quinta-feira, novembro 20, 2008


1296. Vamos ao Teatro

Acto Falhado

I Acto

Personagens: Casal nº 1, Casal nº 2, Homem do Casal nº1, Mulher do Casal nº 2, Narrador
Cenário: Sala com lareira acesa, um amplo sofá, 2 cadeirões, uma mesa de centro com um arranjo de flores silvestres, uma garrafa de vinho e dois copos, uma carpete de Arraiolos, na parede um quadro de Munch e outro de Modigliani. Descaído para um canto da sala entre a lareira e o sofá, uma mesa de jogo e quatro cadeiras. Dois copos com vinho tinto e um baralho de 52 cartas. Os casais nº 1 e nº 2 sentados em roda da mesa desemparelhados e em cruz. À direita da Mulher do Casal nº2, senta-se o Homem do Casal nº1.

Narrador: O jogo decorria sem turbulências. Naquela casa jogava-se silenciosamente. De vez em quando um sorriso dos protagonistas dependendo de como o jogo lhes estava a correr. O som do crepitar da lenha na lareira e de vez em quando o desviar de uma cadeira facilitando os personagens a reabastecerem os copos e também o correr do vinho da garrafa eram os únicos sons naquele pacato mas terno ambiente.
O Homem do Casal nº 1, sabe-se lá com que intuito, se o de não tirar os olhos do decote da Mulher do Casal nº 2 ou apenas o do batoteiro gesto de espreitar o jogo da adversária, passou quase todo o tempo da partida de cabecinha à banda a olhar para o colo da opositora. Esta já deveras irritada intervém.

Mulher do Casal nº2Se volta a despir as calças… - roborizou quase instantaneamente. Ainda lhe saiu a emenda – Se volta a espreitar-me as cartas, eu desisto – mas já não havia volta a dar-lhe. O acto (falhado) estava consumado. Com quatro disfarçados mas nervosos e amarelos sorrisos a mesa terminou o jogo.

II Acto

Personagens: O narrador
Cenário: Uma casa, várias divisões.

O narrador levanta-se, pega na toalha do banho e vai em cuecas para a varanda.
O narrador dirige-se ao bar da sala e pega numa garrafa de whisky. Volta para trás, coloca de novo a garrafa no bar. Ele andava à procura dos óculos.
O narrador procura exaustivamente qualquer coisa no frigorífico. Lembra-se de repente que é na casa de banho que costuma lavar os dentes e guardar a pasta.
O narrador informa o estimado público que estes não são actos falhados, mas pequenos lapsos advindos da PDI.

Cai o pano.

PS. 1. Acto falhado e não Ato falhado porque o narrador ainda não lhe apeteceu começar a aplicar o Acordo ortográfico. Só o fará quando reparar que os nossos irmãos do lado de lá do Atlântico deixaram de escrever lingüiça e escrevem agora, linguiça!
2. PDI é isso mesmo que vocês estão a pensar.

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