Vítor Fernandes (aka PreDatado)
terça-feira, junho 30, 2009
1453. Maramor.
Vítor Fernandes (aka PreDatado)
segunda-feira, junho 29, 2009
1452. Sinais (de crise)
O mercado é pequeno mas é bem organizado. De um lado os legumes do outro, o peixe. As caixas de sardinha prateada, o carapau fresquinho a brilhar e até as sardas tinham os olhos bonitos. Besugos, bicas e salmonetes de tamanhos e preços diversos mas de qualidade igual, as douradas de aquicultura e de mar, o mesmo com os robalos. Safios, moreias, raias, pargos legítimos e mulatos, cachuchos e gorazes, corvinas, garopas e chernes de crescer água na boca. Linguados, pregados, solhas, xaputas e tamboris. Sargos de pesca à linha e amêijoa, berbigão e conquilha. Lulas, chocos e polvos. Também os percebes frescos e o camarão e a gamba da costa. A bela caldeirada já em postas com pata-roxa e cação e outros já mencionados, tinha um aspecto divinal. Espadarte, atum e salmão às postas precipitavam-se para as grelhas. A pescada era linda e o peixe-espada de fazer inveja. As peixeiras e os peixeiros simpáticos e profissionais, as bancas cheias de peixe, o mercado vazio. A crise não perdoa. As enguias ainda estavam vivas.
Foto de Filipe Araújo em Flickr
domingo, junho 28, 2009
1451. Apenas uma nota domingueira...
1450. Amanhã ainda é S. Pedro
Fim de festa
Santo António era careca
São João tinha um cordeiro
São Pedro pesca faneca
Eu preciso é de dinheiro.
Só peço esse milagre
Nestas festas animadas
Azeite, sal e vinagre
Para temperar as saladas.
Por falar nas comidinhas
(esta é para ti milagreiro)
Já estou farto de sardinhas
Quando é que toca o dinheiro?
S. João está mais cansado
Mas tu F. de Bulhões
Em vez de pimento assado
Que tal o Euromilhões?
S. Pedro, eu já pressinto
Um pedido em saco roto
Mas troco o jarro de tinto
Por um seis no Totoloto.
Ouve-se já a gritaria:
Alto! E para o bailarico!
Se bater a lotaria
Ofereço-vos um manjerico.
E pronto está-se a acabar
Festa Junina é assim
Com a crise a chatear
E a gente sem pilim.
E saio já de tamanquinhos,
Esperança é coisa que não falta.
Peço a todos os santinhos
Saúde e sorte prá malta!
PreDatado©Junho 2009
quinta-feira, junho 18, 2009
1449. Manel
Se o meu blog fosse um jornal era certo e sabido de que os seus accionistas já teriam declarado falência, fechado as portas e mandado os seus jornalistas procurar emprego em outras freguesias (neste caso apenas um desempregado, dado a escassez de recursos no seu quadro redactorial). Se este blog fosse uma televisão não teria já nenhum anunciante e, creio eu, teria menos audiência que o baby channel da TV Cabo. Aliás, eu acho que tenho razão no que digo porque, quase com seis anos de blog, este ainda não foi visitado (consequentemente ainda menos lido) sequer por 100.00 visitantes. É de facto um número miserável mas que me obriga a respeitar mais ainda quem aqui vem ler. E porque sei que quem cá me vem ler é gente boa e gente bonita é que eu venho aqui de vez em quando trazer novas de alegria. E hoje compete-me fazê-lo e partilhar convosco uma notícia que nos encheu o coração. Nasceu o Manel! O Manel é o primeiro filho de uma jóia que escreve sob o nome de Panamá no blog Chapelaria Janota. O porque nós gostamos muito da Teresa é que nos estamos nas tintas para os blogs que têm dois ou três mil visitantes por dia. Os cinquenta que hoje lerem esta notícia estão com certeza a erguer também a sua taça à felicidade do Manel. E a votar de parabéns a Teresa e o Alexandre.
PS. O Schubert, aqui mesmo ao meu lado, acabou de me dar um enorme miau. E porque isto não é um LTB sabemos os dois, eu e ele, que não me está a pedir para cheirar a comida. Está a relembrar-me que os parabéns são também para os avós e para o tio.
