quinta-feira, julho 16, 2009

1461. Dominó!


Mestre Jorge, é assim o nome por que ainda o conhecem. Há muitos anos que encostou a fragata mas nunca saiu da beira do rio. Hoje entretém-se a tomar uma cervejinha na Taberna da Lota, onde o Chico já não tem mais rol para assentar os fiados, e a jogar ao dominó. Como o mestre Jorge, muitos outros abandonaram as fragatas e as faluas há já muitos anos. O Josué mantém a dele mas apenas para passeios turísticos no Tejo e o Ti Garoupa, que costumava alugar a muleta aos fins-de-semana para pescarias junto ao pilar, tem-no a doença emagrecido e a vontade de olhar o rio esmorecido, por mor daquela pontada que não lhe sai do meio das costas. Foi Lídia, a filha, quem nos confidenciou, tá acabado o velhote, na sexta à noite quando foi comprar os três decilitros de tinto que lhe durarão toda a semana. Um dia ele se irá primeiro do que a pinga. Meta no rol se faz favor, sô Chico, que no fim do mês fazemos contas. A fábrica de componentes, primeiro alemã e agora dos japoneses, fechou há quase duas semanas e Lídia ainda não tinha arranjado nada. Mestre Jorge, no seu tempo de rapaz ainda chegou a andar embeiçado por Lídia, que era um bom par de anos mais nova. Consta até que fizeram amor no “Lagameças” e se ouviram os gemidos, alguns dizem os ais, de Lídia, numa noite de quarto minguante e calmaria. O Ti Garoupa é que não gostava nada da história, racho o primeiro a quem ouvir dizer isso, mas a sua cumplicidade com Jorge a quem tratava quase como filho não dava margens para muitas dúvidas. Mestre Jorge continua solteiro porque a vida do transporte do sal e de atravessar pessoas para a outra banda nunca lhe deu muito tempo para saias. Dizia ele, porque as más-línguas do cais diziam que o “Lagameças” gemia muitas noites e não era só em quarto minguante. Jogou a última pedra do dominó e puxou uma baforada do cigarro sem filtro. A cerveja estava no fim.

Foto: PreDatado©2009

Sem comentários: