sexta-feira, outubro 24, 2008



foto de Markus Arns


1262. Mãos



De mão dada, lado a lado, que ela não era de escandaleiras. Ele bem tentava colocar-lhe o braço pela cintura e nem mesmo por cima do ombro ela o consentia. Condescendia apenas em ir de mão dada porque assim poderia controlar a distância do seu corpo ao dele.


Na igreja, ajoelhavam-se um ao lado do outro mas, de blusa quase sempre fechada, retirava-lhe as hipóteses de pensamento pecaminosos quando furtivamente os seus olhos se lhe dirigiam ao colo. E a completar o seu pudor, de diferente malha consoante a estação, longas meias torneavam-lhe as pernas cujo vestido as cobria até bem perto das canelas. Mas por detrás da diáfana cortina que os seus cabelos formavam quando baixava a cabeça em veneração à santa poder-se-ia ver-lhe um brilho nos olhos que apenas um olhar mais atento descobriria uma réstia de pecado.


Nem o escurinho do cinema, aos Domingos, constituía uma tentação para ela. Quando as luzes se apagavam e a projecção começava, concentrava-se na tela sem nunca perder de vista a mão dele a que sistemática e delicadamente empurrava de cima das coxas.


No quarto despia-se lentamente. Sempre em frente ao espelho que lhe conhecia os segredos. E quando o chão do quarto já não comportava mais nenhuma peça de roupa,deitava-se, pegava na mão “dele” e deixava-o aproximar-se.

Sem comentários: