947. Brincar com palavras (ditas feias)
Ontem fui visitado por uma blogger, que desconhecia, e que me deixou comentário. Acto contínuo, fui retribuir a visita e encontrei um post curioso onde a autora escreveu um número imenso de palavras que diz não gostar. Assim, tentei misturar aquilo tudo e voltar a dar e o que me saiu foi algo que não abona muito em favor das tais palavras. Estão em itálico as palavras que a blogger disse que não gostava.
I.
Vou tentar assim por alto,
Mas não venho pedinchar
Isto é mesmo um assalto
Com estrupo e toca a andar.
Em primeiro, dou-te uma queca
E uma carga de porrada
Ficas podre e sem cueca
Ainda te corro à pedrada.
Gaja estás a perceber,
Ou queres desenho a caneta?
Hematomas pr’a doer
Ficas zarolha e perneta.
Vai preparando o jazigo
Ou queres a fossa comum?
Enterro não é comigo
Estoiro-te o fígado em jejum.
Depois piro-me na ganga
Deixo-te em espasmos no chão
Pareces um touro da tanga
Sangrando menstruação.
E num perpétuo prejuízo
Verto-te a bílis na estrada.
“- Pára com isso, tem juízo!
Acaba com a tourada”.
Sem sensibilidade ao apelo
Fracturo-te os joanetes
Esborracho-te, ficas um selo
Ou entremeada em filetes.
Por esta rima galopante
Já muita gente me insulta,
Esperem só mais um instante
No fim, pagarei a multa.
Sem açaime, nem grilheta
Aceito o malefício
Que é ser escravo da caneta.
São os ossos do ofício.
Mas tive que lancetar
O texto. E é por isso
Que chegou a azedar
E a parecer ser postiço.
II.
Neste dilúvio de ideias
Não coube amniocentese
As palavras são bem feias,
Concordo consigo, em tese.
Pelo roubo do seu post
E pelas ideias doidas
Quer você goste ou não goste
Não fique com hemorróidas.
Juro, não foi peculato
Misoneísta não sou.
Mas não atingi o desiderato
Pois ratívoro não entrou.
P’ra terminar em beleza
Aceite este bitaite
Continue, com firmeza!
Não aceite OPA ao site.
Ufa, imaginem se a Marianne tem referido mais uma dezena delas? Hoje não saía daqui.
sexta-feira, março 31, 2006
quinta-feira, março 30, 2006
946. Da infância até agora, ou uma nova visão das coisas
Quando eu era miúdo, com os meus 6 anos de idade, lá no bairro onde eu morava, era eu quem lia o jornal para alguns dos meus vizinhos que, infelizmente, nunca tinham tido a oportunidade de aprender a ler. Normalmente as histórias de faca e alguidar, ao bom estilo das primeiras 20 páginas de hoje em dia do Correio da Manhã e as notícias desportivas eram as que maior interesse despertavam. Mas uma página nunca podia ser passada em frente, o obituário. Não fosse ter falecido alguém das redondezas e pareceria mal não apresentar condolências, ou ir ao funeral. O que acontece é que eu fiquei também com esse tique e não largo um jornal (dos que trazem), sem ter lido a página dos óbitos. Pelas mesmas razões dos que me pediam para ler, nessa época. No entanto, acho esses anúncios de falecimentos, funerais e agradecimento, muito pouco criativas e sempre ou quase sempre no mesmo estilo: “(Nome em maiúsculas). Faleceu, no dia tantos dos tantos, Fulano de Tal. O Funeral realiza-se às tantas horas, da Igreja de tal sitio para o cemitério de acolá. Sua esposa, filhos, filhas, genros, noras, netos, netas e bisneto agradecem a todos quantos se dignarem acompanhar o nosso estimado esposo, pai, sogro, avô, bisavô, à sua última morada”.
Pois eu acharia mais interessante que os anúncios fossem assim:
"Jerumenho Sebastião. Toureiro. Faleceu no dia 29 de Março de 2006 o prestigiado matador, Jerumenho Sebastião. O seu funeral realizar-se-á, hoje, pelas 3 horas 3, da igreja do Campo Pequeno para o cemitério da Moita, sua terra natal. Nesta sua última faena sairá em ombros, em urna cor-de-rosa, debruada a ouro, pegada pelos forcados amadores do aposento da borla redonda. Agradece-se a toda a aficcion que queira estar presente, não sendo necessário comprar bilhete de sol ou sombra".
Ou então,
"Serafim da Silva. Empresário cinematográfico. Faleceu ontem, 29 de Março de 2006, o conhecidíssimo empresário da 7ª arte, Serafim da Silva. O seu funeral realiza-se amanhã, pelas 15:00h, 17:30, 21:30 e 00:00 em última sessão. A toda a plateia, a família enlutada agradece a presença. Fila única para a ultima homenagem. O genérico será lido por D. Serafim da Silveira. Entrada Grátis."
Ou, finalmente:
"António de Xesus. Industrial da Restauração. Faleceu com 102 anos, o industrial galego da restauração e desde há mais de 80 anos estabelecido em Portugal, António de Xesus. A sua Câmara ardente será servida na igreja da Madredeus entre as 12:00 e as 16:00. Há 24 lugares sentados. Encerra para jantares. Do menu das cerimónias consta: missa de corpo presente, funeral, elogio fúnebre, bica e bagaço. O seu bisneto, agradece a presença de todos os clientes."
Quando eu era miúdo, com os meus 6 anos de idade, lá no bairro onde eu morava, era eu quem lia o jornal para alguns dos meus vizinhos que, infelizmente, nunca tinham tido a oportunidade de aprender a ler. Normalmente as histórias de faca e alguidar, ao bom estilo das primeiras 20 páginas de hoje em dia do Correio da Manhã e as notícias desportivas eram as que maior interesse despertavam. Mas uma página nunca podia ser passada em frente, o obituário. Não fosse ter falecido alguém das redondezas e pareceria mal não apresentar condolências, ou ir ao funeral. O que acontece é que eu fiquei também com esse tique e não largo um jornal (dos que trazem), sem ter lido a página dos óbitos. Pelas mesmas razões dos que me pediam para ler, nessa época. No entanto, acho esses anúncios de falecimentos, funerais e agradecimento, muito pouco criativas e sempre ou quase sempre no mesmo estilo: “(Nome em maiúsculas). Faleceu, no dia tantos dos tantos, Fulano de Tal. O Funeral realiza-se às tantas horas, da Igreja de tal sitio para o cemitério de acolá. Sua esposa, filhos, filhas, genros, noras, netos, netas e bisneto agradecem a todos quantos se dignarem acompanhar o nosso estimado esposo, pai, sogro, avô, bisavô, à sua última morada”.
Pois eu acharia mais interessante que os anúncios fossem assim:
"Jerumenho Sebastião. Toureiro. Faleceu no dia 29 de Março de 2006 o prestigiado matador, Jerumenho Sebastião. O seu funeral realizar-se-á, hoje, pelas 3 horas 3, da igreja do Campo Pequeno para o cemitério da Moita, sua terra natal. Nesta sua última faena sairá em ombros, em urna cor-de-rosa, debruada a ouro, pegada pelos forcados amadores do aposento da borla redonda. Agradece-se a toda a aficcion que queira estar presente, não sendo necessário comprar bilhete de sol ou sombra".
Ou então,
"Serafim da Silva. Empresário cinematográfico. Faleceu ontem, 29 de Março de 2006, o conhecidíssimo empresário da 7ª arte, Serafim da Silva. O seu funeral realiza-se amanhã, pelas 15:00h, 17:30, 21:30 e 00:00 em última sessão. A toda a plateia, a família enlutada agradece a presença. Fila única para a ultima homenagem. O genérico será lido por D. Serafim da Silveira. Entrada Grátis."
Ou, finalmente:
"António de Xesus. Industrial da Restauração. Faleceu com 102 anos, o industrial galego da restauração e desde há mais de 80 anos estabelecido em Portugal, António de Xesus. A sua Câmara ardente será servida na igreja da Madredeus entre as 12:00 e as 16:00. Há 24 lugares sentados. Encerra para jantares. Do menu das cerimónias consta: missa de corpo presente, funeral, elogio fúnebre, bica e bagaço. O seu bisneto, agradece a presença de todos os clientes."
quarta-feira, março 29, 2006
945. Por antecipação
Vou sair agora, juntar-me aos meus pais e comermos um cozido à portuguesa. Bem sei que as minhas últimas análises clínicas não me aconselham a grandes veleidades gastronómicas, mas quando vejo o chispe a aproximar-se, a travessa da farinheira, do chouriço de sangue e dos outros enchidos, não estou decerto a pensar numa posta de peixe grelhado com salada de alface. Quando vejo o empregado com aquela travessa de couves cozidas no caldo da carne, cheia de triglicémios e HDL, não estou a pensar no escalope de 220 gramas e no arroz de ervilhas. Quando para mim sorri aquele pedaço de orelha, aquelas presas de entrecosto, aquele toucinho entremeado, nem me lembro que existe um prato de pescada cozida com feijão verde. Quando chega a garrafa do vinho esqueço-me que a alananina aminotransferase e que o gama glutamil, deveriam ter valores bem mais baixos do que os apresentados. E portanto, por antecipação, eu vou aproveitar hoje, uma vez que só volto a fazer análises daqui a 3 meses.
Vou sair agora, juntar-me aos meus pais e comermos um cozido à portuguesa. Bem sei que as minhas últimas análises clínicas não me aconselham a grandes veleidades gastronómicas, mas quando vejo o chispe a aproximar-se, a travessa da farinheira, do chouriço de sangue e dos outros enchidos, não estou decerto a pensar numa posta de peixe grelhado com salada de alface. Quando vejo o empregado com aquela travessa de couves cozidas no caldo da carne, cheia de triglicémios e HDL, não estou a pensar no escalope de 220 gramas e no arroz de ervilhas. Quando para mim sorri aquele pedaço de orelha, aquelas presas de entrecosto, aquele toucinho entremeado, nem me lembro que existe um prato de pescada cozida com feijão verde. Quando chega a garrafa do vinho esqueço-me que a alananina aminotransferase e que o gama glutamil, deveriam ter valores bem mais baixos do que os apresentados. E portanto, por antecipação, eu vou aproveitar hoje, uma vez que só volto a fazer análises daqui a 3 meses.
segunda-feira, março 27, 2006
944. É o teatro português...
Gil Vicente, Almeida Garrett, Bernardo Santareno, Romeu Correia, Luís de Sttau Monteiro, Luís de Camões, D. João da Câmara, António José da Silva, António Ferreira, Raul Brandão, Luísa Todi, Mário Viegas, João Mota, Eunice Muñoz, Diogo Infante, João Villaret, Ruy de Carvalho, José Viana, João Guedes, Palmira Bastos, Maria Matos, Cármen Dolores, Raul Solnado, Maria do Céu Guerra, Vasco Santana, Laura Alves, Beatriz Costa, Seiva Trupe, Amélia Rey Colaço, A Barraca, TEC, Guilherme Cossul, A Comuna, Luís Francisco Rebello, José Oliveira Barata.
Muitos mais nomes haveria a referir, muitos, muitos mais. Quero nestes autores, actores, companhias e estudiosos, que me vieram assim de repente à cabeça, prestar a minha homenagem ao Teatro Português, neste Dia Mundial do Teatro.
Texto também publicado no Ante-et-post, onde a Karla, em boa hora, abriu a nossa colectiva comemoração deste dia.
Gil Vicente, Almeida Garrett, Bernardo Santareno, Romeu Correia, Luís de Sttau Monteiro, Luís de Camões, D. João da Câmara, António José da Silva, António Ferreira, Raul Brandão, Luísa Todi, Mário Viegas, João Mota, Eunice Muñoz, Diogo Infante, João Villaret, Ruy de Carvalho, José Viana, João Guedes, Palmira Bastos, Maria Matos, Cármen Dolores, Raul Solnado, Maria do Céu Guerra, Vasco Santana, Laura Alves, Beatriz Costa, Seiva Trupe, Amélia Rey Colaço, A Barraca, TEC, Guilherme Cossul, A Comuna, Luís Francisco Rebello, José Oliveira Barata.
Muitos mais nomes haveria a referir, muitos, muitos mais. Quero nestes autores, actores, companhias e estudiosos, que me vieram assim de repente à cabeça, prestar a minha homenagem ao Teatro Português, neste Dia Mundial do Teatro.
Texto também publicado no Ante-et-post, onde a Karla, em boa hora, abriu a nossa colectiva comemoração deste dia.