Foto do Manel tirada hoje pela Anita, noiva do tio.
terça-feira, junho 16, 2009
1448. Pessoa e Companhia
Não, do molotov e da gelatina não partilharam, nem tampouco lhes passaram pela garganta a mousse de chocolate, o arroz doce, o semi-frio de natas ou a tarte de amêndoa. Nem o pastel de nata. Não lhes demos paio de porco preto ou presunto de barrancos e muito menos o queijo de Serpa. Mas se eu vos disser que comeram sardinha assada, desfiadinha e sem espinhas, frango e entremeada de novilho no churrasco, peitinhos de frango guizados com legumes além de 25 latas de comida e muita ração granulada, vós amigas leitoras e amigos leitores ides pensar que os afilhados de quatro patas e bigodes do Pre, são uns lordes. Ou uns sires! Pois é, a Cristina, a Maria Faladora I e II (pareceu-nos que um deles é um Mário), a Xubertina Antónia e a Xubertina Clara (Clara por parte da mãe), o Garfield, o Mantorras, O Pai-de-Todos, a Katua, o Pessoa e até o Djaló Júnior entre outros, que não tivemos oportunidade de baptizar pois ainda são infantis, os nossos gatos de rua que nos visitam, não tiveram, como aliás normalmente não têm, razão de queixa dos padrinhos. Em cinco dias tiraram as barriguinhas de miséria e acho que neste momento já estão com saudades nossas. Nós temos saudades deles.
PS. Devia ser obrigatório o(s) blog(s) desta senhora ter(em) comentários. Um dia destes ela escreveu “Devia ser obrigatório dormir-se, pelo menos, uma hora e meia depois de almoço”. E eu teria comentado: “Concordo!".
A foto é do Ricardo, meu sobrinho, e retrata o Pessoa. Cliquem para ampliar para poderem apreciar os olhos carinhosos deste bicho.
segunda-feira, junho 15, 2009
1447. Pequenas decepções
Dantes era selvagem. O chão de xisto, em viés, cortava os citadinos pés, pedaços de seda embrulhados em calçado de fino couro (ena que romântico!). Para a gente rude do campo, isso não fazia diferença e o banho na Tapada Grande era um privilégio de Sábados. Depois de consumido o farnel, às vezes escasso, e a sombra dos eucaliptos convidando à folga ficava o banho para colmatar as calmas (que coisa linda chamar calma ao calor). Nós, os da cidade, calçávamos sandálias de borracha para que não cortássemos a fina epiderme da planta dos pés. Mas os tempos mudaram e tapada se transformou em praia. A praia fluvial da tapada da mina na Mina de S. Domingos é muito bonita e é tão aprazível que existe mesmo, no outro lado da estrada, uma estalagem de 5 estrelas, cujos quartos, com vista para o lago, custam algumas dezenas de contos, sim, dos contos antigos, por noite. Pois este ano fiquei decepcionado. A transformação daquele xisto onde quase não nos podíamos deitar em praia requereu várias, muitas, toneladas de areia ao longo dos últimos anos sendo que é sempre, anualmente, reforçada e renovada. A deste ano é miserável. Um areão grosso, cheio de pequenas pedras, que nos proporciona um andar, no mínimo, bizarro. Espero que o Sr. Presidente da Câmara de Mértola vá lá dar um passeizinho, de preferência descalço e veja a cagada que fez (pronto, quebrou-se o verniz e acabou o romantismo).
quinta-feira, junho 11, 2009
1446. Contrabandos e outras misérias
Disse uma vez o nosso PR quando era primeiro-ministro de que não estava inteirado por se encontrar de férias no Portugal profundo. Nem eu me inteiro ou quero inteirar do que se passa por aí e pelo mundo quando me encontro no mesmo Portugal profundo. Por aqui parece que o tempo não passa, os mesmos campos por cultivar, os mesmos homens e mulheres desempregados, mas agora vários anos mais velhos, sendo que, alguns vivendo de parcas e miseráveis reformas. Alguns revivendo o passado e contando histórias (serão estórias?), alguns deixando testemunhos. Enfim, para que se não perca a memória se vão criando museus. Inaugurados mas raramente visitados porque por aqui estão, no Portugal profundo. De quem parece nunca se quererem inteirar. Se eu cá vivesse pagaria da mesma moeda, não me inteirando de que os senhores de Lisboa se não inteiram de nós. Hoje visitei o museu do contrabando em Santana de Cambas. As histórias de miséria, contadas pelo Diário de Lisboa em Março de 1952, as histórias de miséria em testemunho dos protagonistas. Hoje há outras histórias (serão estórias?) para contar. Umas mais miseráveis que outras. Para que alguém se inteire.
