quinta-feira, fevereiro 19, 2009

1372. Uma fuga para casa


O cheiro do Aipo, o odor do manjericão, os perfumes do rosmaninho e do alecrim, o paladar do gengibre, o picante que nos vem de Cayenne, os poejos e o coentro, a textura da couve lombarda, o desafio da utilização das trufas, o corte do salmão e do arenque, as ovas do esturjão, os tintos alentejanos e os brancos de Palmela, a picanha e o acém, o lombo e a vazia, o pernil do porco e a sua orelha e de novo a couve roxa e a segurelha, o nabo e a cenoura, a cebola e o alho.

Foram eles acima descritos os grandes culpados. Eles e os escritores que nas suas fugas, nas suas voltas ao mundo, nas suas aventuras me incentivaram a descobrir, de Norte a Sul, outras cores e outros sabores. E se hoje não lamento um Rioja ou um Valdepeñas, um Bordeaux ou um Côte du Rône, um Val Maipo ou um Val Rapel, ou Napa Valley ou um Santa Clara quando tenho em frente um Terras do Sado, um Estremoz ou um Borba, um Cortes de Cima ou um Terras Durienses, não lamento também a demora que se faz sentir em me voltar a sentar à mesa com o goulash ou o bife tártaro, o fois gras ou o camembert, o eisbein ou a sauerkraut, a paella ou o cochinillo, o sushi ou a tempura. Tenho no Queijo da Serra e no de Azeitão, nas favas com entrecosto e no robalo na grelha, na caldeirada e na chanfana, os sabores mediterrânicos onde me estacionei. E tenho azeite, do mais puro que se come por esse mundo inteiro.

Mas tenho de agradecer, mais uma vez aos escritores todas estas descobertas. Hoje já velho e cansado, pousei os tachos e as facas e vivo dos prazeres que me trazem à mesa. E se agradeço ao meu amigo Hemingway me ter ajudado a descobrir o mojito e o daiquiri, peço-lhe desculpa por hoje não o acompanhar com Compay Segundo. Não tinha o disco à mão e o Camané sabe de um rio…
__________


Estava aqui o lindo PreDatado posto em sossego, dos meus anos colhendo doce blog, num engano de… onde é que eu já li isto? Quando o Finúrias, aliás o Sr. Ministro da Soltura, me e-mailou desafiando-me a partir de um texto que eu escrevesse outro. Fez este desafio a vários blogers e tem vindo a publicar lá no Ministério. O texto que ele me propôs e do qual saiu o que leram acima, foi o seguinte:

“Pois é, eu fugi de casa quando ainda não tinha vinte anos. Foram os escritores que me obrigaram. London, Dreiser, Sherwood Anderson, Thomas Wolfe, Hemingway, Fitzgerald, Silone, Hamsun, Steinbeck. Encurralado, barricado contra a escuridão e a solidão do vale, eu sentava-me à mesa da cozinha por trás de pilhas de livros da biblioteca e ouvia as vozes que de lá me chamavam para conhecer outras cidades.” In A Confraria do Vinho, John Fante


Saravah Tozé!

Foto encontrada na net sem designação de autor

Sem comentários: