997. O dia seguinte
Ele parou ali o carro porque ali havia um quiosque. E ao lado, um pequeno café com três mesas na esplanada. Tudo junto perfazia as suas necessidades de espaço, de tempo e também de um café e de um cigarro. Não poderia demorar mais do que meia hora já que não era seu hábito chegar atrasado a nenhum compromisso. Estava numa pequena vila, num subúrbio da grande cidade.
Isto foi hoje, nos arredores de Lisboa.
Nos subúrbios podem-se encontrar pequenos cafés com só três mesas na esplanada. E podemo-nos sentar, com o jornal comprado, mas ficar a olhar o garoto que sozinho dá uns pontapés na bola em cima do passeio onde uma senhora, que aparenta não ter mais de 40 anos, passeia um caniche. Podemos ver as duas vizinhas que se encontram e não se cumprimentam apenas, mas que ficam ali uns minutos na conversa. Talvez a dissertar sobre o custo de vida, atendendo à alcofa de onde saía uma rama de nabos. Na porta da padaria em frente, talvez reformado, um idoso suporta numa mão uma bengala e na outra um saquinho plástico com quatro papo-secos. Também passou o carteiro que cumprimentou cada um sem nunca abrandar o passo, excepto na porta de cada prédio. Puxou de um segundo cigarro, olhou furtivamente a capa do jornal acabado de comprar, levantou a cabeça e interrogou-se porque é que toda aquela gente, inclusive o fulano que estava a aspirar o carro, junto á janela de onde saía um cabo eléctrico por baixo da persiana, assobiava, interrogou-se, continuo narrando, porque é que haveria tantos sorrisos nos rostos daquelas pessoas. Apagou a beata no cinzeiro improvisado com uma taça de gelado, dobrou o jornal, olhou o relógio e levantou-se. Ergueu a cabeça e deu uma olhada em redor. E viu em cada varanda uma bandeira portuguesa.
Não queria nem deveria chegar atrasado. Ligou a ignição do carro e o rádio onde falavam de futebol.
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