quarta-feira, junho 10, 2009
1445. Without
Erica andevalensis. Provavelmente a muitas de vós amigas leitoras e a outros tantos de vós amigos leitores este nome poder-vos-á não ser familiar. Confesso que a planta, com flor em forma de campânula com pétalas cor violeta, também a mim não me dizia muito até ao dia em que comecei a descobrir o Alentejo profundo. Esta “urze” habita as zonas de minério ferroso, é provável que exista em outras regiões, declaro também que ignoro, mas a verdade é que em Portugal só a descobri na Mina de S. Domingos. Erica andevalensis é também o nome de uma associação cultural. Associação Cultural Erica andevalensis, ACEA, na Mina de S. Domingos. Actualmente ocupando também as instalações do Musical, mesmo por detrás da igreja da Mina, é pólo cultural deste pedaço de Alentejo, que aposto, os nossos amados governantes (agora eu até parecia coreano) ignoram. Hoje, lá nas instalações do Musical, foi inaugurada a exposição de fotografia de Jorge Branco. A exposição tem o patrocínio da ACEA e da C.M. de Mértola, é de justiça dizê-lo. Infelizmente o Jorge confidenciou-me que não acredita muito na internet para a divulgação do seu trabalho mas eu, que acho que ele não tem razão, vim aqui divulgá-lo. E se puderem, tiverem tempo, ficar-vos em caminho (podem mesmo organizar excursões), passem pela Mina de S. Domingos e venham ver a exposição de Jorge Branco.
PS. O título deste post, Without, é também o título da exposição, numa interpretação livre de Os Crimes da rua Morgue de Edgar Alain Poe. “O jeito que ele tem de nier ce qui est et de expliquer ce qui n’est pas”.
sexta-feira, junho 05, 2009
1444. Sméxe?
Hoje tenho vontade de falar de coisas que andam à volta do desporto. E a primeira que me vem à cabeça é o HD. Desde que tenho TV em HD raramente vejo programas que não sejam transmitidos neste protocolo. Infelizmente, tirando a experiência dos jogos olímpicos e outras tímidas tentativas, os nossos canais generalistas nem tão pouco nos dizem quais as previsões para transmitirem em HD. É de facto outra coisa. Experimentem ver um jogo de futebol ou uma partida de ténis.
Por falar em futebol vamos assistir a um roubo sucessivo e permanente de jogadores ao Benfica. Como os jornais desportivos, desde Abril, não param de anunciar novos jogadores que interessam ao Benfica, cada jogador contratado por outros clubes, nacionais ou estrangeiros, será forçosamente roubado ao Benfica. Depois, até ao final da próxima época, em cada jogo que figure um destes jogadores, será também uma constante ouvir-se o comentador “fulano de tal, que esteve quase certo no Benfica, etc etc etc”.
Parece-me que isso já está a acontecer com um defesa direito (ou esquerdo?), um uruguaio que joga na Roménia, que vem para o FCPorto e que já tinha sido vendido ao Benfica por um diário desportivo. Eu por acaso acho que não, que o Benfica não o comprou ao jornal. O que eu acho é que Cissohko, Fucsile, Marec Cheh, Sapunaru, Lucas Mareque, Lino e mais uns quinze defesas laterais que pululam ou pulularam no clube das antas, se andavam a sentir muito sozinhos.
Falei também em ténis e digo-vos que tenho assistido a alguns resumos e a outras partidas (ou pedaços delas) em directo na Eurosport. Eurosport HD, pois claro. Eu sempre pensei, pelos visto enganado, que a terra batida era uma característica do piso. Isto é, o piso é em terra e por força de uma pressão que lhe é exercida por meios mecânicos o pavimento fica batido. Daí terra batida. Pois um dia destes, a tenista russa Kuznetsova caiu e ficou toda suja. Segundo o comentador ficou toda coberta de terra batida. O que a gente aprende.
Apesar de um ou outro lapso, quero aqui deixar a minha opinião sobre a generalidade dos comentadores portugueses do Eurosport, para mim os melhores comentadores portugueses de desporto. Por isso não me custa nada perdoar um tanhamos, em vez de tenhamos, numa reportagem do Giro de Itália. Aliás, Luis Piçarra, Paulo Martins e Olivier Bonamici só são batidos (e isso é discutível) por Marco Chagas no comentário ao ciclismo. O lapsus lingue, que até alguns com pinta de eruditos cometem, foi por mim imediatamente relevado para segundo plano.