domingo, março 26, 2006
943. Parabéns e luvas brancas, ou Mal-entendidos II
Passava o mês de Abril de 2005. Um novo Papa tinha sido escolhido num conclave de cardeais. Um antigo membro da juventude hitleriana, tinha sido eleito Papa, realçavam alguns blogs. Outros, defenderam a sua escolha como quiseram, souberam ou puderam. Outros houve que criticaram os blogs que defenderam a escolha do Papa. Mas quando li um post, que criticava os que criticavam a escolha do Papa com o argumento de que era um antigo da juventude nazi que estava a ser eleito, resolvi comentar. Quando entro numa caixa de comentários, tenho por hábito ler os comentários já apostos. Se o meu comentário não vai acrescentar nada, abstenho-me de comentar. O que está dito não precisa ser repetido. Se por acaso leio um comentário que ele próprio também merece comentário, faço-lhe referência, sendo que, por vezes, dou por mim a comentar o comentário e não o post. Sei que isto acontece a muitos leitores de blogs e não me parece que venha nenhum mal ao mundo por isso. Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele ou, quem anda há chuva molha-se, são alguns ditados populares que fazem sentido em circunstâncias destas. Por outro lado, quem vai à guerra dá e leva. Mas há quem não goste de ver um comentário seu ser comentado. Do tipo, entre marido e mulher ninguém mete a colher. Partir de um comentário ao seu comentário para a ofensa gratuita é um passo curtinho do tipo quem não se sente não é filho de boa gente. E enchem-se de tal modo de razão que quando têm um blog, assim uma coisa pública, pegam nele e tocam a desancar no desgraçado que teve a ousadia de comentar um comentário seu. E depois, exigem-lhe um pedido de desculpas. Ora, tanto quanto me parece justo, e embora eu não tenha conhecimento que a Alta Autoridade para a Comunicação Social alguma vez tenha exigido a um blog para dar o mesmo realce que outro numa espécie de defesa do contraditório, dizia eu, parece-me justo que esse pedido de desculpas fosse feito num post deste blog com o mesmo realce com que foi feito o desancar no autor. O único quiproquó que me obstou em fazê-lo foi que a autora desse post me respondia no blog que comentei que não me conhecia de nenhum lado para me autorizar a comentar o seu comentário e que o meu blog não fazia parte das suas leituras. Sendo assim, qualquer pedido de desculpas públicas que eu fizesse cairia em saco roto, pois a presumível ofendida não o leria por aqui não vir. Mas, sendo eu um tipo que tem um conceito próprio de bons blogs, seja isso o que for, sempre considerei que o blog dessa pessoa era um blog para ler e continuar a ler mesmo após a tentativa de afronta. E, à socapa, sem dar a cara nem comentar, fui-lhe seguindo o percurso. Não tenho nenhum pejo em lhe dar os parabéns pelo aniversário do seu blog. Mas se ela pensar que isto é algum pedido de desculpas, pode tirar o cavalinho da chuva. Ela tem tanta razão quanto eu e eu não sou de dar o braço a torcer. Por outro lado, sei que ela nunca lerá este texto, atendendo ao que afirmou na época, pelo que estou deveras à vontade.
Passava o mês de Abril de 2005. Um novo Papa tinha sido escolhido num conclave de cardeais. Um antigo membro da juventude hitleriana, tinha sido eleito Papa, realçavam alguns blogs. Outros, defenderam a sua escolha como quiseram, souberam ou puderam. Outros houve que criticaram os blogs que defenderam a escolha do Papa. Mas quando li um post, que criticava os que criticavam a escolha do Papa com o argumento de que era um antigo da juventude nazi que estava a ser eleito, resolvi comentar. Quando entro numa caixa de comentários, tenho por hábito ler os comentários já apostos. Se o meu comentário não vai acrescentar nada, abstenho-me de comentar. O que está dito não precisa ser repetido. Se por acaso leio um comentário que ele próprio também merece comentário, faço-lhe referência, sendo que, por vezes, dou por mim a comentar o comentário e não o post. Sei que isto acontece a muitos leitores de blogs e não me parece que venha nenhum mal ao mundo por isso. Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele ou, quem anda há chuva molha-se, são alguns ditados populares que fazem sentido em circunstâncias destas. Por outro lado, quem vai à guerra dá e leva. Mas há quem não goste de ver um comentário seu ser comentado. Do tipo, entre marido e mulher ninguém mete a colher. Partir de um comentário ao seu comentário para a ofensa gratuita é um passo curtinho do tipo quem não se sente não é filho de boa gente. E enchem-se de tal modo de razão que quando têm um blog, assim uma coisa pública, pegam nele e tocam a desancar no desgraçado que teve a ousadia de comentar um comentário seu. E depois, exigem-lhe um pedido de desculpas. Ora, tanto quanto me parece justo, e embora eu não tenha conhecimento que a Alta Autoridade para a Comunicação Social alguma vez tenha exigido a um blog para dar o mesmo realce que outro numa espécie de defesa do contraditório, dizia eu, parece-me justo que esse pedido de desculpas fosse feito num post deste blog com o mesmo realce com que foi feito o desancar no autor. O único quiproquó que me obstou em fazê-lo foi que a autora desse post me respondia no blog que comentei que não me conhecia de nenhum lado para me autorizar a comentar o seu comentário e que o meu blog não fazia parte das suas leituras. Sendo assim, qualquer pedido de desculpas públicas que eu fizesse cairia em saco roto, pois a presumível ofendida não o leria por aqui não vir. Mas, sendo eu um tipo que tem um conceito próprio de bons blogs, seja isso o que for, sempre considerei que o blog dessa pessoa era um blog para ler e continuar a ler mesmo após a tentativa de afronta. E, à socapa, sem dar a cara nem comentar, fui-lhe seguindo o percurso. Não tenho nenhum pejo em lhe dar os parabéns pelo aniversário do seu blog. Mas se ela pensar que isto é algum pedido de desculpas, pode tirar o cavalinho da chuva. Ela tem tanta razão quanto eu e eu não sou de dar o braço a torcer. Por outro lado, sei que ela nunca lerá este texto, atendendo ao que afirmou na época, pelo que estou deveras à vontade.
sábado, março 25, 2006
942. Mal entendidos
Então ele disse-me:
“… eu estava na Casa do Algarve a representar a Junta”.
“De quem é ‘A junta’ ? “ – interrompi
“daqui” – disse ele
“daqui?” –interroguei-o de novo, pensei que te referisses a Brecht ou a Beckett
Fez uma pausa e recomeçou “eu estava na Casa do Alentejo a representar a Junta”
Comecei logo a imaginar ‘A junta’ de Luís de Sttau Monteiro, encenado por Joaquim Benitez e representado por ele. Mas na verdade nem sei se o Sttau Monteiro escreveu alguma peça assim intitulada. Voltei à carga:
“seria de Sttau Monteiro?”
Eu convencido que ele estava a representar e ele convencido que eu estava a gozar com ele. Só depois ele converteu a sentença.
“eu estava na Casa do Alentejo em representação da Junta de Freguesia”
Deixei-o contar a história, mas a decepção já ninguém ma poderia tirar. Sempre o imaginei um actor.
Então ele disse-me:
“… eu estava na Casa do Algarve a representar a Junta”.
“De quem é ‘A junta’ ? “ – interrompi
“daqui” – disse ele
“daqui?” –interroguei-o de novo, pensei que te referisses a Brecht ou a Beckett
Fez uma pausa e recomeçou “eu estava na Casa do Alentejo a representar a Junta”
Comecei logo a imaginar ‘A junta’ de Luís de Sttau Monteiro, encenado por Joaquim Benitez e representado por ele. Mas na verdade nem sei se o Sttau Monteiro escreveu alguma peça assim intitulada. Voltei à carga:
“seria de Sttau Monteiro?”
Eu convencido que ele estava a representar e ele convencido que eu estava a gozar com ele. Só depois ele converteu a sentença.
