sexta-feira, abril 23, 2004

Estacionamento

Prometi-te, cá vai a história. Eu já fui assistir a uma sessão do Parlamento. Ao vivo! Parece cretino que, ao fim de trinta anos de democracia, eu esteja aqui a dizer que já assisti a uma reunião plenária dos nossos representantes. Mas é verdade, fui só a uma e fui forçado. Já assisti a horas e horas a fio de debate parlamentar, mas, ao vivo, nunca lá tinha estado. Tudo por causa do estacionamento. Fui almoçar a S. Bento, ao restaurante de uma ex-colega de uma das empresas onde trabalhei. Naquele tempo, no tempo em que eu ainda estava empregado, tinha um bom carro. Marca “nobre”, alta cilindrada, ainda brilhante de novo, poderia ser o carro de um deputado. Voltas e mais voltas e lugar para estacionar, népias. Vai já para ali. Um carro destes pode estacionar no parque da AR que ninguém desconfia. Os outros que lá estavam, tinha um dístico identificador. Mas caramba, um deputado da nação tem direito a ter um esquecimento, ou não? Quando regressei do almoço, tinha a bloquear-me, o carro, este sim de um senhor deputado. E agora? Não poderia ir chamar a polícia. Seria lata a mais. E dinheiro a menos, pois sem multa não passaria. E além disso, alguém iria dizer lá, no parlamento, aos microfones: “O Sr. ou Sra. Deputada que tem o carro a bloquear a saída de um pacato cidadão que acabou de almoçar, faça o favor de ir retirá-lo”? Aguentei-me à bronca. Tomei um táxi e fui trabalhar. Às sete da tarde, o meu carro ainda estava bloqueado. Fui então assistir ao resto do debate parlamentar. Discutia-se votava-se o “totonegócio”. Só quando o Dr. Almeida Santos deu por terminada a sessão, já passava largamente das oito, é que toda a gente debandou da sala. O Sr. Deputado, dono do carro bloqueador, chegou primeiro do que eu, ao parque. Depois saí calmamente a assobiar, como se nada fosse comigo.

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