terça-feira, novembro 24, 2009

1508. Mestria e champanhe

Nem eu, nem a minha mulher fomos ou somos pessoas de nos imiscuirmos nas grandes opções dos nossos filhos. Contudo, sendo nós mais velhos, o que aliás, geneticamente falando, não poderia ser de outro modo, teve a experiência a gentileza de nos dotar de instrumentos, que poderemos chamar de úteis, para que, de alerta em alerta, os pudéssemos utilizar, não no sentido do proteccionismo, mas sim no da orientação em momentos de alguma fragilidade (deles) e também no do ensinamento na destrinça do que poderia ter ou não efeitos perniciosos no seu desenvolvimento. Posto isto, não fica difícil de perceber porque é que cá em casa há adeptos de diferentes clubes de futebol, porque é que a opção político-partidária não goza de unanimidade, porque é que temos visões diferentes das religiões ou porque é que uns preferem Radiohead e outros Caetano Veloso e por aí a fora, fico-me por aqui para poupar-vos à, sempre difícil, digestão dos textos corridos do PreDatado. Mas se por um lado tudo acima é verdade (juro mesmo, absoluta), também é verdade que nem só de pragmatismos vive o homem (tomem lá esta) e nunca lhes faltou um colo, um ombro, um abraço, um mimo, um carinho, uma ternura em todos os momentos que não só os necessários. Foi neste misto de afectividade e de céu estrelado, com algumas nuvens a vislumbrarem-se no horizonte (poeta!) que foram calcorreando as ruas do futuro, o qual lhes foi também ensinado que cada dia é o primeiro dia do mesmo. E hoje começa um novo futuro para o meu João Pedro. O meu filho, o meu menino, fez hoje a apresentação e dissertação da sua tese de Mestrado em Arquitectura. É um Mestre nesta arte, que a de gerir todas estas emoções mesmo que com a ajuda de um lenço para lhe afagar aquela teimosa lágrima que não para no canto do olho, mestre mesmo é o pai dele. Para ti meu filho, é hoje a taça de champanhe que eu levanto e, quando tomares a próxima decisão avisa-me que eu sou todo ouvidos.

sexta-feira, novembro 13, 2009

1507. Molhar a minhoca, diz ele

Jaquinzinhos com arroz de tomate, bacalhau à lagareiro, arroz de tamboril com gambas, sardinha assada na brasa, salmonetes na grelha, caldeirada à fragateiro, sopa rica de peixe, salmão fumado com cebolinho, gambas à la planche, amêijoas à bolha pato, salmão marinado com gengibre, pargo no forno à moda da avó maria, mexilhões à marinheiro, fataça na telha à moda do ribatejo, cachuchos fritos com arroz de grelo, pregado frito com açorda, peixe assado no forno com tomate, cebola e salsa, bacalhau à brás, pescada cozida com feijão verde, tímbalo de polvo, chocos assados com e sem tinta, caldeirada de lulas à moda da nazaré, espetada mista de tamboril com camarão e pimentos, lulas recheadas, bacalhau à moda de lafões, sopa de peixe à moda da costa verde, filetes de polvo com arroz do dito, pescada à florentina, vieirinhas recheadas, lagosta suada, lavagante na chapa, ostras frescas abertas ao natural com sumo de limão, açorda de sável à ribatejana, sopa de cação, achegãs de caldeirada em forno de lenha, bacalhau espiritual, espetada de lulas com chouriço, rissóis de camarão, safio com ervilhas à moda da póvoa, fritada mista de peixinhos do rio, carapaus alimados, escabeche de carapaus fritos de um dia para o outro, arroz de sardinhas à algarvia e não me venhas cá tu, grande rafeiro, dizeres que passavas bem com uma sandocha de couratos. Dedica-te mas é à pesca. E podes levar a tua jove contigo que ela ajuda-te a pôr a minhoca no piercing.

quinta-feira, novembro 12, 2009

1506. Rotinas

Vão chegando, entre as seis e as sete, juntam-se no muro com uma mini na mão. Como se fossem um bando de estorninhos que atacam a oliveira. Depois de um largo linguajar, os apertos de mão, dão meia volta e regressam ao lar. No muro fica a fila de garrafas que o tasqueiro, solicito, deita num balde. Amanhã sairá nova rodada. Até que o inverno chegue.

Fico na varanda a vê-los chegar, agora mais cedo porque a hora mudou. Para nós, não para eles, para eles o que muda é o tamanho do dia, o menor intervalo entre a manhã e a noite. Regressam em bandos às árvores, num estranho linguajar feito de chilreios. Não sei se me parecem estorninhos ou se o são.

Agasalhados, porque o vento ribeirinho corta, saímos todos como se fossemos um bando (de estorninhos?) do vapor – já ninguém lhe chama vapor, gente de outras gerações que têm catamarans de usufruto - na outra margem. Acenam em linguajares de até amanhã, de espere aí, de que chatisse, perdeu-se o autocarro, perdeu-se o metro, numa correria de horários. Aconchega-se o cachecol ao nariz, porque o vento ribeirinho corta. Amanhã, pela manhã, quer a luz do alvorecer raie ou não, abandonaremos a árvore e sairemos para os nossos campos (como estorninhos?) à espera de vindouros invernos.

Corta!

(gostaria de conhecer o autor da foto para lhe prestar os devidos créditos, mas infelizmente encontrei-a na net sem referência ao autor)

domingo, novembro 08, 2009

1505. Felicidade


Dizem que não se podem, ou melhor, que não se devem começar textos por determinadas palavras mas apetecia-me começar este por, Até S. Pedro se quis associar à tua festa, pois, na verdade, após os dias invernosos que se fizeram sentir desde meados da semana passada, continuado neste chuvoso dia de hoje, ontem o Sol resplandeceu maravilhoso para te ver sair, deslumbrante, de casa dos teus pais, a caminho de uma nova vida que te auguro risonha, por quem és e porque o mereces e, quem assistiu e testemunhou ajudou-me a encher o ego de pai (estou que nem posso) ao me fazerem saber que foi linda a festa, Anita.

Sabes minha filha, ontem, quando te conduzia na passadeira para “te entregar” ao teu noivo, mordi várias vezes o lábio inferior para que não me viessem aos olhos as pieguíssimas lágrimas, que conheces bem, mas que hoje, ao lembrar-me que vais sair deste ninho para fazeres o teu próprio não as consegui segurar, mas não te preocupes, porque se nisto há um não sei quanto de nostalgia ele há, e aí posso te garantir, um trilião de vezes mais de alegria e sabes porquê, Anita? porque eu te amo.


sexta-feira, novembro 06, 2009

1504. Ye Monks. Champanhe é amanhã

Em 1979, era eu um embarcadiço, assim como que armado em marinheiro (não gostava de whisky) pensava e repensava onde é que havia de gastar o dinheiro que ganhava, não muito diga-se de passagem, não havia centros comercias, o Colombo mais próximo que conhecíamos era um antepassado nosso, também marinheiro e, em Gaia, só passeavam rabelos, que petroleiros daquela envergadura só até ao Mar da Palha, mas isso já é Tejo, são outras águas (põe-se água no whisky, não é?), pois shoppings não havia desses, dos que há agora e então gastava-se o dinheiro na cantina (oh Felix abre ali a tasca que preciso de cervejas) mas era só a partir das quatro e picos quando o tasqueiro largava o quarto do meio-dia, também se encomendavam, através da cantina, ao ship chandler, alguns artigos de luxo (um dia levei uma rabecada por misturar coca-cola num Chivas Regal) entre eles uns sabonetes que só muitos anos mais tarde se começaram a vender por cá e até whiskies (uma queixa crime de quem não o beber puro) de maior prestígio.

Um certo dia (não me atrevo a fazer qualquer mistura) ainda eu não bebia whisky e a minha bolsa não dava para comprar o Royal Salut em bolsa de veludo azul gravada a dourado, comprei uma Ye Monks em garrafa de porcelana, whisky de 12 anos que hoje, passados que são (nem pensar em deitar-lhe água castelo, quanto mais coca-cola) todos estes 30 anos, já estará com os seus 42, já as vi à venda na net por 200,00€, portanto um bocadinho mais velho que alguns dos meus leitores e das minhas leitoras, mas tu nem gostas de whisky e isto custa um balúrdio, portanto vai ser aberta quando se casar o meu primeiro filho e vai daí foi preciso casar entretanto, ir aprendendo a gostar de whisky (uma pedrinha só), esperar os nove mesitos que essa coisa do pré-natal demora e toma lá que é uma menina linda, linda, linda.

Hoje, mais logo pela tardinha, vou abrir a Ye Monks. A Anita casa amanhã, Sábado, e Sábado é mais dia para champanhe do que para (o quê, água lisa, gelo? nem pensar) whiskies. E cá estarão alguns amigos para me acompanhar num brinde à minha filha, ao seu marido e ao seu novo futuro.

No Sábado jorrará champanhe!

(coca-cola, tás mas é maluco)