“eu estava na Casa do Alentejo em representação da Junta de Freguesia”
Deixei-o contar a história, mas a decepção já ninguém ma poderia tirar. Sempre o imaginei um actor.
quinta-feira, março 23, 2006
terça-feira, março 21, 2006
segunda-feira, março 20, 2006
939. E ontem foi dia do pai
Ontem foi o dia do pai. Eu não escrevi nada neste blog que fosse uma comemoração do dia pura e simplesmente porque ontem não escrevi. Aliás ontem não fiz nada, ou melhor fiz feriado. É que sendo o dia do pai também o dia foi meu uma vez que também eu sou pai. Devem os filhos homenagear os pais neste dia porque é o dia deles, dos pais, ou devem os pais usar este dia para falar dos filhos, uma vez que eles (os pais), é que são os pais e portanto o seu próprio dia? Este dilema bloqueia-me o pensamento e desde que me lembro acho que nunca escrevi nada sobre o dia do pai. É claro que amo muito o meu pai, como tenho a certeza, pelas demonstrações do dia a dia, que os meus filhos me amam a mim. Mas escrever no dia do pai uma missiva ao meu pai sempre se me apresentou como uma impossibilidade. Por causa do dilema que supra referi. No entanto ontem como pai, pensei quão mau pai eu tenho sido. E vou confessar-vos isso com alguns exemplos. Ontem estava a ouvir um CD colocado pelo meu filho no aparelho. Tive alguma tranquilidade de espírito para lhe pergunta o nome do dito. Mas não fui capaz de lhe pedir para por o som mais alto. Outro exemplo da minha bestialidade enquanto pai é, às várias investida que ele já me fez para que eu anuía a que ele faça uma tatuagem, o não ter aproveitado o dia de ontem e como bom pai ter-lhe dito: “filho pega na trouxa e vamos lá fazer essa tatuagem. Quem sabe eu descubra alguma que goste e me tatue também”. E finalmente para demonstrar aos meus leitores que eu não mereço ter um dia do pai é a forma como trato os meus filhos em frente ao televisor. Nunca eles ouviram da minha boca a frase “toma lá o comando”.
Ontem foi o dia do pai. Eu não escrevi nada neste blog que fosse uma comemoração do dia pura e simplesmente porque ontem não escrevi. Aliás ontem não fiz nada, ou melhor fiz feriado. É que sendo o dia do pai também o dia foi meu uma vez que também eu sou pai. Devem os filhos homenagear os pais neste dia porque é o dia deles, dos pais, ou devem os pais usar este dia para falar dos filhos, uma vez que eles (os pais), é que são os pais e portanto o seu próprio dia? Este dilema bloqueia-me o pensamento e desde que me lembro acho que nunca escrevi nada sobre o dia do pai. É claro que amo muito o meu pai, como tenho a certeza, pelas demonstrações do dia a dia, que os meus filhos me amam a mim. Mas escrever no dia do pai uma missiva ao meu pai sempre se me apresentou como uma impossibilidade. Por causa do dilema que supra referi. No entanto ontem como pai, pensei quão mau pai eu tenho sido. E vou confessar-vos isso com alguns exemplos. Ontem estava a ouvir um CD colocado pelo meu filho no aparelho. Tive alguma tranquilidade de espírito para lhe pergunta o nome do dito. Mas não fui capaz de lhe pedir para por o som mais alto. Outro exemplo da minha bestialidade enquanto pai é, às várias investida que ele já me fez para que eu anuía a que ele faça uma tatuagem, o não ter aproveitado o dia de ontem e como bom pai ter-lhe dito: “filho pega na trouxa e vamos lá fazer essa tatuagem. Quem sabe eu descubra alguma que goste e me tatue também”. E finalmente para demonstrar aos meus leitores que eu não mereço ter um dia do pai é a forma como trato os meus filhos em frente ao televisor. Nunca eles ouviram da minha boca a frase “toma lá o comando”.
sábado, março 18, 2006
938. Três anos e 40 mil mortos depois...
Há três anos, ouviram-se os estrondos das primeiras bombas sobre Bagdad. As primeiras de uma nova série que deu origem à II Guerra do Golfo. Os protagonistas do ataque fizeram-no escondidos por detrás de uma mentira que eles próprios conheciam: a existência de armas de destruição maciça. As administrações americana e britânica, com o beneplácito de potências de segunda como a espanhola ou de outros que nem potencia são, como a governação portuguesa, mandaram para o inferno, um país que longe de ser um estado modelo nem uma democracia política, era um país muito melhor do que naquilo em que se transformou. Esta guerra que já provocou cerca de 40 mil mortos iraquianos e mais de 2300 soldados americanos e aliados, pôs o Iraque às portas da guerra civil, fez disparar os preços do petróleo para números nunca vistos, tornou o mundo mais perigoso. Basta contabilizar o número de atentados radicais perpetrados por esse mundo fora, desde há 3 anos para cá. Tirando a indústria da guerra parece que ninguém ficou a ganhar com ela. Entretanto o ditador Sadam Husain está a ser julgado (e assim continuará até que o envenenem na prisão, como já foi feito a outros) pelo crime de chacina de 180 iraquianos. Face aos números oficiais conhecidos de mortos provocados por esta guerra, se não fosse dramático, daria para rir. E os responsáveis por esta guerra continuam e continuarão impunes.
Há três anos, ouviram-se os estrondos das primeiras bombas sobre Bagdad. As primeiras de uma nova série que deu origem à II Guerra do Golfo. Os protagonistas do ataque fizeram-no escondidos por detrás de uma mentira que eles próprios conheciam: a existência de armas de destruição maciça. As administrações americana e britânica, com o beneplácito de potências de segunda como a espanhola ou de outros que nem potencia são, como a governação portuguesa, mandaram para o inferno, um país que longe de ser um estado modelo nem uma democracia política, era um país muito melhor do que naquilo em que se transformou. Esta guerra que já provocou cerca de 40 mil mortos iraquianos e mais de 2300 soldados americanos e aliados, pôs o Iraque às portas da guerra civil, fez disparar os preços do petróleo para números nunca vistos, tornou o mundo mais perigoso. Basta contabilizar o número de atentados radicais perpetrados por esse mundo fora, desde há 3 anos para cá. Tirando a indústria da guerra parece que ninguém ficou a ganhar com ela. Entretanto o ditador Sadam Husain está a ser julgado (e assim continuará até que o envenenem na prisão, como já foi feito a outros) pelo crime de chacina de 180 iraquianos. Face aos números oficiais conhecidos de mortos provocados por esta guerra, se não fosse dramático, daria para rir. E os responsáveis por esta guerra continuam e continuarão impunes.
quinta-feira, março 16, 2006
937. Inútil
Ao passar na loja de conveniência da estação de serviço, aqui próximo de onde moro, reparei no cartaz, “Aberto 24 horas”. Confirmei com um funcionário a veracidade da informação, tendo ficado a saber que nem na noite de Natal fecham. Interroguei-me para que é que serviria a porta ter fechadura.
*
Coloquei um autocolante na caixa do correio, há uns tempos, com a menção de que não deveriam colocar publicidade não endereçada. No dia seguinte o autocolante já lá não estava e a caixa continua inundada de prospectos publicitários.
*
Os manuais de instrução dos aparelhos que compro. Em finlandês, russo, grego, japonês, coreano, árabe, inglês, francês, castelhano. Só leio as páginas em português e tenho a certeza que pago o manual multilingue.
*
Ser cliente Netcabo da TV Cabo. Na maioria dos dias, ou não tenho net, ou se pudesse funcionar a carvão, seria mais rápida.
Ao passar na loja de conveniência da estação de serviço, aqui próximo de onde moro, reparei no cartaz, “Aberto 24 horas”. Confirmei com um funcionário a veracidade da informação, tendo ficado a saber que nem na noite de Natal fecham. Interroguei-me para que é que serviria a porta ter fechadura.
