800. Saber contar anedotas
Fernando Rocha tem uma habilidade inata para contar anedotas. É teatral e versátil em imitações caricaturadas de algumas figuras típicas do anedotário nacional. O puto reguila, o bêbado, a peixeira, a loira e vários outros. Conta velhas piadas, adapta outras e tem um invejável à vontade em frente às câmaras. No entanto exagera. Exagera no palavreado vulgar, inclui alhos e bugalhos onde não são necessários, porque uma anedota picante não tem de ser pornográfica e uma anedota de sala não tem de ser forçosamente picante. E não me parece que seja suficientemente inteligente para entender as audiências para quem se dirige não sendo capaz de distinguir o que é (deveria ser) um programa de humor de grande audiência nacional e um grupo restrito de batedores de palmas quando alguém se lembra de dar um pum na sala. Ontem, no Herman Sic, depois de uma escabrosa e inarrável anedota, um casal que assistia ao vivo na plateia insurgiu-se contra o Rocha, não faltando de imediato quem saísse em sua defesa no mais belo estilo de arruaça e vulgaridade. De tal maneira que Herman teve de interromper o programa saindo para intervalo. E o casal contestatário foi, naturalmente, posto na rua.
Quem me conhece sabe perfeitamente que não sou nem um puritano, nem tão pouco um moralista. Mas cá para mim é também arte de bem saber representar com humor, o saber escolher o repertório e conhecer o público a quem se dirige. E não é preciso ser politicamente correcto. É por estas e por outras que o falecido José Viana e o, felizmente ainda vivo, Raul Solnado são uns senhores do humor português. Ou eu me engano muito, ou o Rocha não passará de uma moda.
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