650. Outonos da minha infância
O meu pião
Onde estará aquele meu pião? Era pequeno, maneirinho, como nós dizíamos, quando íamos comprá-los à Casa Ramos. Todo, cabia na pequena mão fechada. Era para dar pontaria. Tinha um pionais na cabeça. Chamávamos-lhe o bacelo. “Não tem bacelo? Vai para a quinta do camelo”. Eram assim a brincadeiras dos putos. A guita era de algodão. Essa não se desfiava. As de sisal não prestavam, não davam um bom aperto e, aos poucos, esfarelavam-se. Em cima, uma coleirinha pintada a várias cores. O meu pião tinha uma coleira verde e vermelha, feita com tinta de óleo. “Não tem coleira? Vai para o fundo da algibeira”. Era o código para que não fosse fanado. Havia putos que não compravam piões, fanavam os que não tinham coleira. O meu pião rodava sempre mais de um minuto. Eu jogava-o “à homem”. Um movimento de arremesso forte de cima para baixo. E apanhava-o entre os dedos ou com a própria guita. A mim não me fazia cócegas quando rodava na palma da mão. Era à homem. Eu não jogava à cagadinha. O meu pião rodava mais de um minuto.
Paravas, olhando o jogo do pião.
Num lance, a guita ainda a sibilar,
Pegava-o do chão.
E, com a perícia (já contada),
Punha-o a rodar
Na mão da namorada.
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