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Coloquei um autocolante na caixa do correio, há uns tempos, com a menção de que não deveriam colocar publicidade não endereçada. No dia seguinte o autocolante já lá não estava e a caixa continua inundada de prospectos publicitários.
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Os manuais de instrução dos aparelhos que compro. Em finlandês, russo, grego, japonês, coreano, árabe, inglês, francês, castelhano. Só leio as páginas em português e tenho a certeza que pago o manual multilingue.
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Ser cliente Netcabo da TV Cabo. Na maioria dos dias, ou não tenho net, ou se pudesse funcionar a carvão, seria mais rápida.
quarta-feira, março 15, 2006
936. Indesculpável
Reparei agora que há quase uma semana que não boto escritura no blog. E isso é indesculpável, ou se quiserem, imperdoável. E havia tanta coisa para dizer. Habemus presidente novo, mas isso já sabíamos. Tenho andado a ler algumas recomendações para uma eventual pandemia da gripe das aves e um dos conselhos é não dar apertos de mão. O Mário Soares leu, com certeza, a mesma cartilha e não foi à sessão de cumprimentos. Por mim está desculpado. O Pinto da Costa, o tal do apito dourado (o Fernando Barata falava há uns anos atrás em relógios de ouro), parece que, segundo o Correio da Manhã, andou a fazer umas malandrices. Eu acho que é má língua. O homem é ex-seminarista. É um santo de certeza absoluta. Toda a direita elogia a política de educação do governo e a respectiva ministra. Se a direita elogia é porque está bem. Viva! Aliás não é de admirar, ainda ontem, aquele ministro do lábio saído não me lembro o nome, referia que o até o presidente do CDS aplaudia a política económica do Governo. Então se o CDS aplaude, é porque a política está certa. Qual é a dúvida? A gente é que andávamos enganados que o Governo era de esquerda. Somos uns brutos. O desemprego está a aumentar, mas temos OPAs. A confiança voltou. Os bancos têm cada vez maiores lucros. Confiemos. Parece que os desempregados é que não estão muito confiantes. Apesar disso, o Sócrates, se as eleições fossem amanhã, ganharia de novo com maioria absoluta. Vivam as sondagens. Ou então os desempregados, os funcionários públicos, os operários das fábricas que continuam a fechar a torto e a direito, e etc, para não me alongar, não têm vergonha na cara. Ai, desculpem, estava-me a esquecer de contar as intenções de voto dos velhinhos de mais de 80 anos que vão começar a receber o tal subsídio. Basta que saibam preencher vinte e cinco mil, trezentos e setenta e seis impressos. Entretanto o Benfica eliminou o Liverpool, mas não conseguiu vencer a Naval da Figueira da Foz. Já estou a ver os figueirenses a dizerem, lá com os seus botões, se fossemos ingleses, seríamos campeões na PremierShip. Qual Mourinho, qual carapuça! E para terminar é só para dizer que saúdo a Primavera por, essa sim, ser competitiva, a fazer inveja à maioria dos empresários (patrões) portugueses. Chegou antes do tempo e não fez publicidade na TV. O problema é que me obrigou a escrever este post de manga curta e em cuecas. E agora o que é que eu vou fazer ao casaco de peles. Han? Não é politicamente correcto, isso das peles? O quê? As focas e tal? Ah, está bem, desculpem…
Reparei agora que há quase uma semana que não boto escritura no blog. E isso é indesculpável, ou se quiserem, imperdoável. E havia tanta coisa para dizer. Habemus presidente novo, mas isso já sabíamos. Tenho andado a ler algumas recomendações para uma eventual pandemia da gripe das aves e um dos conselhos é não dar apertos de mão. O Mário Soares leu, com certeza, a mesma cartilha e não foi à sessão de cumprimentos. Por mim está desculpado. O Pinto da Costa, o tal do apito dourado (o Fernando Barata falava há uns anos atrás em relógios de ouro), parece que, segundo o Correio da Manhã, andou a fazer umas malandrices. Eu acho que é má língua. O homem é ex-seminarista. É um santo de certeza absoluta. Toda a direita elogia a política de educação do governo e a respectiva ministra. Se a direita elogia é porque está bem. Viva! Aliás não é de admirar, ainda ontem, aquele ministro do lábio saído não me lembro o nome, referia que o até o presidente do CDS aplaudia a política económica do Governo. Então se o CDS aplaude, é porque a política está certa. Qual é a dúvida? A gente é que andávamos enganados que o Governo era de esquerda. Somos uns brutos. O desemprego está a aumentar, mas temos OPAs. A confiança voltou. Os bancos têm cada vez maiores lucros. Confiemos. Parece que os desempregados é que não estão muito confiantes. Apesar disso, o Sócrates, se as eleições fossem amanhã, ganharia de novo com maioria absoluta. Vivam as sondagens. Ou então os desempregados, os funcionários públicos, os operários das fábricas que continuam a fechar a torto e a direito, e etc, para não me alongar, não têm vergonha na cara. Ai, desculpem, estava-me a esquecer de contar as intenções de voto dos velhinhos de mais de 80 anos que vão começar a receber o tal subsídio. Basta que saibam preencher vinte e cinco mil, trezentos e setenta e seis impressos. Entretanto o Benfica eliminou o Liverpool, mas não conseguiu vencer a Naval da Figueira da Foz. Já estou a ver os figueirenses a dizerem, lá com os seus botões, se fossemos ingleses, seríamos campeões na PremierShip. Qual Mourinho, qual carapuça! E para terminar é só para dizer que saúdo a Primavera por, essa sim, ser competitiva, a fazer inveja à maioria dos empresários (patrões) portugueses. Chegou antes do tempo e não fez publicidade na TV. O problema é que me obrigou a escrever este post de manga curta e em cuecas. E agora o que é que eu vou fazer ao casaco de peles. Han? Não é politicamente correcto, isso das peles? O quê? As focas e tal? Ah, está bem, desculpem…
quarta-feira, março 08, 2006
935. Dias Internacionais das Mulheres
Tenho de vos confessar (uma vez mais, ou não fosse este um blog intimista) que não vou muito à bola com dias internacionais. No entanto, talvez devido à sua raiz histórica, nutro uma certa simpatia, quiçá imbuída por um espírito de solidariedade, pelo Dia Internacional da Mulher. Estava a comentar o dia com a minha mulher, que por sinal também é minha esposa, passe o desgosto que dê a algum/a leitor menos possidónio, ontem ao jantar, e ela fez-me um comentário bem assertivo. “Amanhã? E hoje, não?”. E dei comigo a viajar com os meus filhos mamando nos peitos da mãe, com as fraldas trocadas, com os banhinhos dados a horas certas, com as viagens para o infantário, com as consultas de pediatria, com o jantar para 16 pessoas, com a camisa lavada, com os colarinhos passados a ferro, com o termómetro, os medicamentos, o chá, levados à cama quando a febre me chegou, com a sala aspirada, com a mesa posta, com as torradas com manteiga, com a cerveja geladinha durante o jogo do Benfica, com a bica depois do jantar, com a roupa estendida e apanhada, com a máquina da loiça cheia, com o pó limpo, com as compras do supermercado feitas, com os gatos no veterinário, com os cuidados com os pais, com as contas em ordem, com o emprego das 9 as 19, com a mala arrumada para viagem, com o beijo de boas noites. E se o dia internacional da mulher não foi ontem, não foi anteontem, não foi no dia antes de anteontem, não foi na semana passada, no mês passado, nos anos passados, se não for hoje, amanhã e depois e depois e depois… então UM dia internacional da mulher, não é justo.
