segunda-feira, novembro 17, 2008
1293. Late Night Sounds
Normalmente quando vou aos fados tomo sempre em consideração alguns aspectos periféricos. Menos importante do que o local onde vou ouvir cantar é o que esse lugar me proporciona – o conforto, o que vou comer, o que vou beber, com quem vou estar. Depois, obviamente, quem vai cantar.
Desta vez a minha escolha não tomou em consideração particular nenhum destes aspectos. Em primeiro lugar ir aos fados praticamente na nossa aldeia, nos confins do Alentejo não é coisa de todos os dias. Em segundo, sabíamos que não iríamos ter uma mesa só para nós (eu e a minha mulher) mas teríamos que a partilhar com desconhecidos. Por fim, da comida conhecíamos o menu e os fadistas eram, para nós, uma autêntica surpresa. Fizemos a marcação e fomos.
A Casa do Guizo fica no Monte do Guizo, assim como quem diz com entrada pela estrada da Moreanes, que é um povo entre Mértola e a Mina de S. Domingos… desisto, vejam no Google Earth. Espaço amplo mas confortável, empregadas simpáticas, serviço eficiente. Entradas com os tradicionais mini pastelinhos de bacalhau e rissóis que não destoavam. Chouriço assado e requeijão de ovelha, daquele leite com que se faz o queijo de Serpa. O jantar, um belíssimo e delicioso creme de coentros e bochechas de porco estufadas, acompanhadas de arroz de ervilhas e cenoura e castanhas no forno. Tudo muito bem apaladado. Na minha mesa o vinho do jarro, que já de si não era de todo recusável, foi gentilmente substituído, pela gerência, por uma Vinha do Monte da Herdade do Peso, tinto, da Vidigueira. Aliás foi a única bebida que bebi durante toda a noite.
Na mesa com mais dois casais, com quem viemos a travar conhecimento, a conversa foi agradável e simpática. Quero dizer que o facto do nosso vinho de jarro ter sido substituído pelo referido se deveu à iniciativa de um destes compagnons de fado.
E por falar em fado, cantaram João Carlos, Joana Baeta (na foto) e João Roque. Este é também o elenco fixo da Tasca do Chico no Bairro Alto. João Carlos é já, digamos, um consagrado das noites do fado castiço, fado vadio, do Bairro Alto. Joana Baeta com 18 deu um ar jovem (não o fosse ela mesmo) ao grupo, uma voz bonita e colocada (que para mim merecia ser aperfeiçoada com algumas aulas de canto). É uma promessa em flor e um potencial talento a não se deixar perder. João Roque, por sinal filho do João Carlos, ganhou a Grande Noite do Fado no Teatro S. Luiz em 2008. Eu não assisti a essa Grande Noite, mas pelo que ouvi ontem, foi merecido e mais não preciso nem posso falar porque é hora de silêncio que se vai cantar o fado.
Foto: PreDatado
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