Se no futebol já nos acostumamos a algumas adaptações linguísticas quer sintácticas, quer semânticas, naquilo que vulgarmente chamados futebolês, a verdade é que, ao longo do século XX, fomos assistindo a algumas evoluções positivas na utilização dos termos relacionados com esse desporto. Já não se diz corner nem offside, os backs passaram a defesas e os liners passaram a fiscais de linha sendo hoje, por mariquice, chamados árbitros auxiliares. Até o penalty, que é tão giro de dizer (e gritar), passou a grande penalidade ou, em Gabriel-Alvês, a pontapé da marca de grande penalidade. Mas no ténis, amigas leitoras e amigos leitores, ainda há os puristas. E, portanto, não é nada de admirar se virmos um tenista breakar (eles dizem breicar) o serviço ao outro ou responder com bolas muito topspinadas. Mas mesmo a esses puristas eu gostaria de lhes pedir para não dizerem seméxe. É que um smash é um smash é um smash.
quarta-feira, junho 03, 2009
1443. Se eu podia viver sem champanhe? Podia… mas não era a mesma coisa.
O que se dirá a um homem de quem se gosta muito, mesmo muito? Provavelmente dir-se-á, gosto de ti, gosto muito de ti.
O que se dirá a um homem a quem se respeita muito? O mais natural será dizer-lhe que o respeita muito.
O que se dirá a um homem com quem se aprendeu muito? Poder-se-á, por exemplo, dizer-lhe que ele foi o seu mestre.
O que se dirá a um homem de quem se receberam bens inatingíveis de grande valor, como amor, carinho, paciência, cuidados, sacrifício, valores, princípios, sugestões, conselhos e até ralhetes? No mínimo, obrigado.
O que se dirá a um homem que completa hoje 80 anos de vida? Obviamente, Parabéns!
E se esse homem é o nosso pai? Então terá, forçosamente, de ser assim:
Pai, hoje ergo a minha taça de champanhe para saudar o teu 80º aniversário, dar-te os meus parabéns, dizer-te obrigado por tudo quanto foste capaz de me dar, reconhecer-te como meu mestre, fazer-te saber o quanto te respeito e dizer-te que gosto muito, muito de ti. Parabéns pai!
terça-feira, junho 02, 2009
1442. Quem sai aos seus (cof.. cof.. cof...)
Ele perguntou-me pai e tal eu gramava ter uma máquina fotográfica o que é que me aconselhas, como se eu fosse um expert. Aliás, eu sei que para os meus filhos eu sou normalmente um expert em quase todas as matérias, um pai herói e isso deixa-me, claro, muito babado. Mas nem sempre nós estamos à altura das expectativas e como quem não quer a coisa a gente vai à procura, fala com quem sabe, ainda ouve piadinhas, eu tenho uma Canon, oh pá o que é isso? mas a gente finge que não percebe. Mas falar com quem sabe é que é, mesmo que seja teimoso e da Nikon não saia. Pronto quando surgiu a oportunidade, espreitando campanhas aqui e promoções acolá, lá o rapaz comprou a sua Nikon e o pai volta a ser herói, não pela escolha e conselho, mas sim agora pelos primeiros passos na 8ª arte. E para completar o que uma blogger me disse um dia destes, na apresentação do livro do Rafeiro, o seu filho escreve muito bem, agora eu digo que o miúdo também tem jeito para bater chapas.
Olha o passarinho,
Diz xize, diz xize,
Oh rapazinho não mexa a cabeça,
Vá agora todos. Xiiiiiiiiiiizzzzzzeeeeee....
Passou o passarinho e click,
O rapazinho ganhou um torcicolo
E o grupo tem os dentes bonitos,
(menos a menina que usa aparelho).
O queijo está cheio de buracos
Vê-se carga aos ombros nas docas,
E o rato foi apanhado.
E saiu a foto de um velho
Dobrado ao peso dos sacos.
Então, no meio de umas fotos loucas,
O fotógrafo foi premiado!
Versos PreDatado©, Fotografia, para O Livro das Artes
Foto: João Capote (filho de Sir Pre)