Tenho de vos confessar (uma vez mais, ou não fosse este um blog intimista) que não vou muito à bola com dias internacionais. No entanto, talvez devido à sua raiz histórica, nutro uma certa simpatia, quiçá imbuída por um espírito de solidariedade, pelo Dia Internacional da Mulher. Estava a comentar o dia com a minha mulher, que por sinal também é minha esposa, passe o desgosto que dê a algum/a leitor menos possidónio, ontem ao jantar, e ela fez-me um comentário bem assertivo. “Amanhã? E hoje, não?”. E dei comigo a viajar com os meus filhos mamando nos peitos da mãe, com as fraldas trocadas, com os banhinhos dados a horas certas, com as viagens para o infantário, com as consultas de pediatria, com o jantar para 16 pessoas, com a camisa lavada, com os colarinhos passados a ferro, com o termómetro, os medicamentos, o chá, levados à cama quando a febre me chegou, com a sala aspirada, com a mesa posta, com as torradas com manteiga, com a cerveja geladinha durante o jogo do Benfica, com a bica depois do jantar, com a roupa estendida e apanhada, com a máquina da loiça cheia, com o pó limpo, com as compras do supermercado feitas, com os gatos no veterinário, com os cuidados com os pais, com as contas em ordem, com o emprego das 9 as 19, com a mala arrumada para viagem, com o beijo de boas noites. E se o dia internacional da mulher não foi ontem, não foi anteontem, não foi no dia antes de anteontem, não foi na semana passada, no mês passado, nos anos passados, se não for hoje, amanhã e depois e depois e depois… então UM dia internacional da mulher, não é justo.
sábado, março 04, 2006
934. Cinco anos depois
Há 5 anos, caía a ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios. Com a queda mais de 50 mortos. Com a queda, um ministro que na verdade não tinha nada a ver com aquilo demitiu-se. Aplaudiram todos um acto nobre. Tretas. O Jorge Coelho não tendo nada a ver com aquilo, achou por bem sair de mansinho para não ter trabalho a mexer na “merda”. Chico-espertismo. Aliás, é sempre assim com os poderosos. Lembram-se do caso do semáforo do Campo Grande? Um operário da CML, jardineiro que nas horas vagas fazia uns biscates na electricidade, foi o “grande” responsável pela morte do garoto. Só não é para rir, porque houve uma morte e um condenado. Fala-se por aí que quem está na calha para ser acusado pela queda do viaduto do IC19 é um engenheiro da ex-JAE. Recorda-me uma personagem de uma comédia brasileira que passava na TV em que ela dizia, “tudo eu, tudo eu”. Vão ser julgados os 5 culpados pela queda da ponte Hintze Ribeiro. 5 Culpados 5! Tudo técnicos. Nenhum carola. Nenhum responsável político. A questão dos areeiros caiu rapidamente no esquecimento. Não há provas, não há arguidos. Também não há nenhum responsável político. Trinta anos depois da implantação da democracia em Portugal. Não me estou a rir, morreram cinquenta e seis pessoas. Não rio com a tragédia. Mas, baixinho, por dentro, rio-me da justiça. Qual justiça?
Há 5 anos, caía a ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios. Com a queda mais de 50 mortos. Com a queda, um ministro que na verdade não tinha nada a ver com aquilo demitiu-se. Aplaudiram todos um acto nobre. Tretas. O Jorge Coelho não tendo nada a ver com aquilo, achou por bem sair de mansinho para não ter trabalho a mexer na “merda”. Chico-espertismo. Aliás, é sempre assim com os poderosos. Lembram-se do caso do semáforo do Campo Grande? Um operário da CML, jardineiro que nas horas vagas fazia uns biscates na electricidade, foi o “grande” responsável pela morte do garoto. Só não é para rir, porque houve uma morte e um condenado. Fala-se por aí que quem está na calha para ser acusado pela queda do viaduto do IC19 é um engenheiro da ex-JAE. Recorda-me uma personagem de uma comédia brasileira que passava na TV em que ela dizia, “tudo eu, tudo eu”. Vão ser julgados os 5 culpados pela queda da ponte Hintze Ribeiro. 5 Culpados 5! Tudo técnicos. Nenhum carola. Nenhum responsável político. A questão dos areeiros caiu rapidamente no esquecimento. Não há provas, não há arguidos. Também não há nenhum responsável político. Trinta anos depois da implantação da democracia em Portugal. Não me estou a rir, morreram cinquenta e seis pessoas. Não rio com a tragédia. Mas, baixinho, por dentro, rio-me da justiça. Qual justiça?
sexta-feira, março 03, 2006
933. Lunch Time Blog, revisitado
Não minhas amigas leitoras e meus amigos leitores não é um retorno à série. Vós sabeis quanto eu gosto de comer e quanto eu gosto de um bom vinho tinto. Os que me leram em tempos de LBT, conhecem já quase todos os meus pratos preferidos e sabem como há dois anos atrás o Schubert, sim o meu gato siamês - fica apresentado para quem o não conhece - sempre entrava nas minhas narrações. O Schubert que deveria ter ganho um Oscar como “the best performance by an actor in a supporting role”, já que o seu dono e escriba deste blog nunca foi alvo tão pouco de uma nomeação nos diversos prémios que a blogosfera distribui (já agora e de passagem, Sr. Dr. Jorge Sampaio, não sobrou nenhuma condecoração por aí, para ser atribuída ao PreDatado?), dizia eu antes do parêntesis que o Schubert continua a protagonizar um dos principais papeis durante os meus almoços. Não lhe bastava falar sozinho, comentando o que eu comia e bebia, como agora dá em interromper os meus almoços para que seja eu a acompanhá-lo ao seu comedor. E está demasiado guloso, pois já não se contenta só com a sua ração normal, exigindo também uma guloseima da Gourmet Gold. Cá para mim o tipo sabe que eu sou louco por farófias, por uma laranja da baía, por uma encharcada, por uma torta de Azeitão, por um abacate com vinho da Madeira, por uma salada de papaia e manga, por um leite creme queimado a ferro fundido, por uma mousse de chocolate com Porto. E é por isso que não se quer ficar atrás. Hoje, nem a costeleta de porco preto grelhada, com salada (alface cortada miudinha, folha de cebolinho e alho, coentros, cebola cortada fininha às rodelas e orégãos, obviamente temperada de vinagre de vinho e azeite extra), ele me deixou comer sem eu ter que o acompanhar no seu repasto. Valeu que depois me sentei, sozinho – como aliás não gosto –, a saborear um Quinta da Rigodeira, reserva de 2003, com um sabor firme que fica na boca e um aroma misto de ameixa preta e cravinho e, se a leve constipação não me deixou o nariz trair, um ligeiro toque de menta. Bendita oferta.
