domingo, janeiro 04, 2009

1327. Porque hoje é Domingo ou de como eu não me tornei craque da bola


Tinha eu acabado de fazer 17 anos nesse Verão em que fui assistir a mais um treino de captação, onde iria pontuar o meu irmão Carlos, tipo afoito e corajoso, que voava como um gavião quando uma bola lhe surgia pelos ares ou rastejava feito jacaré mas com a agilidade de um felino quando era necessário ir ao chão roubar a bola nos pés do adversário. Tinha a mania de que era guarda-redes e era-o mesmo. E dos bons.

O Carlos é mais novo do que eu sendo que, eu próprio, aos 17 anos, já não teria idade para prospecções / captações. Disso mesmo informei os, à época, membros da equipa técnica juvenil do Sporting, Osvaldo Silva e Hilário, e ainda de que a minha presença ali era apenas para assistir ao treino do meu irmão. Isso não foi do agrado dos ditos técnico pelo que ou eu me equiparia e seguia com os outros para o campo ou teria de ir embora pois os treinos de captação não tinham público. Assim, mais ou menos contrariado, vesti um equipamento, calcei umas chuteiras e lá fui “com a turma” como se referia à malta o brasileiro e malogrado Osvaldo Silva.

Antes do início da pelada coloquei-me estrategicamente na bancada dos “excedentes”. Aos poucos, por períodos de 5 minutos iam sendo mandados para o balneário aqueles que a dupla técnica achava que não serviriam para continuar a observação. Quando chegou a minha oportunidade saltei para o campo e joguei cerca de 1 hora. A ponta direita. No final do jogo, fui chamado à presença dos dois senhores que me disseram, Tu ficas, estarás cá no dia tal às tantas horas para o segundo treino. Fiquei, obviamente, babado.

Mas houve, há e, creio que já não tem cura portanto, haverá sempre nas minhas tomadas de decisão um dilema entre a razão e o coração. E se por um lado hoje eu poderia figurar nalguma dessas galerias de notáveis do pontapé na bola, a verdade é que um fanático BENFIQUISTA não poderia, sob pena de trair o seu Coração, envergar uma camisa às ricas verde-brancas dos lagartos. E logo aí a decisão ficou tomada. Não voltaria.

Mais tarde ainda tentei o meu ingresso no Almada, clube da minha terra. Mas estava lá um tipo à frente dos jovens, de que obviamente hoje ninguém sabe o nome, que se achou mais conhecedor que o Hilário ou o Osvaldo e me pôs na cabine ao intervalo. E até poderia ter sido um daqueles meus maus dias, quem sabe, mas foi o suficiente para eu nunca mais pensar na bola a sério. Ainda assim dei os meus toques até aos 45 anos, altura em que uma teimosa dor ciática apenas me permite ver o futebol na bancada.

Foto do Rui Costa: infelizmente não sei de quem é, encontrei na net sem referências ao autor

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