sexta-feira, julho 17, 2009

1462. Brilhos


Já não são de sorriso castanho-escuros e maiores que azeitonas como quando antigamente faziam a delicia das moças da região, Só namoradas teve mais de vinte, diz a mulher quando disso se fala, mas continuam a brilhar como antes quando de uma boa brejeirice ou quando nos relembramos, em contos ao serão, do tempo em que as jovens vizinhas, já ele homem casado, o iam fazer levantar da cama para as acompanhar ao chafariz. Hoje é com alguns “papinhos” e outras rugas que sorriem os olhos do Ti Augusto quando de antigamente falamos também das pescarias, não a pesca às namoradas, mas as pescas no rio, à linha e quando relembra que o pai dele, às vezes já chegado a casa com o grão na asa em noite de sexta-feira, lhe dizia, Augusto amanhã vamos aos polvos, Sim pai, que respondia só para o não contrariar. E é com o mesmo brilho nos olhos, talvez de uma lágrima sentida ao recordar o velhote que o Ti Augusto conta que às seis da manhã em ponto o pai o ia acordar, parecendo mais são do que um pêro, Então vens ou ficas? E lá iam eles aos polvos e recordávamos também as vezes que ali no rio, onde há muitos anos namorou uma moça nas rochas sentados a verem passar os barcos (diz que ainda se lembra dos primeiros vapores do Terreiro do Paço) e a roubar beijos que depois nunca os devolveu, relembrávamos, contava eu, que xarroco, pata-roxa, safio e cação, abrótea que na gíria dos pescadores dali chamavam governo-da-casa, tudo ali se pescava, se possível fosse, numa só manhã. De conversa de pescadores, disse-lhe eu, só faltava o Ti Augusto dizer que pescava também os pimentos, os tomates e as cebolas para completar a caldeirada. Isso não, isso havia com fartura por essas quintas a fora e os olhos voltaram a brilhar enquanto se deliciava com mais uma garfada do ensopado de enguias.

Foto PreDatado©2008

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