PS1. Aquilo da condecoração, Dr. Jorge Sampaio, era a sério. Com tanta comenda e ordem distribuída mais uma, menos uma, não lhe irá custar assim tanto. Vá, lá!
PS2. Ninguém me pagou para referir a Gourmet aqui no post. Mas se o gato gosta o que é que eu hei-de fazer?
PS3. Atendendo ao PS2, estou aberto a um patrocínio publicitário.
PS4. Um desempregado também tem o direito de comer porco preto. Ou não?
PS5. Não se admirem se não fiz referência ao sal no tempero da salada ou ao finalizar o almoço com um Delta Timor, mas faz tempo que deixei o sal e o café. Manias de hipertenso…
Não minhas amigas leitoras e meus amigos leitores não é um retorno à série. Vós sabeis quanto eu gosto de comer e quanto eu gosto de um bom vinho tinto. Os que me leram em tempos de LBT, conhecem já quase todos os meus pratos preferidos e sabem como há dois anos atrás o Schubert, sim o meu gato siamês - fica apresentado para quem o não conhece - sempre entrava nas minhas narrações. O Schubert que deveria ter ganho um Oscar como “the best performance by an actor in a supporting role”, já que o seu dono e escriba deste blog nunca foi alvo tão pouco de uma nomeação nos diversos prémios que a blogosfera distribui (já agora e de passagem, Sr. Dr. Jorge Sampaio, não sobrou nenhuma condecoração por aí, para ser atribuída ao PreDatado?), dizia eu antes do parêntesis que o Schubert continua a protagonizar um dos principais papeis durante os meus almoços. Não lhe bastava falar sozinho, comentando o que eu comia e bebia, como agora dá em interromper os meus almoços para que seja eu a acompanhá-lo ao seu comedor. E está demasiado guloso, pois já não se contenta só com a sua ração normal, exigindo também uma guloseima da Gourmet Gold. Cá para mim o tipo sabe que eu sou louco por farófias, por uma laranja da baía, por uma encharcada, por uma torta de Azeitão, por um abacate com vinho da Madeira, por uma salada de papaia e manga, por um leite creme queimado a ferro fundido, por uma mousse de chocolate com Porto. E é por isso que não se quer ficar atrás. Hoje, nem a costeleta de porco preto grelhada, com salada (alface cortada miudinha, folha de cebolinho e alho, coentros, cebola cortada fininha às rodelas e orégãos, obviamente temperada de vinagre de vinho e azeite extra), ele me deixou comer sem eu ter que o acompanhar no seu repasto. Valeu que depois me sentei, sozinho – como aliás não gosto –, a saborear um Quinta da Rigodeira, reserva de 2003, com um sabor firme que fica na boca e um aroma misto de ameixa preta e cravinho e, se a leve constipação não me deixou o nariz trair, um ligeiro toque de menta. Bendita oferta.
PS1. Aquilo da condecoração, Dr. Jorge Sampaio, era a sério. Com tanta comenda e ordem distribuída mais uma, menos uma, não lhe irá custar assim tanto. Vá, lá!
PS2. Ninguém me pagou para referir a Gourmet aqui no post. Mas se o gato gosta o que é que eu hei-de fazer?
PS3. Atendendo ao PS2, estou aberto a um patrocínio publicitário.
PS4. Um desempregado também tem o direito de comer porco preto. Ou não?
PS5. Não se admirem se não fiz referência ao sal no tempero da salada ou ao finalizar o almoço com um Delta Timor, mas faz tempo que deixei o sal e o café. Manias de hipertenso…
quinta-feira, março 02, 2006
932. E quando a gente não tem inspiração para postar...
...reconta uma velha anedota.
Carta de mulher para o marido marido
Querido,
Estou a escrever-te esta carta para dizer que vou te deixar para sempre.
Fui uma boa mulher para ti durante sete anos e não tenho nada a provar.
As duas últimas semanas foram um inferno.
O teu chefe chamou-me para dizer que te tinha demitido e isso foi a gota d´água.
Na semana passada, chegaste a casa e nem notaste que eu tinha um novo
penteado e que tinha ido à manicure.
Cozinhei a teu prato preferido e até usei uma nova lingerie.
Chegaste a casa, comeste em menos de dois minutos, foste ver a bola na TV e adormeceste no sofá.
Não me digas que me amas, nunca mais fizemos sexo.
Ou me andas a enganar ou então não me amas mais. Seja qual for o caso,
vou te deixar.
P.S. Se me quiseres encontrar, desiste. O teu irmão e eu vamos viajar para as Bahamas e casar!
Assinado: A tua Ex-mulher
-----------------------------------------------------------------------
Resposta do marido
Querida Ex-mulher,
Nada me fez mais feliz do que ler a tua carta.
É verdade que estivemos casados durante sete anos, mas dizer que foste
uma boa mulher é um exagero.
Vejo futebol para tentar não te ouvir resmungar a toda a hora. Assim não valia a pena.
Realmente reparei que tinhas um novo penteado na semana passada e a
primeira coisa que me veio à cabeça foi: "Parece um homem!". Mas a minha mãe sempre me ensinou a não dizer nada que não fosse bonito.
Quando cozinhaste a minha refeição preferida, deve-me ter confundido
com o meu irmão, porque deixei de comer porco há mais de seis anos.
Fui dormir, porque reparei que a lingerie ainda tinha a etiqueta do preço. Mesmo assim ainda pensei que fosse uma coincidência o meu irmão me ter pedido emprestado 50,00 € e a lingerie ter custado 49,99 €.
Depois de tudo isto, eu ainda te amava! E achei que podíamos resolver os nossos problemas. Assim quando conferi o boletim e vi que tinha ganho o Totoloto, deixei o emprego e comprei dois bilhetes de avião para a Jamaica. Mas quando cheguei já tinhas partido.
Nada acontece por acaso. Espero que tenhas a vida com que sempre sonhaste. Ah, é verdade, o meu advogado disse-me que devido à carta que escreveste, não terás direito a nada.
P.S. Não sei se eu alguma vez te disse isto mas o Carlos, o meu
irmão, nasceu Carla. Espero que isso não seja um problema.
Assinado: Milionário e Solteiro.
...reconta uma velha anedota.
Carta de mulher para o marido marido
Querido,
Estou a escrever-te esta carta para dizer que vou te deixar para sempre.
Fui uma boa mulher para ti durante sete anos e não tenho nada a provar.
As duas últimas semanas foram um inferno.
O teu chefe chamou-me para dizer que te tinha demitido e isso foi a gota d´água.
Na semana passada, chegaste a casa e nem notaste que eu tinha um novo
penteado e que tinha ido à manicure.
Cozinhei a teu prato preferido e até usei uma nova lingerie.
Chegaste a casa, comeste em menos de dois minutos, foste ver a bola na TV e adormeceste no sofá.
Não me digas que me amas, nunca mais fizemos sexo.
Ou me andas a enganar ou então não me amas mais. Seja qual for o caso,
vou te deixar.
