sábado, novembro 19, 2005

850. Macaquinho de imitação (IV)

O Mário Almeida emite opinião política que obviamente não é a minha. Mas prezo a sua escrita e a maneira inteligente de expor. Por isso leio diariamente A (sua) Fonte. E ele é tão livre de apoiar Cavaco como eu sou livre de não apoiar. Cá vai com um abraço para o Mário Almeida, uma stand-up comedy, desta feita em português. O PS que se insere no final nada tem a ver com o estilo de A Fonte, é um hábito do PreDatado.

Stand-up comedy

A minha avó que nasceu em 1892 e faleceu em Agosto de 1974 disse-me avisadamente:

- Filho a avó já passou por muitos tumultos, revoluções e contra-revoluções. Viu o cometa, a passagem do século, o assassinato de El-Rei, o Sr. D. Carlos, a implantação da República, o Sidónio Pais (aqui ela cantava qualquer coisa como o Sidónio Pais vestidinho à militar e em outras ocasiões cantava, de cor, o hino da Maria da Fonte), a ascensão do Salazar, passei pelas privações da primeira e da segunda guerra mundial, tive de emigrar da serra algarvia para Lisboa, “vi” matarem o Humberto Delgado, o meu compadre foi preso e morto no Tarrafal, vi chegar o homem à Lua, e agora o 25 de Abril. Mas meu amor, não te deixes iludir. Os ricos vão continuar ricos, talvez cada vez mais ricos e os pobres vão continuar pobres, talvez cada vez mais pobres. Vão ser sempre os mesmos a mandar.

V. Hernandez


PS. A avó de V. Hernandez nunca assistiu a uma votação verdadeiramente democrática o que a justificaria ter feito um juízo de valor, presumivelmente errado, de que seriam sempre os mesmos a mandar. A avó de Hernandez provavelmente nunca pensou que mesmo sendo o povo a escolher os seus representantes que seria este mesmo povo que gostaria de ter sempre os mesmos a mandar. Mesmo quando apenas o pescoço e só o pescoço sai da lama onde os “sempre os mesmos” nos enterraram, este povo vai continuar a votar nos mesmos. Até sufocar!

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