimação, me disseram que isso passava melhor com um copinho de água,
mas eu teimei no branco de Palmela. São gostos...