P.S. Se me quiseres encontrar, desiste. O teu irmão e eu vamos viajar para as Bahamas e casar!
Assinado: A tua Ex-mulher
-----------------------------------------------------------------------
Resposta do marido
Querida Ex-mulher,
Nada me fez mais feliz do que ler a tua carta.
É verdade que estivemos casados durante sete anos, mas dizer que foste
uma boa mulher é um exagero.
Vejo futebol para tentar não te ouvir resmungar a toda a hora. Assim não valia a pena.
Realmente reparei que tinhas um novo penteado na semana passada e a
primeira coisa que me veio à cabeça foi: "Parece um homem!". Mas a minha mãe sempre me ensinou a não dizer nada que não fosse bonito.
Quando cozinhaste a minha refeição preferida, deve-me ter confundido
com o meu irmão, porque deixei de comer porco há mais de seis anos.
Fui dormir, porque reparei que a lingerie ainda tinha a etiqueta do preço. Mesmo assim ainda pensei que fosse uma coincidência o meu irmão me ter pedido emprestado 50,00 € e a lingerie ter custado 49,99 €.
Depois de tudo isto, eu ainda te amava! E achei que podíamos resolver os nossos problemas. Assim quando conferi o boletim e vi que tinha ganho o Totoloto, deixei o emprego e comprei dois bilhetes de avião para a Jamaica. Mas quando cheguei já tinhas partido.
Nada acontece por acaso. Espero que tenhas a vida com que sempre sonhaste. Ah, é verdade, o meu advogado disse-me que devido à carta que escreveste, não terás direito a nada.
P.S. Não sei se eu alguma vez te disse isto mas o Carlos, o meu
irmão, nasceu Carla. Espero que isso não seja um problema.
Assinado: Milionário e Solteiro.
quarta-feira, março 01, 2006
931. O meu Carnaval
Minhas amigas leitoras e meus amigos leitores peço desde já desculpa por esta minha tão prolongada ausência. Eu não sou muito carnavaleiro. Outros tempos, sim, mas não sei se é da PDI se é por ter visto a pouco e pouco o Carnaval, trapalhão e matrafono (existe o termo?) dos meus tempos de juventude se vir a transformar em desfiles pseudo sambistas que, também a pouco e pouco, eu me fui cada vez mais desligando dessas lides. Não é que eu não goste de samba, bem antes pelo contrário, mas o Carnaval não tem mais tradição no Brasil do que aqui em Portugal para que nos tenhamos transformado numa imitação barata do que se faz no outro lado do Atlântico. As nossas ruas de Ovar a Loulé, passando por Torres ou pelo Samouco e principalmente pelo Funchal transformaram-se assim numa espécie de lojas dos trezentos da Marquês de Sapucaí. Vai daí este vosso escriba quase sempre zarpa a outras paragens, que é como quem diz, retira-se de mansinho e vai curtir os corpos esculturais das morenas via TV, à lareira e com um bom vinho tinto. Este ano entre outros, degustamos um Porta Palma da região Estremenha daqui dos nosso vizinhos espanhóis, a par de alguns alentejanos cujos nomes não vos digo para não armar ao pingarelho. Mascaramos uma perna de porco com laranja e acompanhamo-la com ameixas de Elvas, pusemos uma fantasia ao grão de bico, assim como que bem arreado de chispe, de entrecosto e belos enchidos de Barrancos transformando-o num belo cozido à alentejana, os carapaus travestiram-se de gordos como se fora Verão e pintaram a cara com molho à espanhola, o churrasco misto de entremeadas e lombinhos não precisaram de protecção e fizeram um bacanal na grelha que nem vos conto, o coelho não se quis ficar atrás e despiu a pele passeando-se nu por travessas de barro mesmo sabendo que lhe tínhamos esfolado o rabo, as mousses de chocolate vieram de africano vestido pois quanto mais pretinhas mais saborosas, ao bom-bocado caseiro chamámos-lhe pastel de nata e ele sentiu-se “carnavalado” e até o molotof que devia ter saído direitinho da forma se esparramou num tabuleiro com o açúcar em ponto caramelo a gritar que é Carnaval ninguém leva a mal. Para culminar a minha Maria apagou ontem 51 velas no bolo de aniversário e mascarou-se na pessoa mais velha da família, pois o respeitinho é muito bonito. Bem, para quem não vai muito em Carnavais, tivemos transformismo q.b. e assim se faz hoje de virtual presença a minha fuga do blog. Para o ano há mais Carnaval.
Minhas amigas leitoras e meus amigos leitores peço desde já desculpa por esta minha tão prolongada ausência. Eu não sou muito carnavaleiro. Outros tempos, sim, mas não sei se é da PDI se é por ter visto a pouco e pouco o Carnaval, trapalhão e matrafono (existe o termo?) dos meus tempos de juventude se vir a transformar em desfiles pseudo sambistas que, também a pouco e pouco, eu me fui cada vez mais desligando dessas lides. Não é que eu não goste de samba, bem antes pelo contrário, mas o Carnaval não tem mais tradição no Brasil do que aqui em Portugal para que nos tenhamos transformado numa imitação barata do que se faz no outro lado do Atlântico. As nossas ruas de Ovar a Loulé, passando por Torres ou pelo Samouco e principalmente pelo Funchal transformaram-se assim numa espécie de lojas dos trezentos da Marquês de Sapucaí. Vai daí este vosso escriba quase sempre zarpa a outras paragens, que é como quem diz, retira-se de mansinho e vai curtir os corpos esculturais das morenas via TV, à lareira e com um bom vinho tinto. Este ano entre outros, degustamos um Porta Palma da região Estremenha daqui dos nosso vizinhos espanhóis, a par de alguns alentejanos cujos nomes não vos digo para não armar ao pingarelho. Mascaramos uma perna de porco com laranja e acompanhamo-la com ameixas de Elvas, pusemos uma fantasia ao grão de bico, assim como que bem arreado de chispe, de entrecosto e belos enchidos de Barrancos transformando-o num belo cozido à alentejana, os carapaus travestiram-se de gordos como se fora Verão e pintaram a cara com molho à espanhola, o churrasco misto de entremeadas e lombinhos não precisaram de protecção e fizeram um bacanal na grelha que nem vos conto, o coelho não se quis ficar atrás e despiu a pele passeando-se nu por travessas de barro mesmo sabendo que lhe tínhamos esfolado o rabo, as mousses de chocolate vieram de africano vestido pois quanto mais pretinhas mais saborosas, ao bom-bocado caseiro chamámos-lhe pastel de nata e ele sentiu-se “carnavalado” e até o molotof que devia ter saído direitinho da forma se esparramou num tabuleiro com o açúcar em ponto caramelo a gritar que é Carnaval ninguém leva a mal. Para culminar a minha Maria apagou ontem 51 velas no bolo de aniversário e mascarou-se na pessoa mais velha da família, pois o respeitinho é muito bonito. Bem, para quem não vai muito em Carnavais, tivemos transformismo q.b. e assim se faz hoje de virtual presença a minha fuga do blog. Para o ano há mais Carnaval.
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